
Por mais que tentemos entender a força que move certos indivíduos, há figuras que ultrapassam o simples ato de informar — tornam-se faróis em tempos de nevoeiro. José Roberto Guzzo foi um desses raros faróis. Em uma época em que a imparcialidade virou exceção, Guzzo permaneceu fiel à sua bússola moral: crítica dura, texto limpo, ideias afiadas.
“A liberdade de expressão vale para todos — e principalmente para os que dizem coisas desagradáveis.” Foi com esse espírito que enfrentou governos, cortes supremas e dogmas ideológicos. Não buscava agradar, mas incomodar. Não escrevia para a massa, mas para a consciência.
Sua trajetória fala por si: da fundação da Veja ao comando da Exame, passando por colunas memoráveis no Estadão e na Oeste. Foi o único jornalista brasileiro presente no encontro entre Nixon e Mao Tsé-Tung — e trouxe ao Brasil uma visão clara sobre os jogos de poder. Como bem disse: “Jornalismo não é o que se pensa — é o que se vê.”
Guzzo acreditava que o jornalismo de verdade não se curva: “A função do jornalista é lembrar que o rei está nu.” E ele lembrou. Repetidamente. Com coragem, estilo e uma dose generosa de ironia, soube dizer o que poucos ousavam.
Hoje, diante de sua partida, não há como não sentir que se apagou uma das vozes mais lúcidas do país. Mas também é certo que suas ideias continuarão a ecoar. Seus textos seguirão sendo lidos, relidos e discutidos. E toda vez que alguém se recusar a calar diante do absurdo, haverá um pouco de Guzzo nesse gesto.
A imprensa perdeu um gigante. O Brasil perdeu um crítico insubstituível. Nós, leitores, perdemos um mestre que nunca teve medo de dizer a verdade — por mais incômoda que fosse.
Nós seguiremos firmes na missão de levar adiante o legado deste grande brasileiro.
Obrigado, Guzzo! Descanse em paz, você cumpriu sua missão.
Editoria Vida Destra
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