Primeiramente devo esclarecer que não é objetivo deste artigo negar a existência da doença, mas tão somente analisar o real impacto da mesma na população brasileira. Diante desse cenário que vivemos em 2020, onde os jornais espalharam o terror e o pânico, tornando-se verdadeiros obituários, resta uma análise fria dos números. O aumento do número de mortos era praticamente comemorado e tudo transformado numa questão política, como por exemplo o tratamento precoce.
Meu objetivo ao analisar estes números foi tão somente entender se as medidas tomadas possuem realmente justificativas plausíveis, se houve realmente uma mudança de paradigma nos óbitos do país que justificasse tanto autoritarismo e controle da população. Mas também não quero aqui entrar na discussão se os números estão certos, se os testes possuem alto número de falso positivo, se a pessoa veio a falecer de COVID-19 ou com COVID-19, e se a utilização do tratamento precoce é eficaz ou não, mas somente analisar os números oficiais.
Existe um conflito de entendimento sobre o conceito de pandemia, vamos a sua definição:
“Epidemia que se dissemina por toda uma região. Doença infecciosa e contagiosa que se espalha muito rapidamente e acaba por atingir uma região inteira, um país, continente, etc.” Sua etimologia tem origem no grego pandemias de “todo o povo”.
Ou seja, uma pandemia não leva necessariamente ao aumento do número de mortos de uma população, mas trata-se de uma doença de contágio rápido, se espalhando para toda a população. Enfim, considerando essa definição, sim, a COVID-19 é uma pandemia, assim como qualquer gripe como a H1N1. Mas o ponto a ser abordado: trata-se de uma doença que requer as medidas autoritárias impostas à toda a sociedade, como o lockdown por exemplo?
Em linhas gerais, o que sabemos até o momento, é que cerca de 80% das pessoas contagiadas são assintomáticos. Em matéria publicada na Agência Brasil¹ do dia 14 de janeiro, o Brasil possuía 8.324.294 de pessoas infectadas, e se considerarmos que só devem estar sendo testadas pessoas que sentiram algum sintoma, já que não está havendo testagem em massa, subentende-se que o numero real pode ultrapassar 41.000.000 de infectados. Desses, cerca de 7.339.703 já se recuperaram enquanto o número de óbitos era de 205.964. Só por esses números podemos dizer que estamos vencendo essa batalha, mesmo com o pouco conhecimento sobre a doença.
Os dados para análise foram colhidos no site do Registro Civil no dia 13/01/2021². Esses dados podem sofrer atualizações, mas em geral serão pequenas alterações com pouca capacidade de mudar o resultado global da análise.
Inicialmente precisamos ter em mente que a população brasileira cresce todo ano, independente do total de óbitos. Portanto, desta forma, iniciarei a análise por meio do total de óbitos cujos dados disponibilizados são desde 2015.
Nessa primeira tabela fica evidente que a população vai aumentando e os óbitos também. Podemos observar que a taxa de crescimento da população possui uma certa tendência de redução, mas a taxa de crescimento de óbitos não apresenta qualquer tendência, possuindo uma flutuação muito ampla de um ano para o outro. Contudo, a população segue crescendo assim como o número de óbitos.
Podemos também observar nesta tabela que a taxa de crescimento de óbitos de 2019 para 2020, apesar de ter sido a maior para o período analisado (14,69%), foi muito pouco maior do que a taxa de crescimento de 2015 para 2016 (14,22%). Alguém lembra se houve esse terror e pânico em 2016? Foi justamente o ano que o Brasil passou de 1 milhão de mortos por ano e dá para imaginar se isso acontece nesse governo…
Nesse gráfico temos no eixo vertical a população brasileira e no eixo horizontal o total de óbitos, onde a relação diretamente proporcional de crescimento de ambos os eixos fica ainda mais evidente. Cada ponto representa um ano e a linha azul representa a tendência dessa distribuição entre a população e os óbitos. Esta relação direta entre população e óbitos é tão forte que o coeficiente de regressão R² da linha de tendência é de 0,9523, sendo que se todos os pontos estivessem perfeitamente alinhados sobre a linha o coeficiente seria igual a um.
Seguindo a lógica, resolvi aprofundar a análise na causa desses óbitos e para isto a base de dados nos disponibiliza somente os dados de 2019 e 2020. Considerando que o número de óbitos totais do país cresce anualmente junto com a população, espera-se que guardadas as devidas peculiaridades, as mortes por cada causa também cresça anualmente. A expectativa é que ano após ano, o numero de mortes por infarto ou septicemia, por exemplo, aumente e acompanhe o crescimento da população e dos óbitos totais.
Nesta tabela, a primeira informação que deve nos chamar atenção é que houve uma morte por COVID-19 em 2019, e isto está registrado, mas não vi ninguém dando qualquer explicação a respeito. A segunda informação que precisa ser considerada é que a COVID-19 possui semelhança com doenças respiratórias, por ser uma gripe e ter como principal alvo os pulmões. Se olharmos para a pneumonia, a principal causa de óbito definido, em 2019 houve praticamente o mesmo numero de mortos que por COVID-19 em 2020, cerca de 194.000. Em 2019 alguém lembra de usar máscara nas ruas ou de não ter mandado os filhos para às escolas?
Outra questão que chama a atenção são os óbitos por insuficiência respiratória, pneumonia e septicemia, doenças que tiveram redução de 4,58%, 20,49% e 7,96% respectivamente, reduzindo a soma dessas mortes em 56.027 em relação a 2019. Como visto, se a população aumenta os óbitos também deveriam aumentar, qual seria a possibilidade destas 3 doenças, dentre elas a mais letal que é a pneumonia, reduzir o número de mortes de um ano para o outro?
Podemos também excluir os danos do COVID-19 ao analisar estes dois anos sem ele. Em 2019 teriam sido registrados 1.170.747 óbitos, enquanto em 2020 teriam sido registrados 1.156.110 óbitos, ou seja, uma redução de 14.636 óbitos ou 1,25%. Apesar da série histórica ser muito pequena para afirmar, considerando a relação entre aumento da população e o aumento dos óbitos, me parece muito pouco provável que isso possa acontecer, qual seja, aumentar a população e diminuir o número de óbitos. Por meio de uma linha lógica de raciocínio, excluindo o efeito da COVID-19, o número de mortos das demais causas deveria aumentar por si só e não diminuir, e o total ser acrescido dos óbitos por COVID-19.
Enfim, como observa-se em uma análise rasa da situação, podemos afirmar que:
- Trata-se de uma pandemia por ser uma doença infecciosa de rápido contágio;
- Estamos vencendo a batalha, já que o número de recuperados é 35 vezes maior do que o de óbitos;
- Apesar de ter sido o ano de maior crescimento do número de óbitos da pequena série analisada, não houve mudança significativa na relação entre óbitos totais para população brasileira, tendo o ano de 2020 mantido a proporção de crescimento dos 5 anos anteriores;
- A pneumonia teve número de mortes em 2019 praticamente igual ao do COVID-19 em 2020, cerca de 194.000 mortes, sem que qualquer alarde fosse realizado pela mídia ou qualquer medida autoritária fosse tomada pelo poder público;
- Como uma pessoa só pode morrer por uma causa, diante da redução dos óbitos por pneumonia por exemplo, aparentemente, pessoas que morreram por COVID-19 já estariam comprometidas por outras causas;
Por fim, ficam as perguntas:
- Se ninguém me contasse a história de 2020 e eu analisasse os dados do país, eu falaria que houve uma pandemia terrivelmente mortal?
- Medidas autoritárias e de cerceamento de liberdade se justificam diante dessa realidade?
Referências
Borges, para Vida Destra, 19/01/2021. Sigam-me no Twitter! Estou à disposição para comentar e repercutir os dados apresentados! @ABorges78
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Quando há números, a “figura” muda.
Na excelente análise estatística de @ABorges78 sobre a pandemia em números, só posso dizer a realidade é nua e crua, morreu de Covid ou com Covid.
Excelente análise, parabéns! Artigo lido e compartilhado!
Tem um ponto pouco conhecido: os dados do CRC não batem com os da DataSus, que variam relativamente pouco (1,6% a.a. em média). Em 2015, o CRC registrou 29% menos óbitos e em 2019, 7% menos.). Tudo indica que o CRC tinha um problema sério de subnotificações que persiste, mas agora é menor.