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A polícia do pensamento está aqui

Fonte: SPIKED Online
Título Original: The thought police are here
Link para a matéria original: Aqui
Publicado em 1º de fevereiro de 2022
Autor: Brendan O’Neill
Critique o lobby trans e a polícia aparecerá para ‘verificar o seu pensamento’.
Há um uso excessivo das temáticas de George Orwell. Confesso-me culpado, eu também. Ainda assim, há momentos em que a referência a[o livro] 1984 é a única a fazer sentido. E um desses momentos foi este aqui, em que a polícia questionou a assistente social escocesa Nicola Murray. Murray divulgou uma declaração dizendo que sua instituição de combate à violência doméstica não mais encaminharia mulheres ao Edinburgh Rape Crisis Centre devido aos ‘comentários profundamente preocupantes’ externados pela mulher trans que dirige o centro. E então a polícia bateu à sua porta. “Precisamos conversar com você para avaliar qual pensamento seu fundamentou a sua declaração”, disseram para Murray. Policiais apareceram na casa de uma mulher para interrogá-la sobre o ‘pensamento’ dela? Sim, precisamos de Orwell para isso.
O pensamento criminoso de Murray foi se sentir desconfortável com os comentários feitos por Mridul Wadhwa, a mulher trans que é CEO do Edinburgh Rape Crisis Centre (ERCC). No ano passado, Wadhwa afirmou que algumas mulheres vítimas de abuso sexual e estupro eram ‘pessoas fanáticas’, cuja intolerância seria questionada caso procurassem o centro de crise em busca de ajuda. A violência sexual ‘não é um crime passível de distinção’, disse Wadhwa. Ele ‘acontece também com pessoas fanáticas’. E ‘se você traz [para o centro de crise] crenças inaceitáveis e discriminatórias por natureza, nós começaremos a trabalhar com você na sua jornada de superação do trauma… mas espere também que seus preconceitos sejam questionados’. Em resumo – se você for uma mulher que não acredita que alguém nascido homem se tornou uma mulher, e que não quer ver homens de qualquer tipo em um centro de combate ao estupro, então você será uma ‘fanática’ e sua terapia para superação do trauma virá acompanhada de palestra identitária.
Não surpreende que muitos ativistas da luta contra a violência sexual tenham ficado horrorizados com os comentários de Wadhwa. Na minha opinião, a simples ideia de um centro de combate ao estupro ser dirigido por um homem biológico é bem perturbadora. No entanto, é absolutamente deplorável o fato de que esse homem biológico também se regozije de marcar algumas vítimas de estupro como ‘fanáticas’ que, essencialmente, precisam ser reeducadas. Mulheres procuram o centro de combate ao estupro para obter assistência urgente após uma experiência terrível, e não para serem interrogadas sobre o quanto estão cientes das últimas narrativas e decretos do excêntrico culto à fluidez de gênero.
Murray dirige o Brodie’s Trust, uma instituição que fornece ajuda às mulheres que sofreram aborto por causa de violência doméstica ou porque foram forçadas a fazê-lo. Em setembro, na esteira dos comentários de Wadhwa, ela disse que o Brodie’s Trust ‘não pode, em sã consciência, enviar mulheres vulneráveis ao [ERCC]’. Ela enfatizou a questão perfeitamente razoável de que não compete às instituições de combate à violência sexual policiarem os pensamentos de mulheres vulneráveis. ‘Não é da nossa conta qual religião nossas usuárias professam, nem o que pensam sobre sexualidade [ou] política’, afirmou. E então declarou que não mais ‘encaminharia’ mulheres vulneráveis a um centro cuja CEO estava ameaçando, explicitamente, policiar e corrigir as crenças de mulheres vulneráveis.
A polícia, porém, não viu suas declarações como razoáveis. Em novembro, detetives de Edimburgo bateram à porta de Murray. Eles tinham em mãos capturas de tela de seus tuítes e uma cópia impressa da declaração feita pela Brodie’s Trust. Pense nisso – policiais de verdade imprimiram a declaração feita por uma instituição de caridade e foram até a casa da fundadora da instituição para conversar com ela sobre tal declaração. Isso é coisa de republiqueta de bananas. Os oficiais garantiram a Murray que ela não havia dito nada de ‘odioso’ – ‘não há crime aqui’. Mas, então – perguntou ela –, por que foram até a casa dela carregando cópias impressas de seus comentários? ‘Porque precisamos conversar com você para avaliar qual pensamento seu fundamentou a sua declaração’, responderam.
Isso é ação de polícia do pensamento. Na Inglaterra do século 21, oficiais da lei acreditam que têm o direito e a responsabilidade de sondar as mentes das pessoas e editar pensamentos problemáticos – por exemplo, que não devemos nos referir às vítimas de estupro como ‘fanáticas’, nem as repreender por suas crenças supostamente retrógradas. Não é a primeira vez que a POLÍCIA DO PENSAMENTO identitário atacou pessoas cujas opiniões são desaprovadas. Quem pode esquecer do caso Harry Miller, que foi contatado pela polícia de Humberside em 2019, após ter retuitado versos humorísticos de ceticismo à transexualidade? Miller ouviu que não havia cometido crime, mas, mesmo assim, os policiais tiveram que ‘verificar [seu] pensamento’. Checagem de pensamento parece causar menos pavor do que polícia do pensamento, mas é a mesma coisa.
A Escócia, em particular, aparentemente tem um problema sério com o autoritarismo identitário. O país se tornou a tirania barata do pensamento correto. Juntamente com Nicola Murray, há também Marion Millar, que foi presa no ano passado por comportamento ameaçador para com certos indivíduos, agravado por preconceito à identidade transgênero. Em outras palavras, ela é crítica do plano de governo escocês para introduzir a autoidentificação de gênero. As acusações contra Millar foram retiradas em outubro, quando repentinamente ficou evidente para o oficialato escocês que perseguir uma mulher por suas crenças políticas não pegava bem.
A Escócia sob o SNP [Scottish National Party] também aprovou uma lei de discurso de ódio, extremamente controversa, que pode interferir seriamente com a liberdade de expressão. Essa lei puniu fãs do futebol por slogans e canções ‘ofensivos’. O partido flertou com a ideia de atribuir uma ‘pessoa indicada’ pelo Estado para vigiar o bem-estar de cada criança nascida na Escócia. E suas instituições parecem totalmente capturadas pela ideologia implacável e intolerante do transexualismo. A polícia escocesa confirmou, recentemente, que registrará estupros cometidos por homens que alegam ser mulheres caracterizando-os como se cometidos por mulheres. Um apagamento da realidade e uma manipulação da linguagem, ouso dizer, dignos do Grande Irmão. Como JK Rowling bem resumiu: “Guerra é Paz. Liberdade é Escravidão. Ignorância é Força. O indivíduo com pênis que estuprou você é uma mulher’.
A verdade mais ampla e mais embaraçosa, aqui, é que não são apenas uns poucos policiais super entusiasmados de Edimburgo e Humberside que estão se engajando na checagem de pensamento. A própria ideologia identitária é uma espécie de polícia do pensamento. E a ideologia trans quase sempre está na vanguarda dessa polícia do pensamento. De fato, a novilíngua da visão de mundo trans, que nos convence a usar pronomes pessoais da preferência do indivíduo e a dizer coisas como ‘pessoas com útero’ – em vez de mulher – e ‘pessoas que amamentam’ – em vez de lactantes, [essa novilíngua] não é, como alegam os ativistas, sobre garantir que as pessoas trans se sintam respeitadas e valorizadas. Em vez disso, trata-se de controlar como o restante de nós pensa, bem como o que falamos, sobre as questões de sexo, gênero, família, comunidade e muito mais. O propósito da guerra das palavras ‘problemáticas’ é o controle do pensamento. Afinal, se você modificar a linguagem que as pessoas estão autorizadas a usar, você também mudará como elas pensam.
Sem firulas, isso também é 1984. ‘Não vês que todo o objetivo da Novilíngua é estreitar a gama do pensamento?’, diz o torturador O’Brien para Winston Smith. ‘No fim, tornaremos a crimidéia literalmente impossível, porque não haverá palavras para expressá-la.’ Eis para onde estamos indo com as questões de sexo e gênero – para uma situação em que tantas palavras terão sido apagadas, ou problematizadas, ou consideradas ‘impróprias’, que será difícil até mesmo pensar certas coisas – como, por exemplo, que as pessoas com pênis são homens, que o sexo biológico é real e que as vítimas de estupro não devem ser rotuladas de ‘fanáticas’. Para salvar o livre pensamento, precisamos nos levantar contra cada simples ataque à linguagem. ‘Mulher’, ‘homem’, ‘mãe’, ‘lactante’, ‘estupradores são machos’, ‘os comentários de Wadhwa são profundamente preocupantes’ – continue dizendo tudo isso; continue usando as palavras certas.
*Brendan O’Neill é redator-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show.
Traduzido por Telma Regina Matheus, para Vida Destra, 05/02/2022. Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail [email protected] ou Twitter @TRMatheus
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