Somos unânimes em afirmar que o advento e a popularização das redes sociais mudaram a forma como as pessoas consomem informação.
Se na era das publicações impressas nem todos consumiam informações publicadas por estas mídias, preferindo a popular televisão, com as redes sociais os antigos jornais e as revistas, antes impressas e consumidas por um público restrito, ganharam maior alcance, chegando a pessoas que antes não conseguiam alcançar.
Mesmo com o aumento do alcance proporcionado pelas redes sociais, os jornais, revistas e a própria televisão ainda padeceram frente à revolução proporcionada pelas redes sociais, que não apenas permitiram que mais pessoas passassem a consumir informações e notícias mas também permitiu que os leitores e expectadores passassem a interagir com os veículos de mídia, deixando de ser apenas consumidoras e também se tornando produtoras de conteúdo. Hoje qualquer pessoa pode, com um smartphone, se tornar repórter e fonte de informações sobre fatos acontecendo em tempo real.
A reação da maioria dos veículos da velha imprensa foi negativa. Acharam que bastaria mudar de veículos impressos para mídias digitais que tudo se resolveria e o protagonismo permaneceria. Porém, não souberam lidar com a nova realidade que permite a qualquer pessoa fazer o trabalho antes restrito aos jornalistas profissionais.
O jornalismo profissional, ao invés de investir na qualidade do material produzido, prezando a segurança e veracidade do conteúdo divulgado, acabou enveredando pelo caminho fácil do jornalismo opinativo, fazendo com que o trabalho de noticiar fatos se tornasse secundário em relação à divulgação de opiniões de supostos especialistas. Os próprios jornalistas passaram a se achar capacitados a opinar sobre todos os assuntos imagináveis, como se possuíssem o conhecimento e a autoridade intelectual necessários para isso.
A prova disso pôde ser vista durante a pandemia da covid-19, quando muitos jornalistas se consideraram mais habilitados a opinar sobre as medidas a serem adotadas para o combate à doença do que os médicos e cientistas que estudaram e se prepararam por anos e trabalham na área por tempo suficiente para ter a autoridade para indicar as melhores medidas de prevenção e combate à pandemia. Por exemplo, quantos jornalistas foram rápidos em condenar a liberdade dos médicos em prescrever medicamentos para combater a doença, alegando que os medicamentos propostos não tinham comprovação científica e citando especialistas cujos estudos nunca foram lidos por eles, a despeito de todo o conhecimento, da experiência prática, dos estudos produzidos e resultados positivos alcançados por vários médicos?
Os jornalistas que se achavam especialistas em pandemia logo se converteram em especialistas em geopolítica internacional, para poderem opinar a respeito das eleições americanas ou a respeito da invasão russa da Ucrânia. Opinam sobre tudo e acreditam que as suas opiniões são uma verdade absoluta mesmo que muitas vezes contradigam os fatos que eles passaram a ignorar.
Ao invés de se reinventarem e valorizarem a qualidade do que produzem, a maioria dos jornalistas preferiu abandonar os conceitos que balizavam o trabalho jornalístico e se rebaixaram à posição de simples comentaristas. Isto fez com que muitos criassem narrativas distintas da realidade e passassem a acreditar nelas, tentando convencer a todos que a “verdade” deles é a correta. Isto fez com que pessoas comuns passassem a contrapor e criticar os jornalistas por suas narrativas desconectadas da realidade. E por suas críticas, estas pessoas passaram a ser acusadas de “atacar” os jornalistas.
Com o aumento da quantidade de pessoas divulgando informações nas redes, era de se esperar que aumentasse também a quantidade de informações incorretas ou falsas que passariam a circular. Afinal, as pessoas comuns não conhecem (e nem tem a obrigação de conhecer) os procedimentos jornalísticos para verificação e apuração de fatos. Isto sempre foi trabalho dos jornalistas.
E é por isso que eu acredito que os veículos de mídia e a classe jornalística seguiram no caminho errado ao se rebaixarem ao patamar de meros comentadores e criadores de narrativas. Diante do aumento natural da quantidade de informações falsas e incorretas divulgadas pelas pessoas, a imprensa deveria ter investido na qualidade e na manutenção dos critérios de apuração jornalística para se tornar uma ilha de seriedade no meio do mar de informações falsas. O jornalismo profissional deveria ter se tornado um porto seguro para as pessoas que consomem informação, livrando os leitores e telespectadores do trabalho de garimpar a verdade em meio a tanto lixo midiático.
Hoje a velha imprensa reclama da queda de leitores, expectadores e, consequentemente, de anunciantes e receitas mas nada disso teria acontecido se tivessem se mantido firmes na defesa da verdade e dos fatos conforme ocorreram. Foi a venda de narrativas que levou a velha imprensa e perder totalmente a sua credibilidade, levando as pessoas a buscar formas alternativas de se informarem sobre os fatos cotidianos.
Para piorar, quando agentes públicos começaram a rasgar diariamente a Constituição e a violar direitos básicos, incluindo a liberdade de expressão e de imprensa, a maioria da classe jornalística cerrou fileiras junto aos abusadores da lei e defenderam a censura de cidadãos e de seus próprios pares, além da censura a veículos de mídia. Tudo isso em nome da democracia e também porque alguns jornalistas e algumas empresas ainda valorizam o trabalho jornalístico verdadeiro e isso escancara a hipocrisia, a incompetência e os interesses de grande parte daqueles que ainda se atrevem a se considerarem jornalistas.
Assim, foi inevitável que a velha mídia perdesse o seu espaço para veículos independentes, muitos dos quais acolhendo os profissionais sérios do jornalismo profissional, que procuravam por veículos onde pudessem permanecer exercendo o jornalismo sério e baseado na verdade dos fatos.
Além de fortalecer a mídia alternativa, a velha imprensa também é uma das grandes responsáveis pelos problemas enfrentados hoje pelo país. Se tivesse feito o jornalismo como manda as práticas sérias de apuração de fatos, teriam noticiado muitos fatos que acabaram sendo deixados de lado, o que acabou levando muitas pessoas a acreditar em falsas narrativas, dando a elas um falso retrato da realidade. Esta falsa percepção da verdade levou muita gente a ser enganada, o que nos trouxe ao ponto no qual nos encontramos hoje.
A velha e podre imprensa mentiu, manipulou, perseguiu e humilhou pessoas. Ajudou a criminalizar práticas as quais deveria defender. Defendeu uma inversão de valores, promovendo a banalização de vários crimes sob argumentos facilmente refutáveis. Trabalhou de forma intensa para esconder das pessoas as boas ações do atual governo com o claro objetivo de favorecer o candidato que voltaria a abrir as torneiras públicas para a velha imprensa. Alimentou um fascismo imaginário na cabeça de muitas pessoas, impedindo-as de ver a verdade e causando um clima de “nós contra eles” que em nada beneficia as pessoas envolvidas.
Quando direitos constitucionais dos cidadãos foram violados e a própria liberdade de imprensa foi atacada, a velha mídia nada fez para defender a verdade e exigir o cumprimento das leis e o respeito à Constituição. Ao invés de defender a democracia, a velha mídia se tornou um consórcio, que trabalha como porta-voz de um establishment que ataca a Constituição e atropela os cidadãos. Passou a fazer parte do mal que deveria ajudar a combater.
O consumo de informações seguirá crescendo, assim como a interação das pessoas com os fatos e as notícias. Não basta que o hipotético novo governo acene com o aumento dos gastos públicos com publicidade. A velha mídia precisa acordar para a realidade se quiser sobreviver no médio e longo prazo.
Se não mudarem radicalmente a forma como trabalham com os fatos, em breve elas mesmas se tornarão notícia e, como toda notícia velha, serão descartadas logo após serem consumidas. Esta é uma lição que deve ser observada por todos aqueles que querem trabalhar com informação e com notícias. O público não perdoa aqueles que tentam enganá-lo. As pessoas se cansaram de ser feitas de idiotas.
Sander Souza (Conexão Japão), para Vida Destra, 16/12/2022.
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