Os eventos ocorridos tanto no dia 7 quanto no último dia 12 de setembro evidenciaram algo que muitos já desconfiavam, mas que por razões distintas evitava-se falar em público: a terceira via é uma miragem cada vez mais distante.
A julgar pelo que se viu nas ruas nos últimos dias, tudo leva a crer que em 2022 nós teremos a reedição do embate entre Bolsonaro e um representante da esquerda, provavelmente o ex-presidiário Lula, caso acredite nas pesquisas que o colocam com uma ampla vantagem sobre Bolsonaro.
O dilema dos que desejam emplacar a tese de uma terceira via, hoje, é de ordem prática. Os nomes cogitados até o momento, na verdade, não são alternativa alguma, pois em algum momento já foram identificados ou mesmo militaram ao lado das forças políticas que comandaram o país antes da chegada de Bolsonaro ao poder.
E quando não são velhas raposas e eternos presidenciáveis, como Ciro Gomes, são ilustres desconhecidos, sem qualquer visibilidade e atração política, tipo João Amoedo, que está conseguindo acabar com o partido que ele mesmo criou, apesar de tantas expectativas positivas. Aliás, o liberalismo sem o suporte do conservadorismo de direita não tem a menor chance de sobreviver no Brasil. Mas eles parecem ignorar isso.
As manifestações esvaziadas no dia 12 de setembro escancararam essa realidade. E não foi por causa de pandemia nem da falta de apoio de setores da esquerda. É porque lhes falta exatamente essa representatividade que, ao mesmo tempo, seja crítico racional do atual Presidente, mas que não pareça que vai deitar na cama do PT ali adiante. O povo percebe que a aludida terceira via tem mais chance de marchar com Lula em 2022 do que com Bolsonaro.
Ocorre que o perfil desejado para uma terceira via é exatamente aquele que foi encarnado por Bolsonaro em 2018. Apesar de ter anos de mandato como deputado federal, sempre foi visto como alguém que não participava das decisões em Brasília, talvez por defender ideais que nunca interessaram aos poderosos por lá. Mas ele representa uma boa parcela da sociedade, que sempre foi relevante, mas que nunca se dispôs a fazer valer o seu peso.
Isso começou a mudar a partir de 2013. Essa massa popular, até então alheia ao debate político, resolveu sair de casa e mostrar a sua força, culminando no impeachment de Dilma Rousseff. O problema é que ela não voltou para dentro de casa. Entendeu que podia ir além, e resolveu eleger um improvável deputado federal, contra todos os prognósticos, Presidente da República. Ele era a terceira via, a alternativa viável contra o lulopetismo.
Não fosse o ódio gratuito, a oposição irracional e as sabotagens da mídia, STF e outros atores contra Bolsonaro e seu Governo, a terceira via hoje seria algo também viável e até natural dentro do contexto democrático de alternância de poder. Mas agindo dessa maneira, só o que conseguem é afastar eleitores mais moderados que também não se identificam com esse oportunismo político inconsequente.
Aliás, essa beligerância pode causar o efeito inverso. Bolsonaro pode acabar encarnando novamente a alternativa contra os reais donos do poder, provando a tese de que nunca o deixaram governar, pois os que ainda comandam as estruturas do Estado lhe cercaram e amputaram seus poderes e prerrogativas. E ainda usará isso como discurso para provocar uma renovação ainda maior no Congresso Nacional do que a observada em 2018.
É por essas e outras razões que a propalada terceira via, ao menos os que assim se apresentam, estão sendo vistos como um engodo. Eles estão vendendo uma via alternativa, que na verdade é um beco escuro e sem saída, onde eles próprios estão metidos.
Ismael Almeida, para Vida Destra, 14/09/2021.
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