Há tempos que a nossa sociedade vem sofrendo uma profunda transformação em sua maneira de pensar. Tudo teve início com a introdução do politicamente correto, um parâmetro artificial criado para moldar as atitudes e palavras das pessoas para encaixá-las num modelo pré concebido e que é considerado por seus idealizadores como o padrão da correção, o modelo a ser seguido por todos.
Através do politicamente correto, a maneira de nos expressarmos mudou; músicas, cujas letras antes eram consideradas normais, passaram a ser problematizadas; e sobrou até para a nossa literatura, com obras de autores como Monteiro Lobato sendo consideradas politicamente incorretas, por usar expressões que alguns hoje consideram ofensivas e racistas. A própria Bíblia Sagrada sofre críticas.
E como não houve uma reação contundente à imposição desta nova mentalidade, ela acabou se enraizando na nossa sociedade. As novas gerações já nasceram numa sociedade moldada pelo politicamente correto, já sendo ensinadas desde muito cedo na nova forma de pensar e se comunicar.
Claro que há exceções, pois existem muitas famílias que resistem a este tipo de doutrinação. Mas ainda são incapazes de impedir que a disseminação do politicamente correto prossiga.
Atualmente temos muito mais pessoas engajadas na luta contra a imposição do politicamente correto. Mas infelizmente, enquanto nossa mobilização contrária ainda engatinha, os agentes que trabalham na doutrinação da sociedade com o politicamente correto já estão em outro patamar. Agora não basta usar os termos corretos para se expressar sem ser julgado, também é necessário que as opiniões sejam condizentes com aquelas consideradas corretas.
E se até pouco tempo, aqueles que não seguissem os preceitos do politicamente correto eram apenas considerados politicamente incorretos, hoje já não é assim. Quem ousa discordar do pensamento dominante ou expor um ponto de vista divergente em relação ao considerado correto, é visto como um pária, que deve ser “eliminado” do debate público, para o “bem” da sociedade.
Para incentivar as pessoas a “fiscalizarem” umas às outras, foi criada a cultura da lacração, que é a maneira com a qual a sociedade politicamente correta “premia” aqueles que se comportam conforme o esperado e ajudam a difundir a doutrinação. Como todos já devem saber, a lacração consiste basicamente em usar frases de efeito ou ter atitudes ousadas, que enfatizem o pensamento doutrinador, ao mesmo tempo que humilhem aqueles que pensam diferente. O prêmio aos que assim agem é a visibilidade e suposta notoriedade em ambientes virtuais.
A cultura da lacração anda de mãos dadas com outra, também pertencente ao ambiente politicamente correto, que é a cultura do cancelamento. O termo “cancelar” neste caso se refere ao movimento conjunto de um grupo de pessoas, com o objetivo de perseguir e prejudicar alguém que discorde delas, ou que se recuse a seguir a cartilha imposta pelo politicamente correto.
O exemplo mais recente das culturas da lacração e do cancelamento em ação, se deu no caso envolvendo o jogador de vôlei Maurício Souza. Após emitir sua opinião a respeito da bissexualidade de um personagem de história em quadrinhos, Maurício foi vítima da fúria de militantes que o acusaram de ser homofóbico. O resultado: após ser temporariamente afastado e multado pelo Minas Tênis Clube, clube do qual era atleta, acabou sendo desligado pelo clube, por pressão dos patrocinadores. Se não fosse suficiente, viu qualquer chance de atuar novamente pela Seleção Masculina de Vôlei ser descartada pelo técnico Renan Dal Zotto.
E tudo isto apenas porque Maurício expôs sua contrariedade em relação ao anúncio de que um personagem de histórias em quadrinhos será bissexual. Qual o crime em se pensar assim? Na sociedade politicamente correta, é quase um crime passível da pena de morte! Todos devem pensar da mesma forma, sem exceções! Quem ousar ser diferente, deve ser severamente punido!
Assim está a nossa sociedade. Estamos nos tornando um país de lacradores e canceladores. De gente com pensamento raso e que não é capaz de compreender nada mais profundo que uma postagem do Twitter. De gente que vive preocupada com a quantidade de seguidores que tem e de likes que suas postagens recebem. E não se limita aos de esquerda, entre os que se identificam como de direita também há muitos que pensam assim!
Nenhuma lacração é boa. Ninguém merece ser cancelado. Não é porque o oponente é de esquerda que devemos ceder à lacração e ao cancelamento. Devemos combater tais práticas, e jamais ceder à tentação de nos igualar aos nossos oponentes.
Enquanto a maioria vive nesse mundinho digital lacrador e politicamente correto, sendo conduzidos segundo os critérios dos donos do poder, há uma minoria que luta ativamente pela preservação da nossa sociedade, da nossa cultura, dos nossos valores e acima de tudo, que luta pela preservação dos nossos direitos fundamentais. Temos que garantir a nossa liberdade para pensar e expressar o que pensamos!
O combate a tudo isto não é tarefa fácil, e certamente passa pela Educação. Porém, ainda temos que resgatar a Educação, para então pensarmos em salvar o restante da cultura e do pensamento livre. Realmente temos muito o que fazer! Da falácia da Pátria Educadora, agora temos a Pátria Lacradora! Ninguém merece!
Sander Souza (Conexão Japão), para Vida Destra, 29/10/2021.
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Crédito da Imagem: Luiz Jacoby @LuizJacoby
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