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Como a controvérsia da NHL ajuda Vladimir Putin*

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Como a controvérsia da NHL ajuda Vladimir Putin*

 

*N.T.: NHL – National Hockey League (Liga Nacional de Hóquei)

Para as pessoas sãs, que não acham nada atraente ficar dizendo o que as demais devem pensar, é óbvio que uma sociedade que já praticou a real tolerância seria alvo do repúdio de Putin.

 

Fonte: The Federalist

Título Original:  How The NHL Controversy Helps Vladimir Putin

Link para o artigo original: aqui!

Publicado em 19 de janeiro de 2023

 

Autor: Mark Hemingway**

 

Desde que Ivan Provorov, da [franquia] Philadelphia Flyers, se recusou a vestir uma camiseta com o símbolo do arco-íris na “Noite do Orgulho [LGBT+]”, e citou como justificativa sua fé cristã ortodoxa, a indignação performática da mídia esportiva tem sido… bem, nada diferente de qualquer outra ocasião, pois a única forma de discurso de que nossa mídia esportiva é capaz é a indignação performática.

E considerando que essas mesmas figuras da mídia esportiva estão engajadas em uma gritaria barulhenta, numa tentativa desesperada de disfarçar sua completa incapacidade de equilibrar ideias contraditórias ou de pensar por si mesmas, havia um ângulo nessa controvérsia que era tão estúpido quanto inevitável.

Fui só a dois jogos de hóquei em toda minha vida – e um deles foi em Nova Orleans, onde aprendi a lição de que é uma péssima ideia servir bebida alcoólica pesada para os fãs do hóquei. Não levou muito tempo para deduzir que Ivan Provorov era russo. Você sabe quem mais é russo? Voldemort Putin.

Na quarta-feira, o repórter veterano da rede NHL, E.J. Hradek, declarou ao vivo: “Se isso é tão problemático para ele, Ivan Provorov pode pegar um avião, em qualquer dia que ele quiser, e voltar para o lugar onde se sinta mais confortável e ganhe menos dinheiro, e então seguir com sua vida”. E, por precaução, Hradek sugere que Provorov deveria se juntar ao exército russo e lutar contra a Ucrânia: “Entendo que há uma espécie de conflito acontecendo por lá, talvez [ele deva] se envolver”.

Vamos deixar de lado, por um momento, a sugestão de que alguém deva deixar a América – especificamente, a cidade da Filadélfia, onde se escreveu a Constituição – para então exercer os direitos básicos da Primeira Emenda. A sugestão de entrar em um avião para voltar à Rússia foi quase um ‘acerto’. Hradek talvez queira assistir a esta parte da propaganda russa real, destinada a desencorajar os russos de imigrarem para a América:

No vídeo, uma família russa está a bordo de um avião, entusiasmada por estar se mudando para o “país mais livre do mundo… a terra das oportunidades”. Eles são logo repelidos com um ataque do politicamente correto. As duas mulheres acomodadas na fileira de assentos em frente deles são casadas, a despeito de uma delas se referir à sua esposa com pronomes masculinos. O homem russo é obrigado a deixar um homem negro passar à sua frente na fila do banheiro, como um tipo ostensivo de reparação, e quando ele questiona por que isso acontece, acaba que as pessoas se ajoelham e pedem perdão. Eles são instados a parar de comer carne, durante o voo, porque isso ofenderia os vegetarianos sentados ao lado deles. E assim vai.

Basta dizer que você não precisa ser um apoiador de extrema-direita do Putin para entender o que é, em algum nível, uma propaganda hiperbólica e uma crítica realmente eficaz. Tenho idade suficiente para lembrar muito bem da Guerra Fria, e a maioria dos americanos entendeu claramente que o antídoto para a opressão patrocinada pelo estado soviético era a tolerância e o liberalismo clássico. Como aparentemente já não temos clareza do que significam os ideais deste último, o liberalismo clássico implicava conceder igualdade de tratamento, à luz da lei, às pessoas com ideias, estilos de vida, culturas e religiões diferentes, visando a coexistência pacífica das várias comunidades e o respeito aos direitos constitucionais de cada um, dados por Deus.

David Harsanyi já havia comparado esse estardalhaço a um episódio clássico de *Seinfeld: “Who Doesn’t Wear The Ribbon?”. Tão atual quanto nos anos 1990, até mesmo os comediantes liberais entenderam que havia algo de antiamericano na pressão arrogante para sinalizar virtude, e ironicamente para nossos propósitos, a fita no episódio de Seinfeld era quase certamente uma referência codificada às fitas vermelhas da AIDS, que eram onipresentes nas lapelas, à época.

[N.T.: Seinfeld, seriado americano. Título do episódio, em tradução livre: Quem não usa a fita?]

Agora, parece que os obcecados progressistas ocidentais decidiram que a maneira de combater a hegemonia cultural estatal, imposta por Putin, é impor a hegemonia cultural deles – e isto está definido em um conjunto restrito de valores que eles tentam arrogantemente impor, a fim de se tornarem universais, pois ao fazê-lo, justificam sua própria superioridade. (Há muito mais do que simples e antigos ingredientes de um antiamericanismo de autoaversão se misturando neste caldo infernal.)

Claro, detesto desagradar essas pessoas, mas sua rejeição ao liberalismo clássico em favor do combate via “tolerância repressiva” é o tipo de marxismo camuflado que Putin e seus colegas da KGB, um dia, conspiraram para injetar no discurso americano, para nos enfraquecer. E se palhaços hipócritas, como Hradek, estão tão convencidos de que se recusar a usar uniformes de arco-íris é o mesmo que lutar por Putin, bem, sugiro humildemente que ele pegue um rifle, voe para a Ucrânia e comece a adesivar o arco-íris nos uniformes do batalhão Azov e, depois, nos conte como eles reagiram.

Além disso, nós todos sabemos que alguns intolerantes são mais iguais do que outros – se um jogador de hóquei que se recusasse a vestir a camisa do orgulho [LGBT+] fosse oriundo do Oriente Médio e citasse sua fé islâmica, os Dick McShoutersons da mídia esportiva ficariam estranhamente silenciosos, contentes em deixar o debate ser dominado por matérias do Atlantic sobre nuances pós-coloniais, escritas por alguém que fingisse ter lido Edward Said na faculdade.

Esta é, em última instância, a justificativa de Putin e de muitos outros maus atores do cenário global, quando usam os governos ocidentais como ferramenta para solidificar sua corrupção e controle doméstico: “Se você não se juntar a mim, líderes e corporações ocidentais invadirão e destruirão sua cultura e deformarão seus filhos”. Toda vez que há uma irrupção de guerra cultural em que as elites progressistas ocidentais decidem punir grupos estrangeiros porque ‘pensam errado’, isso só ajuda Putin e sua laia. (É provável que também valha a pena mencionar que este não é um problema que temos somente com ditadores – até mesmo os franceses estão exasperados com as políticas identitárias e o politicamente correto tornando-se uma das principais exportações da América). Infelizmente, temos cultivado impérios de mídia que giram em torno de pessoas que são compensadas, exorbitante e injustamente, por sua capacidade de despertar com raiva sempre que alguém, em algum lugar, discorde delas.

Mas, para as pessoas sãs que não acham nada atraente dizer às demais o que elas devem pensar, é óbvio que uma sociedade que praticasse a tolerância real seria alvo do repúdio de Putin. Afinal, basta imaginar um lugar onde gays e cristãos poderiam viver lado a lado, onde ambos seriam ouvidos respeitosamente, e onde seriam raras as ameaças de arruinar os meios de subsistência de alguém por admitir publicamente suas crenças.

Como diria Yakov Smirnoff, “Que país!”.

 

**Mark Hemingway é editor literário no Federalist. Antes disso, foi redator senior no Weekly Standard.

 

 

Traduzido por Telma Regina Matheus, para Vida Destra, 28/01/2023.                                  Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail  mtelmaregina@gmail.com ou Twitter @TRMatheus

 

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Telma Regina Matheus Jornalista. Redatora, revisora, copydesk, ghost writer & tradutora. Sem falsa modéstia, conquistei grau de excelência no que faço. Meus valores e princípios são inegociáveis. Amplas, gerais e irrestritas têm que ser as nossas liberdades individuais, que incluem liberdade de expressão e fala. Todo relativismo é autoritarismo fantasiado de “boas intenções”. E de bem-intencionados, o inferno está cheio. Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail: mtelmaregina@gmail.com ou Twitter @TRMatheus