CULTURA: Compreendendo as conexões de Jordan Peterson com a verdade cristã profética
Prezados leitores:
Trazemos até vocês mais uma tradução de artigo publicado pela imprensa internacional feita pela nossa colaboradora, a jornalista e tradutora profissional Telma Regina Matheus. Apreciem!
CULTURA: Compreendendo as conexões de Jordan Peterson com a verdade cristã profética
Fonte: The Federalist
Título Original: Understanding Jordan Peterson’s Connections To Prophetic Christian Truth
Link para o artigo original: aqui!
Publicado em 12 de abril de 2022
Autor: Louis Markos
No livro ‘Myth and Meaning in Jordan Peterson: A Christian Perspective’ [em tradução livre: Mito e Propósito em Jordan Peterson: Uma perspectiva cristã], um grupo de escritores tenta revelar a entusiástica promoção de Peterson a uma fé que ele não professa.
Nossa era de cinismo, ceticismo e nihilismo precisa desesperadamente de heróis que possam equilibrar realismo e esperança, cautela e otimismo, e entendimento lúcido do pecado humano e crença firme na dignidade inata e essencial do homem. Precisa também de heróis com a coragem de falar contra a crescente ameaça de um esquerdismo agressivo e militante, que pode erradicar a liberdade de expressão e impor um igualitarismo capaz de extirpar todas as distinções.
Considere o professor e psicoterapeuta da Universidade de Toronto, Jordan Peterson. Ele causou enorme comoção em 2016, quando se opôs ao famoso projeto de lei canadense que obrigava os cidadãos a usarem os pronomes que as pessoas transgênero preferissem.
Que um cientista sócio-acadêmico – e, além disso, canadense – assumisse uma perspectiva corajosa, e que ameaçava sua carreira, contra o politicamente correto e a cultura de cancelamento foi bastante surpreendente. Que ele também defendesse o entendimento tradicional de virtude e responsabilidade pessoal, celebrasse a masculinidade e a feminilidade, e alertasse para os perigos do totalitarismo de direita e de esquerda, parecia bom demais para ser verdade.
Um acadêmico que se mantém à parte da academia
Há muito que os conservadores respeitam Thomas Sowell por sua capacidade de elaborar argumentos claros, lógicos e retoricamente eficazes contra as falsas alegações de um racismo sistêmico e, então, apoiar esses argumentos com a dura realidade de fontes objetivas. Da mesma forma, Peterson corajosamente expõe as falhas das alegações de feministas e ativistas LGBT, e então apresenta evidências estatísticas de estudos revisados por pares, os quais mostram, por exemplo, que não há nenhuma diferença salarial motivada por gênero, que homens e mulheres não são intercambiáveis, e que suas necessidades e desejos são inatos, e não meros reflexos das normas de gênero construídas socialmente.
Para muitos conservadores, Peterson é o cavaleiro de capa [e espada] pelo qual tanto esperaram e rezaram, e, felizmente, ele não é um erudito político alarmista e pessimista. De fato, ele evita falar em termos estritamente partidários, fomentando uma mudança pessoal em vez de sistêmica e se concentrando no indivíduo e não em grupos político-raciais-econômico-sexuais. Para Peterson, o desenvolvimento humano implica homens e mulheres reais se libertando das cadeias internas do narcisismo, da inveja e do ressentimento, e não a construção de uma utopia – assexual, sem classes [sociais] e sem cor – de equidade absoluta.
Dizendo de outra forma, ele é um pesquisador altamente treinado que conhece, por dentro e por fora, a literatura biológica e sócio-científica, e, ao mesmo tempo, é um verdadeiro humanista que se opõe a qualquer tipo de engenharia social eivada de motivações ideológicas e execução burocrática. Como ele evitou se tornar membro da elite de especialistas acadêmicos e controladores governamentais, que se acredita liberada para modelar a próxima geração de homens e mulheres? Apoiando-se em histórias antigas e mitos arquetípicos como um determinante do que significa ser humano – um determinante melhor do que as políticas identitárias, a teoria crítica e os estudos sobre ressentimento.
E onde ele baseia a maior parte de seus arquétipos explicativos? Não nos mitos da Grécia, de Roma, do Egito e da Finlândia; nem nos heróis das populares histórias em quadrinhos; mas na Bíblia, particularmente no Gênesis e nos Evangelhos. E aí reside o dilema dos fãs cristãos de Peterson, que são muitos e só aumentam.
Evangélicos, como eu, aplaudem quando Peterson libera no YouTube uma série de longas palestras, analisando os significados mais profundos das histórias do Gênesis, mas, então, recuam cautelosamente quando percebem que, em vez de tratar as histórias de maneira literal e histórica, ele [Peterson] as observa pelas lentes de Nietzsche e Jung.
Sabedoria herdada
Infelizmente, muitos cristãos resolveram esse dilema descartando Peterson ou suas leituras das Escrituras. Ron Dart desafia esses cristãos a repensarem suas decisões. Em Myth and Meaning in Jordan Peterson: A Christian Perspective (Lexham Press, 2020), Dart – que ensina no Departamento de Ciências Políticas, Filosofia e Estudos Religiosos, na Universidade do Fraser Valley, em Abbotsford, Colúmbia Britânica – reúne dez ensaios que analisam Peterson e seu trabalho, sob uma perspectiva cristã.
Em vez de ler Peterson no modo “te peguei”, ansiosos para expor erros teológicos e falácias hermenêuticas, os colaboradores desse pequeno, mas substancial volume adotam uma abordagem de espírito aberto, dispostos a aprender como também avaliar, a ser convencidos como também a criticar.
Bruce Riley Ashford, reitor no Southeastern Baptist Theological Seminary, em Wake Forest, Carolina do Norte, dá o tom correto e exato em seu ensaio de abertura. Ele elogia Peterson por ensinar, em nossa época secular, que ao recorrer “à narrativa bíblica, podemos nos apropriar da sabedoria herdada de nossos ancestrais, uma sabedoria que ordena nossas vidas e nos ensina a postergar a gratificação, viver virtuosamente, construir uma sociedade e florescer”.
Embora Peterson não seja preparado para atribuir validade histórica à narrativa, ele reconhece “a Bíblia como o documento fundador da civilização ocidental” e assegura, à sua audiência diversificada de leitores e ouvintes, que enfrentar a Bíblia mudará suas vidas para melhor.
Ele pode não descrever o pecado como aquilo que viola a natureza de um Deus santo, mas reconhece a profunda vergonha que suportamos e como isso nos afasta de Deus e do Ser. Mais essencialmente, ainda que Peterson continue sendo agnóstico sobre as dimensões literais da redenção e da ressurreição, ele encontra uma “solução para essa vergonha …. [traçando] o arco redentor da Bíblia em direção ao Novo Testamento, onde nos conscientizamos de que Cristo personifica o caminho a seguir, nos revelando a estrada do autossacrifício virtuoso, da aceitação da finitude, e da perseverança heroica no difícil caminho do sofrimento. Em vez de nos vitimizarmos, assumimos a responsabilidade e seguimos em frente”.
Conservadores cristãos que dispensaram ou rejeitaram Peterson fariam bem em reavaliar o poder da voz de Peterson naquilo que Richard John Neuhaus chamou de praça pública vazia. Porque ele não prega em um púlpito literal, nem usa a linguagem do mito em lugar da doutrina, ele é capaz de escapar dos tipos de acusações (principalmente, as jocosas) feitas contra os cristãos americanos que trazem sua fé para a esfera política: especificamente, que eles estariam violando a cláusula de estabelecimento da Constituição.
Ao contornar as enfadonhas prédicas do Americans United for the Separation of Church and State, Peterson consegue trazer o peso das Escrituras para apoiar questões que têm causado grandes danos às pessoas individualmente, como também aos quadros políticos mais amplos.
Crítica ao marxismo intersecional
Hunter Baker, decano de artes e ciências na Union University, salienta um exemplo disso, em que a leitura de Peterson da história bíblica de Caim e Abel lhe permite criticar, em um nível profundamente espiritual, os perigos do ressurgente marxismo que reforça a teoria crítica de raça e seus camaradas intersecionais.
“Peterson vincula o modo marxista de pensar menos à compaixão pelos pobres e pela classe trabalhadora e mais ao ódio e ressentimento. Em outras palavras, o entendimento marxista da causa do sofrimento remonta diretamente a Caim e sua inveja de Abel. Para Peterson, a mágoa de Caim corresponde à clássica hostilidade marxista à burguesia e suas vidas convencionais”, escreve Baker. Peterson pode mostrar alguma relutância em tratar Caim e Abel como irmãos históricos, mas, não obstante, ele trata a rivalidade deles como um mito verdadeiro que guarda relação direta com as modernas lutas políticas e psicológicas.
Laurence Brown, que estudou filosofia política na Universidade do Fraser Valley, vai mais fundo na análise de Peterson sobre a história de Caim e Abel, e como ela se conecta com o avanço do ódio e do ressentimento da modernidade.
“Essa história, segundo Peterson, é a história mais profunda da Bíblia, porque fala da divisão fundamental entre o bem e o mal que chega ao centro de cada coração humano. Peterson nos retrata a todos com a habilidade de carregarmos nos ombros o fardo de, como Abel, sermos na graça – ainda que também tenhamos a tendência para, como Caim, matar a melhor parte de nós mesmos. Quando o ressentimento contra o Ser bate à porta, cabe a nós, em última análise, escolher se o deixamos entrar ou não”, escreve Brown.
Aludindo ao famoso comentário de Solzhenitsyn, de que a linha divisória entre o bem e o mal não se dá entre nações ou partidos ou ideologias, mas, sim, no coração de cada ser humano, Brown encontra, em Peterson, uma compreensão do bem e do mal que é decididamente judaico-cristã, cuja fonte é muito mais profunda do que as convenções morais e sociais criadas pelo homem.
Para Peterson, explica Brown, [as figuras de] Adão, Abel e Noé antes da queda “incorporam o protótipo do homem virtuoso”; entretanto, com Abraão, surge um novo tipo de herói arquetípico, um “que mostra todas as falhas extremamente comuns a todos nós, como humanos”, e, por isso, ele [Abraão] deve agir “somente na fé em sua conquista do desconhecido”.
O chamado a Abraão não garante uma vida fácil. De acordo com Brown, “viver em meio à pobreza, fome e guerra talvez tenha sido difícil o bastante, mas ter que sacrificar seu filho amado, por quem [Abraão] tinha esperado toda uma vida, deve ter sido absolutamente devastador”. Mesmo assim, isto é o que significa ser uma criatura feita à imagem de Deus, vivendo em um mundo decaído.
Dessa forma, o simbolismo de Abraão como um arquétipo antigo tem, em si mesmo, uma completude de significado e aponta na direção de Cristo. “Como Deus encarnado, Cristo é também o modelo do indivíduo perfeito, que aceita as tragédias da vida e transcende suas vicissitudes ao direcionar o olhar da humanidade para cima, para o Reino de Deus. …. a paixão de Cristo não só se fundamenta no grande sacrifício de Abraão, mas também o excede, como arquétipo por excelência do próprio sacrifício”, escreve Brown.
O espírito profético do cristianismo
Baker, Brown e outros oferecem exemplos evidentes de que a abordagem mítica de Peterson ao Gênesis e aos Evangelhos produz resultados compatíveis com o cristianismo. Porém, é T.S. Wilson, outro filósofo político graduado pela Universidade do Fraser Valley, que estabelece mais sucintamente como ambos se complementam, em vez de se contradizerem. Diferentemente de Spinoza e seus colegas filósofos do Iluminismo, que viam a razão como o melhor caminho para a compreensão da essência do Ser, Nietzsche e Jung defendiam “o mito, a fantasia e a imaginação como as verdades mais elevadas que, em última instância, mais refletiam o alicerce primordial do Ser”.
Seguindo as pegadas de Nietzsche e Jung nessa área, Peterson consegue destrancar portas da Bíblia que, durante muito tempo, ficaram fechadas para os modernos cristãos que, sem perceberem, são pensadores do Iluminismo.
“Referir-se às histórias do Gênesis como um mito provavelmente deixa muitos cristãos desconfortáveis, porém, sob a perspectiva cristã, pode-se pensar que Peterson está simplesmente elevando o espírito profético do cristianismo a patamares mais altos do que o literal e histórico. Por ‘espírito profético’ quero dizer a palavra de Deus, falada através de seus profetas e condensada nos mitos verdadeiros que fortalecem a civilização ocidental, não apenas nas instituições que têm disseminado a mensagem ao longo do tempo, mas também na própria linguagem, cultivada a partir das primeiras sementes faladas pela Palavra”, escreve Wilson.
Esse espírito profético é poderosamente capturado por Esther O’Reilly, em seu capítulo sobre Jordan Peterson como um verdadeiro humanista. O’Reilly, escritora freelance e doutoranda em matemática, se concentra em um dos muitos vídeos de Peterson. O vídeo inclui uma sessão de perguntas e respostas em que um membro da audiência confessa estar considerando a possibilidade de suicídio e ele gostaria de saber por que não pode levá-lo a cabo. Peterson começa invocando as respostas que alguém esperaria de um terapeuta moderno, lembrando o homem que, ao se matar, ele ferirá sua família e incentivando-o a procurar um psiquiatra e tomar antidepressivos.
Então, de repente, ele muda o foco e “para de falar como um típico médico: ‘Você tem valores intrínsecos, e você não pode simplesmente dar um fim neles. Você deixará uma cratera no tecido do próprio Ser’. Estas são palavras fortes e contrárias à cultura dominante: valor intrínseco. Não pode. Uma cratera no tecido do Ser. Suas palavras finais são ainda mais contundentes: ‘Não esteja tão certo de que sua vida é sua ao ponto de poder encerrá-la. Você não tem a posse de si mesmo como tem de um objeto. Você tem obrigações morais consigo mesmo, como um locus do, digamos, valor divino. Você não pode tratar isso de modo casual. É errado’”.
Com certeza, estas não são palavras de um materialista que trata o supernatural como irrelevante para a ciência e as lutas modernas. Os cristãos deveriam aplaudir a ousadia de Peterson de trazer, para o universo terapêutico, uma dimensão metafísica, que fala claramente à nossa valia intrínseca e ao nosso valor divino. Repetidamente, os colaboradores [do livro] Myth and Meaning in Jordan Peterson destacam momentos entusiasmantes, nos quais Peterson transcende os limites naturalistas de seu campo de ação e olha para cima, para o divino.
Concederei a última palavra para Dart, que abraça a defesa vigorosa de Peterson à liberdade de expressão. Diferentemente dos liberais clássicos, que baseiam sua defesa na “autonomia individual e na autoexpressão”, Peterson fundamenta a sua [defesa] “não na autonomia celebrada por uma filosofia individualista, mas [baseada] na realidade e em nossa relação com ela”. Peterson pode ser um pouco inquietante ao discutir suas crenças religiosas, mas é enfático em sua defesa da transcendência e das verdades absolutas que Nietzsche desconstruiu de maneira tão infame.
*Louis Markos, professor de inglês e acadêmico residente na Houston Baptist University, detém a cátedra Robert H. Ray em Humanas. Seus livros incluem obras como “Apologetics for the 21st Century”, “On the Shoulders of Hobbits” e “Restoring Beauty: The Good, the True and the Beautiful in the Writings of C.S. Lewis”.
Traduzido por Telma Regina Matheus, para Vida Destra, 17/04/2022. Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail mtelmaregina@gmail.com ou Twitter @TRMatheus
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Excelente! Hoje comemoramos a ressurreição de Cristo e este artigo nos traz ensinamentos sólidos sobre a humanidade. Nietzsche fez críticas contundentes ao mau uso da religião e não nega-la como muitos acreditavam. Peterson e Thomas nos trazem uma visão real da essência humana, assim notamos que o homem é o mesmo desde os tempos bíblicos. O Banquete de Platão fala sobre o Erasta nobre que tinha relações afetivas com jovens, portanto a sexualidade é um campo inesgotável de discussões. A deturpação de comportamentos sempre acontece pelo vitimismo sensacionalista de uma minoria que usa de todo artifício para contestar, inclusive pela ideologia que no tempos atuais é o marxismo.