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Em um único tuíte sobre Will Smith, a Academia escancarou a hipocrisia de Hollywood

Prezados leitores:

Trazemos até vocês mais um artigo publicado pela imprensa internacional e traduzido pela nossa colaboradora, a jornalista e tradutora profissional Telma Regina Matheus. Apreciem!

 

Em um único tuíte sobre Will Smith, a Academia escancarou a hipocrisia de Hollywood

 

Fonte: The Western Journal

Título Original: In One Tweet About Will Smith, Academy Awards Put Hollywood’s Hypocrisy on Full Display

Link para a matéria original: aqui!

Publicado em 28 de março de 2022

 

Autor: C. Douglas Golden

 

Então. O que dizer sobre o Oscar?

Sem dúvida alguma, todo o mundo se lembrará de onde estava quando “CODA” [No ritmo do coração] venceu o Oscar de Melhor Filme, no domingo. O drama – que, tenho certeza, foi estrelado por algumas pessoas e assistido por alguém – marcou um ligeiro revés sobre o faroeste identitário “The Power of the Dog” [Ataque dos Cães], que aparentemente pessoas também assistiram. Emocionante! Este é o momento que todos mencionarão quando conversarem sobre a cerimônia deste ano, certo?

Ah! sim, e Will Smith esbofeteou Chris Rock. Isso também.

Em um momento que ofuscou praticamente todos os Oscars concedidos nos últimos anos, Smith – astro do [filme] “King Richard: Criando Campeãs”, de 2021, e de alguns milhões de outros filmes – decidiu que ele queria, como parte de seu legado, participar de um confronto ao vivo entre ele próprio e Rock, um dos apresentadores. O comediante tinha acabado de fazer piada com o cabelo de Jada Pinkett Smith, que ela havia raspado devido à alopecia, uma condição imunológica que causa calvície, segundo o Daily Mail, do Reino Unido.

“Jada, te amo. ‘G.I. Jane 2’, mal posso esperar para assistir”, disse ele, em uma referência ao filme de 1997 estrelado por uma Demi Moore careca. [N.T.: no Brasil, G.I. Jane foi traduzido como Até o Limite da Honra.]

Rock demonstrou um discernimento questionável ao fazer a piada, mas isso nada tem a ver com o discernimento raso a que recorreu Smith.

Não tenho a menor vontade de analisar a relevância cultural de uma briga de tapas unilateral entre dois atores famosos. Se quiser isso, sintonize “The View”, em que um bando de mulheres consideravelmente pouco famosas grasnam umas com as outras sobre o assunto.

Em vez disso, gostaria de chamar a sua atenção para este tuíte da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas que a) organiza o Oscar e b) conseguiu habilmente sintetizar a hipocrisia de Hollywood em um único tuíte:

[A Academia não tolera nenhuma forma de violência. Esta noite, temos a satisfação de celebrar os vencedores de nossa 94ª premiação do Oscar, os quais merecem este momento de reconhecimento de seus pares e dos amantes do cinema ao redor do mundo.]

“A Academia não tolera nenhuma forma de violência.” Sério? Agora? É engraçado porque, pelas minhas contas, o Oscar celebrou, por mais de meio século, a violência gratuita nas telas [de cinema].

Você poderia rastrear a celebração do Oscar de uma cultura fílmica sanguinária de Hollywood até “Bonnie e Clyde – Uma rajada de bala”, indicado como Melhor Filme em 1967, segundo o iMDB. Entretanto, o endosso oficial do Oscar à guinada violenta de Tinseltown veio com a indicação, para Melhor Filme, do ultraviolento e moralmente duvidoso filme de Stanley Kubrick, “Laranja Mecânica”, em 1971.

Platoon” de Oliver Stone – filme violento e cínico sobre a guerra do Vietnã – venceu como Melhor Filme em 1986. Outro diretor sanguinário, Quentin Tarantino, ainda não ganhou [um Oscar], mas teve vários de seus filmes indicados: “Pulp Fiction: Tempo de violência”, “Bastardos Inglórios”, “Django Livre” e “Era uma vez em… Hollywood”. Aqui, ele explica por que seus filmes são tão violentos:

[‘Porque é muito mais divertido, Jan!’]

Entendi!

Entretanto, isto não se limita aos indicados. A Academia e outras organizações nunca se posicionaram contra a degradação moral da indústria do entretenimento que ocorre desde os anos 1960 – porque elas a apoiaram.

Essa decadência inclui violência, sexo, uso de drogas, profanação e outras bizarrices representadas na tela. O Oscar fingindo que não tolera violência, depois do tapa de Will Smith, equivale ao Capitão Renault em “Casablanca”, que fica “chocado – chocado!” ao saber que havia jogatina no Rick’s Café – imediatamente antes de receber seus ganhos em dinheiro.

Além disso, não há só violência nos filmes. O diretor Roman Polanski continua sendo um fugitivo da justiça, depois de condenado por drogar e estuprar uma garota de 13 anos de idade, em 1977. Isso não impediu que dois de seus filmes fossem indicados como Melhor Filme: “Tess – Uma lição de vida”, em 1981, e “O Pianista”, em 2003.

A Academia só achou tempo para expulsar Polanski em 2019, depois que o movimento #MeToo [EuTambém] tornou insustentável que ele continuasse um associado – apenas 42 anos depois de ele ter estuprado a adolescente. Belo trabalho!

Oh! e outro sinal de que a Academia tolera a violência: aqui está o discurso de Smith após receber o prêmio de Melhor Ator – e depois de esbofetear Rock. Sim, ele ainda estava lá:

[Will Smith: ‘Richard Williams foi um ferrenho defensor de sua família… Eu sei fazer o que nós fazemos, você tem que ser capaz de suportar abusos. Você tem que ser capaz de ouvir pessoas falando maluquices sobre você. Neste negócio, você tem que ser capaz de suportar pessoas desrespeitando você.’]

[Will Smith: ‘Peço desculpas à Academia. Peço desculpas a todos meus colegas indicados.’

Notavelmente, nenhum pedido de desculpas para Chris Rock.]

Ele se desculpou por seu comportamento, embora não tenha pedido desculpas para Rock. Novamente, belo trabalho.

Fosse verdade que a Academia não “tolera nenhuma forma de violência”, Smith já teria ido embora [da cerimônia]. No entanto, lá estava ele.

Em resumo, a Academia tolera toneladas de violência – até que isso vá longe demais para a maioria dos americanos, então, entra em cena o Capitão Renault. É chocante – chocante! – que vivamos em uma cultura em que um astro [do cinema] estapeie outro por causa de uma piada duvidosa. Isso não tem nada a ver com a degradação de nossa cultura, com uma crescente tolerância a bofetadas, palavrões e sordidez generalizada.

A gente quase deseja que Will Smith não tivesse se desculpado pelo incidente. Que tivesse apenas subido ao palco e dito duas simples frases: “Fiz isso porque é muito divertido, Jan! Entende?”

Este não seria o discurso que os membros da Academia desejariam, mas é o discurso que mereciam.

 

*C. Douglas Golden é um escritor que divide seu tempo entre os Estados Unidos e o Sudeste Asiático. Especializado em análise política e temas mundiais, ele escreve para o Conservative Tribune e, desde 2014, para o Western Journal.

 

 

Traduzido por Telma Regina Matheus, para Vida Destra, 30/03/2022.                                  Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail  mtelmaregina@gmail.com ou Twitter @TRMatheus

 

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Telma Regina Matheus Jornalista. Redatora, revisora, copydesk, ghost writer & tradutora. Sem falsa modéstia, conquistei grau de excelência no que faço. Meus valores e princípios são inegociáveis. Amplas, gerais e irrestritas têm que ser as nossas liberdades individuais, que incluem liberdade de expressão e fala. Todo relativismo é autoritarismo fantasiado de “boas intenções”. E de bem-intencionados, o inferno está cheio. Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail: mtelmaregina@gmail.com ou Twitter @TRMatheus