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Fim da DEI
Não se trata de diversidade, igualdade ou inclusão. Trata-se do poder arrogante de um movimento que ameaça não apenas os judeus – mas a própria América.
Fonte: The Free Press
Título original: End DEI
Link para o artigo original: aqui
Publicação: 7 de novembro de 2023
Autora: Bari Weiss
Há vinte anos, quando estava na faculdade, comecei a escrever sobre uma ideologia de nicho, na época sem nome, que parecia contradizer tudo o que me havia sido ensinado desde criança.
É possível que eu não tivesse percebido a natureza dessa ideologia — ou, talvez, tivesse evitado ver sua verdadeira natureza — se não fosse judia. Mas eu era. E sou. E ao perceber a maneira como eu fora ignorada pela equação, comecei a perceber que não era apenas eu, mas que todo o sistema se baseava em uma ilusão.
O que enxerguei foi uma visão de mundo que substituía as ideias básicas de bem e mal por uma nova rubrica: os desfavorecidos (bons) e os poderosos (ruins). Isto substituía muitas coisas. A ausência de preconceito racial pela obsessão racial. Ideias por identidade. Debate por denúncia. Persuasão por humilhação pública. O estado de direito pela fúria da multidão.
Nessa nova ordem, concedia-se autoridade às pessoas não em reconhecimento de seus talentos, trabalho árduo, realizações ou contribuições à sociedade, mas na proporção inversa às desvantagens que seu grupo sofrera, conforme definido pelos ideólogos radicais. De acordo com eles, como bem enunciou Jamie Kirchick nessas páginas: “Muçulmano > gay, negro > mulher, e todo mundo > os judeus”.
Na época, eu ainda era estudante de graduação, mas não precisava ser Ph.D. para ver aonde isso poderia chegar. Então fiquei observando, horrorizada, com todos os alarmes soando o mais alto possível. A maioria dos líderes judeus me disse que, sim, a situação não era boa, mas que eu não ficasse tão histérica. Os campi sempre foram focos de radicalismo, diziam eles. Essa ideologia, asseguravam, certamente se dissiparia à medida que os jovens amadurecessem.
Isso não aconteceu.
Nas últimas duas décadas, vi essa visão de mundo invertida absorver todas as instituições cruciais da vida americana. Começou nas universidades. Depois, avançou para as instituições culturais — incluindo algumas que eu conhecia bem, como o The New York Times —, assim como todos os principais museus, entidades filantrópicas e empresas de mídia. Na sequência, nossas faculdades de medicina e de direito. Criou raízes em quase todas as grandes corporações. Está dentro de nossas escolas de ensino médio e até de nossas escolas de ensino fundamental. A ocupação é tão abrangente que agora é praticamente difícil notá-la — porque ela está em toda parte.
Inclusive na comunidade judaica.
Algumas das mais importantes organizações comunitárias judaicas se transformaram para apoiar essa ideologia. Ou, no mínimo, fizeram contorcionismos para sinalizar que poderiam ser boas aliadas na luta por direitos iguais — mesmo que esses direitos não sejam mais considerados inalienáveis ou iguais, e sejam concedidos em vez de protegidos.
Para os judeus, há perigos óbvios e flagrantes em uma visão de mundo que mede a justiça pela igualdade de resultados, e não de oportunidades. Se a sub-representação é o resultado inevitável do preconceito sistêmico, então a super-representação — e os judeus são 2% da população americana — sugere não talento ou trabalho árduo, mas privilégio imerecido. Essa conclusão conspiratória não está muito distante do retrato odioso de um pequeno grupo de judeus dividindo os despojos ilícitos de um mundo explorado.
Não são só os judeus que sofrem o pressuposto de que mérito e excelência são palavrões. São as pessoas batalhadoras de todas as raças, etnias e classes. É por isso que o sucesso dos asiáticos americanos, por exemplo, é suspeito. As porcentagens estão erradas. As pontuações são muito altas. De quem vocês roubaram todo esse sucesso?
É claro que essa nova ideologia não vem a público e diz tudo isso. Ela não gosta nem mesmo de ser mencionada. Alguns a chamam de identitarismo, antirracismo, progressismo, securitarismo, justiça social crítica ou marxismo identitário. Mas seja qual for o termo usado, o que está claro é que ela ganhou poder em um instrumento conceitual chamado “diversidade, equidade e inclusão”, ou DEI.
Na teoria, todas essas três palavras representam valores nobres. São, de fato, causas às quais os americanos, e os judeus americanos em particular, se dedicam há muito tempo, individual ou coletivamente. Porém, na realidade, essas palavras agora são metáforas para um movimento ideológico determinado a recategorizar cada americano, não como um indivíduo, mas como um avatar de um grupo identitário, cujo comportamento é prejulgado de acordo com esse grupo, colocando-nos a todos em uma espécie de jogo de soma zero.
Estamos testemunhando há vários anos os danos causados por essa ideologia: o DEI e seus quadros de repressores prejudicam as missões centrais das instituições que o adotam. Mas nada deixou os perigos do DEI mais evidentes do que o que está acontecendo atualmente em nossos campi universitários — os locais onde nossos futuros líderes são preparados.
É lá que os professores são compelidos a pactuar sua fidelidade ao DEI para, então, serem contratados, promovidos ou efetivados. (Para saber mais sobre isso, leia o artigo de John Sailer para a The Free Press: “How DEI Is Supplanting Truth as the Mission of American Universities” [em tradução livre: Como o DEI está suplantando a verdade na missão das universidades americanas]). E é lá que a monstruosidade dessa visão de mundo tem se manifestado plenamente nas últimas semanas: vemos alunos e professores imersos não em fatos, conhecimento e história, mas em uma ideologia desumanizadora que os levou a celebrar ou justificar o terrorismo.
Os judeus, que compreendem que o fato de terem sido criados à imagem de Deus confere santidade inviolável a toda vida humana, não devem ficar parados enquanto esse princípio, tão central à promessa deste país e suas liberdades duramente conquistadas, seja destruído.
“Para os judeus, há perigos óbvios e flagrantes em uma visão de mundo que mede a justiça pela igualdade de resultados, e não de oportunidades.”
O que devemos fazer é reverter essa situação.
A resposta não é a comunidade judaica defender sua causa perante a coalizão intersecional ou implorar por uma posição mais elevada na nova hierarquia da vitimização. Essa é uma estratégia perdedora — não apenas para a dignidade judaica, mas para os valores que defendemos como judeus e como americanos.
O compromisso judaico com a justiça — e a vigorosa e histórica oposição da comunidade judaica americana ao racismo — é fonte de enorme orgulho. Isso nunca deve esmorecer. Tampouco nosso compromisso de apoiar nossos amigos, especialmente quando eles precisam do nosso apoio, como agora precisamos do deles.
Mas o “DEI” nada tem a ver com as palavras que usa como camuflagem. O DEI tem a ver com poder arrogante.
E o movimento que está acumulando todo esse poder não gosta da América nem do liberalismo. Não acredita que a América é um bom país – [acredita que] pelo menos não é melhor do que a China ou o Irã. Eles se autodenominam progressistas, mas não acreditam no progresso; são explicitamente anticrescimento. Alegam promover a “igualdade”, mas sua resposta ao desafio de ensinar matemática ou leitura a crianças carentes é eliminar os testes de matemática e leitura. Eles demonizam o trabalho árduo, o mérito, a família e a dignidade do indivíduo.
Uma ideologia que patologiza essas virtudes humanas fundamentais é uma ideologia que quer debilitar o que torna a América excepcional.
É hora de acabar de vez com o DEI. Chega de ficar observando enquanto as pessoas são incentivadas a se segregarem. Chega de declarações compulsórias de que você priorizará a identidade em detrimento da excelência. Chega de discursos impingidos. Chega de concordar com pequenas mentiras só para ser educado.
O povo judeu sobreviveu a todos os regimes e ideologias que buscaram nossa eliminação. Persistiremos, de uma forma ou de outra. Mas o DEI está prejudicando a América e tudo o que ela representa — inclusive os princípios que a tornaram um lugar de oportunidades, segurança e liberdade inigualável para tantas pessoas. Lutar contra isso é o mínimo que devemos a este país.
Bari Weiss é a fundadora e editora do The Free Press e anfitriã do podcast Honestly with Bari Weiss.
Traduzido por Telma Regina Matheus, para Vida Destra, 11/11/2023. Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail mtelmaregina@gmail.com ou Twitter @TRMatheus
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