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Não, Israel não se tornou de extrema-direita

Prezados leitores:

Publicamos mais uma tradução de artigo relevante da imprensa internacional feita pela nossa colaboradora, a jornalista e tradutora Telma Regina Matheus. Apreciem!

 

Não, Israel não se tornou de extrema-direita

 

O reprovável Sionismo Religioso não fala pela maioria dos israelenses.

 

Fonte: Spiked online

Título original:  No, Israel has not fallen to the far right

Link para o artigo original: aqui!

Publicado em 9 de novembro de 2022

 

Autor: Daniel Ben-Ami*

 

A cobertura da mídia ocidental sobre a eleição de Israel, na semana passada, foi sinistramente familiar. Grande parte dela sugeria que a extrema-direita estava em ascensão, que muitos eleitores eram irremediavelmente racistas e que o desastre era iminente. Foi notavelmente semelhante em tom à cobertura da vitória eleitoral de Donald Trump em 2016 ou dos sucessos eleitorais de Viktor Orbán, na Hungria.

Com certeza, os adversários mais zelosos de Israel sempre tiveram a tendência de demonizar Israel, descartando-o como um ‘estado do apartheid’. E o Likud, principal partido de direita de Israel, é muitas vezes retratado como semifascista. Mas nos últimos anos, até mesmo críticos mais bem informados de Israel começaram a tocar uma nota similar. Eles lamentam a quase desintegração da esquerda israelense e culpam, por isso, o que veem como uma população nacionalista cada vez mais de direita. Normalmente, eles invocam forças externas, tais como os Estados Unidos ou a União Europeia, para forçar Israel a moderar sua política.

É verdade que uma aliança política reprovável, conhecida como Sionismo Religioso, obteve um significativo sucesso eleitoral, desta vez. Mas, para compreender o significado da ascensão do Sionismo Religioso, precisamos ter uma visão mais ampla dos desenvolvimentos em Israel, em vez de nos concentrarmos no Sionismo Religioso de forma isolada.

A eleição da semana passada para os 120 lugares do Knesset (parlamento) israelense foi a quinta em quase quatro anos. Mas desta vez, o Partido Likud de Benjamin Netanyahu (geralmente conhecido como Bibi) será capaz de desfazer o impasse eleitoral e formar um governo estável. Não por causa de um enorme aumento dos votos no próprio Likud, que aumentou suas cadeiras de 30 para 32. Mas por causa de um aumento dos votos para o Sionismo Religioso que, agora, detém 14 assentos, em comparação aos seis da última vez. Assim, juntamente com os partidos menores de direita e religiosos, Netanyahu deve conseguir, com facilidade, ultrapassar os 61 assentos necessários para formar um governo de coalizão.

Este acordo ainda não está fechado. A formação de um governo estável envolverá muitas negociações entre as partes e haverá batalhas sobre quem assumirá qual ministério. Porém, parece quase certo que, na próxima semana ou em duas, será formado um novo governo, com o Sionismo Religioso desempenhando um papel importante.

Não deve haver dúvidas de que o Sionismo Religioso é um agrupamento vil. É uma aliança eleitoral de três partidos diferentes: o próprio Sionismo Religioso (liderado por Bezalel Smotrich), o Poder Judaico (liderado por Itamar Ben-Gvir) e a pequena facção Noam.

Grande parte da campanha eleitoral foi centrada na figura de Ben-Gvir. Talvez o detalhe mais revelador sobre Ben-Gvir seja o de que, durante anos, ele manteve afixado em sua casa um cartaz de Baruch Goldstein. Goldstein foi um dos poucos que podiam ser justificadamente chamados de terroristas judeus. Em 1994, ele matou a tiros 29 palestinos em uma mesquita na cidade de Hebron, na Cisjordânia. Naquela época, Ben-Gvir era considerado extremista demais para ser admitido no exército israelense nacional.

Ben-Gvir tem moderado sua linguagem desde então, mas ainda tem o hábito de sacar sua pistola quando se sente fisicamente ameaçado. Agora, ele afirma não odiar todos os árabes, mas apenas aqueles que são terroristas.

Smotrich, outra figura proeminente do Sionismo Religioso, é quase tão desprezível quanto Ben-Gvir. Entre outras coisas, ele se descreveu como um ‘homofóbico orgulhoso’. Uma vez, ele organizou um ‘desfile de monstros’ em oposição à Parada do Orgulho [Gay], em Jerusalém.

Não surpreende que muitos israelenses odeiem o Sionismo Religioso. Seu sucesso eleitoral, portanto, precisa ser compreendido no contexto mais amplo da política de Israel. Uma proporção significativa daqueles que votaram no grupo provavelmente o fizeram devido à escassez de alternativas, e não por qualquer compromisso profundo com sua ideologia extremista. Mesmo agora, muitos teriam votado no Yamina, um partido que até recentemente incluía o ex-primeiro-ministro Naftali Bennett. Mas o Yamina entrou mais ou menos em colapso. O sucesso do Sionismo Religioso é, portanto, muito menos significativo politicamente do que a maioria dos analistas supõe. Aqueles que realmente abraçam suas ideias de extrema-direita permanecem nas margens políticas de Israel.

A vitória do bloco de Netanyahu, como um todo, é certamente significativa. Mas não representa uma mudança política generalizada entre a população israelense. Em termos de voto popular, a direita só fez um pouco melhor desta vez do que na eleição do ano passado. Como observa um estudo no Times of Israel, em 2021, 2,13 milhões votaram nos partidos pró-Netanyahu, em comparação com 2,36 milhões este ano. Os partidos anti-Netanyahu aumentaram sua participação no voto, de 2,22 milhões para 2,33 milhões.

As peculiaridades do sistema eleitoral israelense explicam por que o bloco pró-Netanyahu obteve uma vitória decisiva desta vez, em termos de cadeiras. Dois partidos anti-Netanyahu, Meretz (os remanescentes de um antigo partido esquerdista) e Balad (um partido político árabe), ambos caíram um pouco abaixo do limiar de 3,25%, necessário para ganhar cadeiras parlamentares. Se ambos tivessem conquistado apenas mais alguns votos, a composição do novo Knesset teria sido muito diferente.

Por fim, os comentaristas ocidentais muitas vezes esquecem as coisas que tornam a sociedade israelense única. Há muito tempo existe um forte senso de medo existencial no panorama da política israelense. Afinal, existem organizações islâmicas poderosas, como o Hamas e o Hezbollah, e também regimes como o Irã, que se dedicam à destruição de Israel. Além disso, desde o conflito com o Hamas em 2021, este medo se fez acompanhar de crescentes preocupações com a segurança pessoal, graças em parte à violência intercomunal em ‘cidades mistas’, com habitantes árabes e judeus. Esta é a razão fundamental pela qual pessoas como Ben-Gvir ganharam apoio eleitoral – porque ele joga com a sensação de insegurança física dos indivíduos.

Compreender as forças em ação na política israelense não é fácil. Mas comparar os desdobramentos em Israel com os de outros países, como os Estados Unidos ou a Hungria, só confunde as coisas. Estas são sociedades fundamentalmente diferentes, com forças distintas em ação. Rotular movimentos políticos de vários tipos como de ‘extrema-direita’ é muito diferente de entender as forças que os impulsionam.

Os críticos ocidentais precisam começar a condenar Israel um pouco menos e a compreendê-lo muito mais.

 

*Daniel Ben-Ami é escritor e jornalista. Ele dirige o site Radicalism of Fools, dedicado à ressignificação do antissemitismo.

 

 

Traduzido por Telma Regina Matheus, para Vida Destra, 15/11/2022.                                  Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail  mtelmaregina@gmail.com ou Twitter @TRMatheus

 

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Telma Regina Matheus Jornalista. Redatora, revisora, copydesk, ghost writer & tradutora. Sem falsa modéstia, conquistei grau de excelência no que faço. Meus valores e princípios são inegociáveis. Amplas, gerais e irrestritas têm que ser as nossas liberdades individuais, que incluem liberdade de expressão e fala. Todo relativismo é autoritarismo fantasiado de “boas intenções”. E de bem-intencionados, o inferno está cheio. Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail: mtelmaregina@gmail.com ou Twitter @TRMatheus