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O Ocidente precisa parar de acreditar que a China pode reformar a si mesma

Prezados leitores:

Publicamos mais uma tradução de artigo relevante da imprensa internacional feita pela nossa colaboradora, a jornalista e tradutora Telma Regina Matheus. Apreciem!

 

O Ocidente precisa parar de acreditar que a China pode reformar a si mesma

 

O mais recente livro do reverenciado especialista em assuntos que envolvem a China, Frank Dikotter – ‘A China pós-Mao: a ascensão de uma superpotência’ –, faz um retrato dramático dos líderes ocidentais ingênuos que não estão dispostos a pressionar o PCC.

 

Fonte: The Federalist

Título original:  The West Needs To Stop Believing China Can Reform Itself

Link para o artigo original: aqui!

Publicado em 6 de abril de 2023

 

Autora: Helen Raleigh*

 

Um dos equívocos mais significativos do Ocidente em matéria de política externa foi sua fé cega de que os compromissos econômicos com a China dariam poder aos membros moderados do partido comunista para iniciar reformas políticas. Tal desejo, infelizmente, não é a única ilusão sobre a China a que o Ocidente sucumbiu, de acordo com o novo livro de Frank Dikotter, “A China pós-Mao: a ascensão de uma superpotência”.

Dikotter, como professor de Ciências Humanas na Universidade de Hong Kong desde 2006, ocupa um lugar privilegiado, de onde pode observar a história chinesa. Ele também viajou pela China inúmeras vezes, e examinou milhares de arquivos de governos municipais e provinciais e materiais de fontes primárias. Toda esta pesquisa o capacitou a compor a obra premiada “People’s Trilogy”, uma série de livros documentando a ascensão do Partido Comunista Chinês ao poder e o quanto sua ideologia e suas políticas infligiram uma dor inimaginável ao povo chinês de 1945 a 1976, ano em que o presidente Mao – o pior assassino em massa da história da humanidade – morreu.

O novo livro de Dikotter abrange o período de 1976 até os dias de hoje, e cobre eventos políticos significativos, como a luta interna pelo poder do PCC após a morte de Mao e o Massacre da Praça Tiananmen, em 1989. O livro também dedica muitas páginas à análise da economia da China. Uma contribuição imensa deste livro é que ele arrasa com a imagem de uma China mais aberta e poderosa.

O socialismo persiste na China

Uma falsa crença, embora comum, sobre a China é que, ao longo de quatro décadas de “reforma econômica”, a economia chinesa se tornou mais orientada ao mercado do que era sob o governo de Mao. Segundo Dikotter, o termo “reforma econômica” é incorreto. Na realidade, o PCC tentou “remendar uma economia planejada” e enganou o público sobre a reforma econômica sempre que precisou atrair investimentos estrangeiros ou buscar filiação em organizações internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Dessa forma, a economia da China hoje é tão socialista como era sob Mao, pois o Estado ainda controla todos os meios de produção. Dikotter escreve: “Atualmente, a terra pertence ao Estado, muitos recursos de matéria-prima pertencem ao Estado, grandes indústrias são controladas direta ou indiretamente pelo Estado, e os bancos pertencem ao Estado … 95 das 100 maiores empresas privadas pertencem a membros atuais ou antigos do partido”. Neste ponto, os bancos estatais distribuem capital como bens políticos às empresas estatais para atingir objetivos políticos. O governo chinês ainda segue o modelo de planejamento central da ex-União Soviética, promulgando um plano econômico a cada cinco anos. Não se permite que o capital flua livremente na China.

Então, como a economia socialista chinesa conseguiu gerar um crescimento econômico notável nas últimas quatro décadas? O povo chinês saiu da pobreza ao desobedecer às ordens do partido. De acordo com Dikotter, “mesmo antes da morte de Mao, os aldeões, em muitas partes da zona rural, procuraram recuperar o controle [não a propriedade] sobre a terra … Em alguns casos, as autoridades locais distribuíram discretamente a terra entre os agricultores. Em outras ocasiões, elas simplesmente fingiram não ver…”.

O partido lutou contra este movimento de descoletivização de baixo para cima, insistindo: “Não permitimos a agricultura familiar, não permitimos a divisão de terras e não permitimos que os indivíduos empreendam por conta própria”. Mas, no final, o partido teve que desistir quando os índices de produção da agricultura familiar superaram consistentemente os dos coletivos agrícolas administrados pelo governo. Nada disposto a admitir a derrota, o partido apresentou a descoletivização como ideia própria, reembalou-a sob o título “Sistema de Responsabilidade Contratual” e a fomentou em toda a zona rural, muito tempo depois que muitas aldeias já haviam implementado algo semelhante.

O que o fazendeiro chinês fez é o típico exemplo de como o povo deve “subverter o plano mestre” para, então, sobreviver em um regime socialista. Citando o historiador Robert Service, Dikotter escreveu: “A desobediência na União Soviética não foi tanto o pedregulho que parou as máquinas, mas o óleo que impediu o sistema de moer, até parar completamente”. Portanto, trapacear ou desobedecer às políticas partidárias não é apenas uma habilidade imprescindível à autopreservação sob o socialismo, mas também o que impede que a economia socialista da China entre em colapso.

Não há nenhum líder moderado no PCC

O PCC sempre enfatiza o crescimento econômico da China como a evidência inegável de que o partido dispõe de líderes competentes e sábios, que sabem como entregar crescimento e prosperidade ao povo chinês. Na verdade, os sucessores de Mao, incluindo Deng Xiaoping – que foi amplamente elogiado como o “arquiteto da reforma econômica” –, não foram nem competentes nem sábios. Por exemplo, após a reunião da Primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, com Deng Xiaoping e outros líderes seniores do PCC, em 1983, cujo objetivo era discutir o futuro de Hong Kong, “ela concluiu que nenhum dos líderes, em Pequim, compreendia as finanças internacionais ou o conceito de liberdade sob um regime de estado de direito”, escreveu Dikotter.

Também não há nenhum líder moderado no PCC. Tomemos Zhao Ziyang como exemplo. Zhao foi primeiro-ministro de 1980 a 1987 e secretário geral do PCC de 1987 a 1989. Depois que a direção do PCC ordenou que o Exército de Libertação do Povo reprimisse violentamente os manifestantes da Praça Tiananmen, Zhao foi colocado sob prisão domiciliar até sua morte em 2005. O Ocidente idolatrou Zhao como um membro moderado do partido, que pagara um preço alto – pessoal e profissionalmente – por tentar construir a democracia na China, mas essa imagem estava longe de ser verdadeira.

Na década de 1950, Zhao reprimiu impiedosamente os agricultores, quando, como autoridade provincial em Guangdong, recorreu à tortura para forçá-los a entregar seus suprimentos alimentares cruciais ao Estado. Zhao atingiu o auge de seu poder e tornou-se primeiro-ministro da China e, mais tarde, secretário geral do PCC, depois de vencer a luta pelo poder contra seu antecessor, Hu Yaobang, alegando que Hu não era suficientemente rigoroso contra a influência das ideias democráticas burguesas do Ocidente. Em outubro de 1987, Zhao declarou no Congresso do Partido: “Jamais copiaremos a divisão de poderes e o sistema multipartidário do Ocidente”. Alguns meses antes, Zhao comunicara a Erich Honecker, o líder da Alemanha Oriental, que, “uma vez elevado o padrão de vida, o povo na China reconhecerá a superioridade do socialismo. E então poderemos gradualmente reduzir ainda mais o âmbito da liberalização”.

Zhao parecia simpatizar com os manifestantes na Praça Tiananmen porque pretendia explorar o evento para ganhar poder sobre o líder supremo da China, Deng Xiaoping, que tinha a palavra final em todos os assuntos essenciais. O ardil de Zhao não funcionou, e ele foi expurgado depois de perder a luta interna pelo poder no partido. Ele não foi um mártir da liberdade e da democracia, como muitos no Ocidente escolheram retratá-lo.

O Ocidente deveria parar de procurar por líderes moderados no PCC, porque não há nenhum.

O Ocidente não aprendeu

Após o massacre da Praça Tiananmen, em 1989, o Ocidente deveria ter percebido que não há nenhum líder moderado no PCC, e que a China continua sendo um regime socialista brutal e tirânico. Tivessem os líderes de democracias ocidentais se unido para impor severas sanções econômicas à China e, talvez, eles tivessem conseguido forçar a liberalização de reformas políticas. Em vez disso, os apologistas da China, como Henry Kissinger, prometeram apoio ao PCC, como ‘velhos amigos’ da China. Falando a uma audiência global na Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, George H.W. Bush, disse: “Não creio que devamos julgar todo o Exército de Libertação do Povo da China por esse terrível incidente”. Embora Deng Xiaoping tenha ordenado o massacre, Bush exonerou Deng qualificando o açougueiro comunista de “líder progressista”. Bush se apôs ao uso de sanções contra Pequim porque acreditava que os contatos comerciais superariam esses “infelizes eventos” e levariam a China inexoravelmente para a democracia.

Um mês depois do massacre, o conselheiro de Segurança Nacional do presidente Bush, Brent Scowcroft, reuniu-se com Deng Xiaoping em Pequim e lhe assegurou: “O presidente Bush é um verdadeiro amigo, um verdadeiro amigo seu e da China”. O PCC percebeu de imediato que não tinha o que temer e não mudou nada. Os políticos ocidentais acolheram entusiasticamente o regime em instituições internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), e abriram seus mercados para as exportações chinesas. Empresários estrangeiros trouxeram seus produtos, tecnologias e dinheiro para a China. A ilusão e a ganância do Ocidente ajudaram a prolongar a longevidade do PCC e facilitaram a ascensão de um adversário formidável que, agora, ameaça as democracias ocidentais e os valores democráticos.

A única boa notícia que emerge do livro de Dikotter é que a China comunista não é tão poderosa quanto diz. Sua economia está “alicerçada na especulação, e tudo está super alavancado”. A nação também enfrenta uma crise demográfica à medida que sua população envelhece, e espera-se uma diminuição pela metade até 2100. Nas palavras de Dikotter, “a China se parece com um petroleiro que, à distância, dá a impressão de um navio, com o capitão e os tenentes orgulhosamente em pé na ponte, enquanto abaixo do convés, os marinheiros bombeiam desesperadamente a água e tapam os buracos para manter o navio flutuando”.

Contudo, uma China enfraquecida pode ser ainda mais perigosa do que uma China poderosa. Pequim pode aprender com a Rússia e tentar reivindicar sua relevância tomando ações agressivas no exterior, ou seja, invadindo Taiwan. O Ocidente deveria aprender com os erros políticos do passado, olhar para além das ilusões do PCC e preparar-se para o pior.

 

*Helen Raleigh é empreendedora, escritora e palestrante. É colaboradora sênior do Federalist. Seus artigos são publicados em outras mídias nacionais, como The Wall Street Journal e Fox News. Helen é autora de vários livros, incluindo “Confucius Never Said” e “Backlash: How Communist China’s Aggression Has Backfired”.

 

 

Traduzido por Telma Regina Matheus, para Vida Destra, 15/04/2023.                          Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail  mtelmaregina@gmail.com ou Twitter @TRMatheus

 

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Telma Regina Matheus Jornalista. Redatora, revisora, copydesk, ghost writer & tradutora. Sem falsa modéstia, conquistei grau de excelência no que faço. Meus valores e princípios são inegociáveis. Amplas, gerais e irrestritas têm que ser as nossas liberdades individuais, que incluem liberdade de expressão e fala. Todo relativismo é autoritarismo fantasiado de “boas intenções”. E de bem-intencionados, o inferno está cheio. Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail: mtelmaregina@gmail.com ou Twitter @TRMatheus