No mundo político, a definição original de algumas palavras, termos e conceitos sofrem modificações ao longo de seu uso por motivos de conveniência, semelhança ou até mesmo mau caratismo, quase sempre por parte da esquerda revolucionária, que possui uma sede de poder e controle social insaciável. A exemplo disso, temos a palavra “fascista”. Se você segue alguma vertente da direita política, seja a liberal seja a conservadora, e não foi chamado de fascista por um esquerdista que pasme, não tem a menor ideia do que essa palavra significa, saiba que você está sendo de direita de forma errada. Vamos apenas fazer uma análise rápida da palavra fascismo: segundo Mussolini, socialista e seu idealizador, o fascismo consistia em uma ideologia em nome de um estado forte e ultranacionalista, o qual controlava todos os setores da sociedade, como sindicatos, mídia, partidos políticos, educação etc (qualquer semelhança das características do fascismo com o plano de governo de Fernando Haddad é “semplice coincidenza”, ou, no bom e velho português brasileiro, “mera coincidência”. Já dizia Lênin: “acuse os do que você é”). Hoje, o termo fascista passa longe disso, pois a esquerda conseguiu a proeza de converter o seu significado, que antes era “socialista autoritário” para “pessoa de direita que não dá o cu, não fuma maconha e não concorda com minhas idiotologias, por mais absurdas, ilógicas e anti-éticas que sejam”.
Voltando à democracia, essa “troca troca” de significados do termo se torna mais grave, pois ela é o regime que faz com que as engrenagens do mundo político gire, afetando a vida de todo e qualquer cidadão. Hoje, a esquerda conseguiu fazer com que ela significasse uma espécie de catalizador de um direito universal e inquestionável a todos. Explico: a “democratização das universidades”, por exemplo, que diz que todos devem ter acesso a universidade pública, pois ela, na cabeça deles, é um direito de todos. Só na cabeça deles, porque a universidade é um recurso escasso, e seus sub-recursos também o são, como o limite de orientação, ensino e correção do professor, materiais, computadores, livros, espaço etc. Logo, como deixou bem claro o ministro da educação Ricardo Velez, não existe “democratização da universidade”, existe universidade para uma elite intelectual, que não é nem de longe a mesma coisa que elite econômica e a prova disso é que na Unicamp, recentemente, a maioria dos aprovados eram oriundos de escola pública. Nota-se, portanto, que a esquerda usa a “democratização” da universidade apenas para recrutar militontos em troca de um diploma, mas esquecem que diploma não pensa, não pratica atos e não dá resultados, esses são méritos do empreendimento intelectual dos indivíduos detentores do diploma, os quais muitas vezes não dão o resultado esperado justamente por trocar a aula pela militância política, com a benção de alguns professores. Por este motivo, alunos socialistas que cursaram economia (acredite, isso existe em universidades públicas) não conseguem emprego em empresas boas comparado a um aluno do Insper, universidade privada e referência no ensino de economia, por exemplo, afinal de contas, se eu sou gerente de uma empresa mega capitalista, como um banco, por que raios eu iria contratar uma pessoa que, embora tenha estudado numa universidade supostamente boa, tem ideias que vão totalmente contra a política da empresa, que é o acúmulo de capital, sendo que eu posso contratar outra pessoa que tem consonância com os ideias do banco?
Democracia não é nem de longe o oposto de ditadura, pelo contrário, é o caminho ou a causa dela, pois na prática, não passa de um regime em que a maioria manda na vida da minoria. Vulgarmente, seria uma ditadura da maioria, pois aqui há várias pessoas mandando na vida umas das outras, ao invés de uma só mandando em geral. O problema é que quando um governo chega ao poder com más intenções, como sugar todos os recursos possíveis do estado e aparelhá-lo, do judiciário às universidades públicas, ele consegue fazer com que a maioria, em nome da democracia, siga sem questionar as suas imposições, tendo autoridade “onipresente e invisível, como um decreto divino”, exatamente da mesma forma como o PT fez, elevando seu condutor, o sr. Luiz Inácio, ex preso político e atual político preso, a uma espécie de divindade que não está sujeita à nada, não importando que hajam provas cabais para sua primeira condenação.
No nosso atual contexto, de estado democrático de direito, temos que compreender a democracia em seu sentido estrito que é, a partir de uma análise teleológica do momento na Grécia antiga em que Clístenes a criou, a limitação do poder arbitrário do estado de controlar a vida dos indivíduos, transferindo parte desse controle para os indivíduos. Logo, democracia tem a ver com instituições e controle externo entre elas, a exemplo do sistema de freios e contrapesos que há entre os poderes, o qual um controla o outro, impedindo, desta forma, que uns cometam injustiças arbitrárias. Isso pelo menos na teoria, na prática não funciona tão bem, porém, ainda assim, é melhor que ter um único indivíduo ou poder mandando e desmandando na vida de todos, sem haver recursos para recorrer contra decisões arbitrárias ou autoritárias. Imagine, por exemplo, se não houvesse as outras instituições, como Câmara, Senado, STF e PGR durante o governo Lula e este pudesse achacar o estado e se apropriar dele mais do que já fez. Embora as outras instituições falharam, e muito, em certos aspectos, acertaram em cheio em outros, como quando o legislativo cassou Roberto Jefferson, operador de propinas do mensalão, ou quando Sérgio Moro condenou Lula, ou, ainda, quando o Congresso, ouvindo o clamor popular, retirou Dilma, a “mulher sapiens” que afundou o Brasil numa crise que sentimos até hoje. Se não houvesse democracia, ainda que falha, nada disso teria chegado perto de acontecer e sabe se lá em que situação estaríamos hoje, talvez pior que Cuba e Venezuela, dado que Lula era e é um defensor ferrenho do socialismo.
Muito se questiona qual é a solução para as deficiências da democracia. Noberto Bobbio, filósofo político italiano, dizia que a solução para as deficiências da democracia seria mais democracia. Essa premissa, se analisada no sentido estrito da democracia, está certa, isto é, a solução para os males da democracia é a redução do poder estatal e aumento do poder e autonomia do indivíduo, para que tome suas decisões sozinho, sem um órgão central planejando e o enchendo de burocracias desnecessárias. Por outro lado, se analisada sob o ponto de vista esquerdista, vemos um erro crasso, pois se democracia é a limitação da ação do estado e do governo, ao criar mais universidades e mais “direitos”, o governo não está reduzindo o seu poder, pelo contrário, está aumentando o, junto com sua influência, e para pagar essa conta, terá que cobrar mais impostos, o que diminui o poder o indivíduo e aumenta o poder do estado, tendo ai uma espécie de antônimo da democracia ou “contra-democracia” travestida de benesse social.
Para finalizar, podemos concluir que a democracia é um conflito insolúvel de crises, uma guerra de instituições que disputam o poder e que boa parte desse poder deve ser transferido para as mãos da população em si, com o objetivo de evitar decisões coletivas que, ao favorecer ora um grupo, ora outro, desequilibram ainda mais o desiquilíbrio do impasse que é este regime de governo, podendo resultar num clamor de um desses grupos por uma ditadura, pois essas “vítimas de decisões democráticas“ podem ter a falsa impressão de que é melhor ser fodido por uma pessoa do que por várias.
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