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O vírus de Wuhan: Para surdos como eu, a obrigatoriedade de máscara facial impõe um isolamento sem fim

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O VÍRUS DE WUHAN

Para surdos como eu, a obrigatoriedade de máscara facial impõe um isolamento sem fim

 

 

Fonte: The Federalist

Título Original: For Deaf People Like Me, Mask Mandates Impose Never-Ending Isolation

 Link para a matéria original: aqui!

Publicado em 21 de dezembro de 2021

 

Autor: Brad Kirby

 

Tentar ser ‘normal’ e ter uma vida normal sempre foi meu objetivo. Isto foi quase impossível durante estes dois anos.

 

Sozinho. Constrangido. Envergonhado. Vazio. Marginalizado. Ignorado. Rejeitado. Mencionei sozinho? Estas são apenas algumas das palavras que descrevem o que sente, diariamente, uma pessoa surda ou com deficiência auditiva.

Não é uma população muito grande em nosso país quem tem problemas auditivos, mas para nós é um peso enorme. De acordo com o Instituto Nacional de Surdez e Outros Distúrbios da Comunicação (NIDCD), nos Estados Unidos, de cada 1.000 bebês, aproximadamente 2-3 nascem com alguma deficiência auditiva. Acrescente a isto as pessoas que perdem a audição devido a traumas, doenças e idade, e você terá cerca de 15% ou 37 milhões de americanos, acima dos 18 anos, com pelo menos alguma dificuldade de audição.

Nasci com perda auditiva nos dois ouvidos. Desde os 6 anos de idade uso aparelhos de surdez. Ser deficiente auditivo é uma imensa desvantagem na vida. Por exemplo, quando criança, eu não ouvia o apito enquanto tentava praticar esportes, e continuava a jogar até ver as pessoas rindo ou tentando chamar minha atenção. Não entendia as piadas porque não conseguia entender as palavras que eram ditas. Quando rio, meu aparelho auditivo chia porque meus ouvidos se movem e o espaço nos canais auditivos provocam retorno do som.

Ouço apenas partes das frases e tenho constantemente que processar, em uma fração de segundo, os sons das palavras ditas, aí tenho que combinar mentalmente esses sons com palavras que já ouvi antes, depois juntar a frase toda em minha mente, apenas para conseguir me comunicar.

Tentar ser “normal” e ter uma vida normal sempre foi meu objetivo. E isto tem sido quase impossível por quase dois anos agora. Na primavera de 2020, entrou em vigor a primeira obrigatoriedade de uso de máscara facial devido à Covid-19. Eu sabia que estava encrencado.

Além de não gostar de coisas no meu rosto, por causa de incidentes na minha carreira policial, também incomoda ter as alças atrás dos meus ouvidos, quando estou com meu aparelho auditivo. Junte a dor e o desconforto e meu leve TEPT ao fato de que, agora, não consigo entender uma única palavra falada por alguém usando uma máscara facial, pois não consigo ler os lábios da pessoa nem ver suas expressões faciais.

Fui a uma loja em busca de uma peça específica e acabei pegando a peça errada porque não conseguia entender o atendente. Ganhei severos olhares do caixa no banco e no supermercado, porque lhes pedi que abaixassem as máscaras e repetissem o que haviam dito, pois eu não tinha conseguido entendê-los. Também recebi olhares severos das pessoas que estavam atrás de mim, na fila.

Um atendente de loja me disse “não”, que não abaixaria sua máscara facial para me dizer o que eu precisava saber, por medo de que eu o deixasse doente. Estes são alguns de incontáveis outros incidentes de olhares fulminantes e comentários, quando eu estava acompanhado de um familiar e pedia-lhe que me dissesse o que tinha sido falado.

É constrangedor ser o diferente onde quer que eu vá. Não posso nem ir à igreja. Tentei o serviço de estacionamento da rádio FM e o vídeo ao vivo do meu computador, mas nenhum deles dispunha de legendagem. Não frequento a igreja desde abril de 2020, durante o fechamento voluntário de “15 dias para reduzir a disseminação”.

Não fui incluído nas centenas de estudos desaprovando a eficácia das máscaras faciais. Falei com nossa secretaria de saúde, autoridades do condado, conselheiros municipais, líderes da igreja, e até com o gabinete do governador e as autoridades de saúde do estado, pedindo-lhes que reconsiderassem a obrigatoriedade das máscaras faciais e expliquei as razões. Nunca recebi nada além de manifestações de pesar e desculpas.

Cada determinação ou decreto inclui dizeres como “uso obrigatório da máscara facial, a menos que tenha que se comunicar com alguém com dificuldade de audição ou surdo”, ou algo a respeito de ter razões médicas para não usá-la. Ainda assim são tratadas como obrigação de todos, sem exceção, mesmo por pessoas com motivos legítimos. Por isso, tenho evitado ir a locais que exigem máscaras faciais, para não causar tumulto quando digo que não consigo ouvir alguém.

Achei que isso era discriminação e entrei em contato com advogados e até com a União Americana de Liberdades Civis. Ninguém se dispôs a ouvir minhas preocupações. Ninguém liga se há um grupo de pessoas no país sendo “legalmente” discriminado em nome da “ciência”, mesmo que em todos os decretos e determinações haja brechas para determinadas situações que isentam alguém de usá-las.

Por exemplo, uma brecha é… “deve usá-la quando entrar no restaurante, mas pode tirá-la quando se sentar a 3 metros da porta de entrada”. A contradição deveria fazer as pessoas questionarem essas determinações, mas aparentemente não o fazem.

Atendi e protegi pessoas dos males da humanidade por duas décadas, na polícia. Agora, preciso de ajuda e meu pleito está caindo em ouvidos moucos.

 

*Brad Kirby vive em Durham, Carolina do Norte. É casado há 16 anos e tem dois filhos. Ele tem perda auditiva congênita e sofre de uma forma leve de vertigem e fortes zumbidos devido a essa perda auditiva.

 

 

Traduzido por Telma Regina Matheus, para Vida Destra, 25/12/2021.                                  Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail  mtelmaregina@gmail.com ou Twitter @TRMatheus

 

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Telma Regina Matheus Jornalista. Redatora, revisora, copydesk, ghost writer & tradutora. Sem falsa modéstia, conquistei grau de excelência no que faço. Meus valores e princípios são inegociáveis. Amplas, gerais e irrestritas têm que ser as nossas liberdades individuais, que incluem liberdade de expressão e fala. Todo relativismo é autoritarismo fantasiado de “boas intenções”. E de bem-intencionados, o inferno está cheio. Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail: mtelmaregina@gmail.com ou Twitter @TRMatheus