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Por que a Direita ataca os liberais?

Quem navega nas redes sociais com assiduidade, já deve ter testemunhado, ou mesmo protagonizado, ataques de membros da Direita aos chamados Liberais. Eu percebi, porém, que muitos desses ataques não são justificáveis, e que muitos liberais são atacados de forma injusta. Isso se deve ao baixo conhecimento das pessoas acerca das doutrinas políticas, como o Liberalismo e o Conservadorismo. Muitos que se dizem conservadores, por exemplo, sequer sabem definir o que é o Conservadorismo. Infelizmente nosso povo carece de apreço pela leitura e pelos estudos, o que leva muitas pessoas a atitudes e discursos sem nenhuma base intelectual.

É comum os liberais serem confundidos com os esquerdistas, e é este o motivo para a maioria dos ataques contra eles. Mas por que tal confusão ocorre? Vou tentar responder de forma breve neste artigo.

Por falta de conhecimento acerca do que é o Liberalismo e os valores que esta doutrina política defende, muita gente confunde facilmente as pautas liberais e as pautas esquerdistas. Realmente, em muitos casos a diferença é sutil. O Liberalismo, por exemplo, defende os direitos do indivíduo, como o direito à vida, à liberdade, à segurança, e à busca da felicidade, para citar alguns, considerando-os direitos naturais do homem, não sendo necessário ser concedidos pelo Estado ou pelo governo, e com a busca individual pela satisfação desses direitos sendo considerada legítima. Para o Liberalismo, primeiro vem o indivíduo, depois vem a sociedade.

É o contrário do pensamento esquerdista, que coloca o coletivo acima do indivíduo, e coloca sobre o Estado a autoridade de determinar quais serão os direitos usufruídos por aqueles sob os seus cuidados.

E falando em Estado, os liberais defendem o Estado mínimo, com atribuições e poderes restritos, deixando o protagonismo para os indivíduos. Para os liberais, o Estado só deve cuidar daquilo que as pessoas não podem cuidar por si mesmas, com a segurança pública e a defesa nacional servindo como exemplos de áreas onde a atuação do Estado é necessária.

Já a esquerda defende o protagonismo estatal, dando ao Estado atribuições e poderes que acabam por interferir na vida das pessoas e cercear as liberdades individuais, ao impor sobre os indivíduos um coletivismo não natural. O Estado defendido pela esquerda atropela os direitos que os liberais julgam ser naturais, e pode não considerar legítima a busca por estes direitos.

As pautas esquerdistas como o direito ao aborto, a liberação das drogas, a ideologia de gênero, e as questões raciais ou envolvendo a comunidade LGBT, embora tratem da defesa de direitos individuais, tem abordagem distinta da Liberal. Os esquerdistas defendem tais direitos de forma coletivista, e creem que tais direitos devem ser definidos e assegurados pelo Estado, impondo à toda a sociedade conceitos que deveriam ser tratados no foro individual.

Já os liberais defendem que os indivíduos devem decidir por si mesmos, o que fazer em relação a estes temas, sem a intromissão estatal. Trata-se de temas que interessam apenas ao indivíduo, segundo a ótica liberal. Este posicionamento em relação a estas pautas, talvez seja o que mais gere atrito entre os liberais e os conservadores. As soluções também diferem bastante: enquanto os liberais colocam sobre o indivíduo a responsabilidade de decidir o que é melhor para si e de buscar soluções para os seus problemas, os esquerdistas colocam esta responsabilidade sobre o Estado, e esperam que este ofereça as soluções. Ou seja, liberais defendem que o indivíduo tome decisões de maneira autônoma e arque com as consequências, enquanto os esquerdistas querem que o indivíduo dependa do Estado para encontrar as soluções dos seus problemas e arcar com o ônus delas.

Os liberais, por defenderem o protagonismo do indivíduo, acreditam ser natural a diversidade gerada pela liberdade, e também veem com naturalidade o fato que os mais capazes terão melhores resultados. Já a esquerda, embora adote um discurso de pluralidade e de respeito às diferenças, busca igualar a todos, mesmo que tal igualdade signifique o cerceamento das liberdades. Para os liberais, a igualdade é o início do processo, ou seja, todos devem ser iguais perante a lei, e devem ter as mesmas oportunidades, com cada pessoa obtendo resultados segundo os seus próprios esforços. Os esquerdistas querem a igualdade no final do processo, ou seja, não importa o esforço individual, o resultado deverá ser o mesmo para todos.

O que pretendi mostrar aqui, através destes breves exemplos, é que não se deve confundir liberais com esquerdistas. Ambos tem valores, visão de mundo e objetivos distintos. E é claro que, como toda doutrina política, o Liberalismo possui os seus prós e contras.

Não é possível aprofundar estes temas aqui, por isso recomendo aos amigos leitores, que tenham o interesse em conhecer mais sobre os assuntos mencionados, a leitura dos livros Liberalismo e Democracia, de Norberto Bobbio, O Caminho da Servidão, de Friedrich Hayek, e Um Prefácio à Teoria Democrática, de Robert Dahl.

Mas espero que, de agora em diante, todos saibamos distinguir os verdadeiros dos falsos liberais, que possamos distingui-los dos esquerdistas. Que estejamos mais atentos, e que possamos seguir o nosso combate, identificando corretamente os nossos inimigos!

 

 

Sander Souza (ConexãoJapão), para Vida Destra, 12/02/2021.
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13 COMMENTS

  1. Neste espetacular artigo de @Srsjoejp em que questiona a razão da Direita atacar os liberais, o autor explica com maestrias as principais características dos liberais. No mais, posso dizer Paulo Guedes é um liberal. Agora identificar um conservador com viés liberal ou vice-versa, já é mais difícil.

  2. Bom dia!
    Adorei colocando os pingos nos is das ideologias.
    Liberal é aquele que preserva sua liberdade e reconhece a do outro.
    É independe e livre.
    Obrigada Sander.

  3. Excelente, Sander. Vc levantou uma questão que dá muito o que falar e pensar. Uma coisa penso ser certa: o inimigo é a esquerda. É com ela que devemos nos preocupar e não nos degladiarmos por ideias parecidas ou que buscam os mesmos fins. Creio que a forma mais prática de combater a “sinistra” não é pelos “ismos” – sem qualquer analogia a Deng Xiao Ping -, pois nesse campo existe muita distorção e confusão conceitual premeditada; é pelas ideias-força, pelos temas que ela inclue na agenda mundial, onde ficam muito mais claros os reais objetivos e as estratégias para atingi-los. Parabéns.

  4. Muitas vezes existe sim uma confusão e o equilíbrio é a melhor saída para o extremos. Quem poderia controlar a sanha autoritária das big techs? Quem poderia controlar o poder sem medidas de Maduro? São questões que me atormentam, pois para a primeira a reposta é o estado, já a segunda seria a liberdade de expressão que é gerada por uma sociedade liberal. Quando uma e outra extrapolam é sim o maior problema.

  5. Excelente nível que está sendo colocada a questão. Parabéns!
    Segue meu comentário com o fim de esclarecer algo essencial!
    A real divisão que existe é entre conservadores X todo o resto progressista (aqui incluídas todas as vertentes liberais).
    Esta divisão iniciou com o término da idade média (época em que todas as ações do homem eram voltadas para Deus, em obediência ao primeiro mandamento) e início do renascimento, quando o homem foi colocado no lugar de Deus (humanismo).
    Este também foi o fundamento para o surgimento do absolutismo (o absolutismo não é da idade média, foi do período seguinte já dominado por progressistas). Nessa época, séculos XVI e XVII, ocorreram vários conflitos religiosos entre católicos e protestantes. Então, com a desculpa de dar fim a essas guerras civis e trazer de volta a paz, o poder absoluto foi dado aos rei (fundamentado na ideia humanista de que um homem, e não Deus, poderia ter um poder absoluto).
    O conservador quer preservar o mundo com valores e princípios deixado por nossos antepassados. No caso, a civilização cristã ocidental, formada na idade média e fundamentada na Filosofia Clássica Grega, nos Institutos Romanos e na Fé Cristã.
    Progressistas são aqueles que acreditam que a sociedade está em um constante progresso em direção a um maravilhoso mundo novo imaginado por alguém. E que, por acreditarem que o sistema que conceberam seria melhor, os liberais (assim como todos os progressistas) atuam para que a sociedade caminhe nesse rumo que imaginam o melhor.
    Aqui está uma das grandes diferenças entre liberais e conservadores! Conservadores também aceitam mudanças, todavia mudanças que ocorram de maneira natural, em observância aos valores acima mencionados, sem interferência para forçar a sociedade tomar um outro rumo.
    O liberalismo, como todas as ideologias progressistas, surgiu após o humanismo. Foi um sistema imaginado por alguém como o ideal (assim como o comunismo, o anarquismo, o libertarianismo, o nazismo….) e não visa manter os valores base da nossa sociedade. Como dito no tópico: “Para o Liberalismo, primeiro vem o indivíduo, depois vem a sociedade.”.
    Daí os liberais pouco se importarem com temas ditos “sociais” como liberação das drogas, aborto, casamento homossexual, família tradicional… (se esses temas são importantes para quem estiver lendo, então você provavelmente é conservador e não um liberal).
    Um dos poucos pontos que aproxima um conservador de um liberal é a economia, todavia este é um tema menos importante para um conservador.
    Os atritos acabam ocorrendo, pois os liberais integram uma das vertentes progressistas antagônicas ao conservadorismo.

    • Muito obrigado por ler e pela excelente exposição!
      Concordo com você!
      Conservadores e liberais tendem a se aproximar nas questões econômicas.
      Nas ditas “pautas de costumes”, a distância que separa os dois grupos é enorme, pois enquanto liberais caminham segundo seu próprio entendimento, conservadores, caminham com seu entendimento sendo balizado pelas Sagradas Escrituras. O conflito acaba sendo inevitável.
      A direita abarca outras vertentes além do conservadorismo, por isso não tratei do tema apenas do ponto de vista conservador, mas tentei dar uma visão geral. Até porque é um tema muito complexo para tratar em apenas um artigo.
      Mais uma vez agradeço o seu rico comentário!

  6. Posso até estar errado, mas acho que o motivo da direita atacar liberais é porque em alguns lugares do mundo (principalmente os EUA) a palavra liberal é associada com isso que aqui nós chamamos de progressistas.

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