A tal manifestação do dia 4 de junho [2023], longe de ser orgânica e nascida do povo, tem liderança.

Liderança que veste Prada!

Quando Satanás faz uma convocação, o perigo é mais do que gigantesco, é letal. Pai da mentira, o demônio se disfarça, traveste, amansa a voz (ou a intensifica), escolhe inteligentemente as palavras (que, no geral, repetem o que VOCÊ defende). E quando tem você no lugar, dia e hora que ele estipulou, pelos motivos que roubou de você, mas que não valida, ele entorna o caldeirão fervente sobre todos.

A tal manifestação do dia 4 de junho [2023], longe de ser orgânica e nascida do povo, tem liderança. Liderança que veste Prada!

Não caio na falácia de que, no impeachment da presidente cujo nome me recuso a pronunciar, os mesmos “movimentos populares” estavam presentes, nem aceito como argumento que hoje precisamos unir forças com eles para salvar o país da tirania em franca tentativa de implantação. Primeiro, porque, naquela época, não sabíamos um milésimo do que sabemos hoje. Segundo, porque esses tais movimentos mal existiam, e influenciaram pouquíssimo aquelas manifestações, mas fizeram direitinho o marketing próprio e cravaram a narrativa, como se verdade fosse, de seu protagonismo. Terceiro, porque foram coartífices da tirania que hoje nos massacra. Como disse, Satanás faz escolhas inteligentes de palavras.

Há que se ter coerência, ao menos. Onde está a lógica de me juntar aos que nos trouxeram até a situação abominável que vivemos e que agora me chamam para ajudar a desfazer a abominação que ELES CRIARAM?

Lógica não há, mas há uma agenda. Uma agenda funesta de alcançar o esquecimento das mazelas que praticaram, e de gestar heróis que, um dia, assumirão o poder com a SUA, com a NOSSA ajuda. Heróis ocos.

Então, não. Não irei.

A cassação do deputado federal Deltan Dallagnol é ilegal, inconstitucional, estapafúrdia, patética e TEM QUE SER contestada e anulada. Quem pode fazer isto, quem tem esse poder? O deputado federal Arthur Lira, atualmente presidente da Câmara, e os deputados todos. Ponto. A minha presença nas ruas – para exigir o que exigimos já há mais de 4 anos e que motivou patriotas a perseverarem durante 70 dias (repito, SE-TEN-TA dias) em frente aos quartéis (visto que tudo o mais, entendendo-se Câmara e Senado, havia falhado)… pois a minha presença nas ruas, agora, ao lado de verdadeiros lixos inumanos – como é o caso de mbl e vpr – não mudará nada. Ou melhor, mudará: dará a esses movimentos pútridos um protagonismo que nunca tiveram. E ESTA É A AGENDA. E talvez transformem Dallagnol em herói. Acho até que também está na agenda.

Alguém se lembra de que pelo menos 2 membros do mbl são escandalosamente PREDADORES sexuais, que se infiltraram em um país em guerra e mostraram toda sua ‘humanidade’ ao divulgarem EM VÍDEO que, ali, as ‘presas’ eram lindíssimas, fáceis e… pobres? ‘Presas’ que sucumbiriam inocentemente às suas investidas macabras? Eu lembro. E digo mais: onde há 1 predador, há vários. Quem os aceita como companhia de jornada é cúmplice, e a cumplicidade, neste caso, é tão ou mais nojenta do que o criminoso.

Alguém se lembra de que o VPR fez campanha pelo voto nulo? Que tentou desqualificar a campanha pelo voto impresso? Alguém se lembra de que o VPR criou o patético ‘bolsolula’ para propagar a narrativa estúpida de que não havia diferença entre um e outro? Pois eu lembro.

Lembro-me também de falas e ações e atitudes e posturas deploráveis do ex-procurador Deltan Dallagnol. Mas essas, sim, eu guardo na gaveta, porque são irrelevantes neste momento de ação e combate a uma cassação abusiva.

A deputada federal Carla Zambelli publicou no Twitter: “Mas estamos em um momento em que será importante a UNIÃO para derrubar nosso inimigo. Hoje é o Deltan, amanhã pode ser o Nikolas ou eu…. (não é difícil, de verdade), vocês não gostariam que esses movimentos também fossem às ruas por nós?”. Entendo a boa intenção da deputada. Problema: se acontecer com os deputados conservadores, se acontecer com você, Carla, ou com qualquer outro deputado da nossa base, eles NÃO irão às ruas nem por vocês, nem por nós, menos ainda pelo Brasil. Assim como, agora, não estão indo por causa de Dallagnol; o ex-procurador é tão-somente a escada que pode tirá-los do alçapão do porão do poço sem fundo em que afundaram.

Miríades de arbitrariedades, abusos e ilegalidades

Eu gostaria muito de ter visto todo esse empenho, inclusive daqueles que admiro e apoio, quando a PRIMEIRA arbitrariedade, o primeiro abuso, a primeira ilegalidade foi praticada.

• Interferência de togados supremos nas prerrogativas do Presidente Bolsonaro: silêncio, todo mundo ocupado.
• Enfraquecimento da esfera federal durante a fraudemia e consequente salvo-conduto para governadores fazerem o que quisessem (e eles fizeram): silêncio, todo mundo apavorado e escondido embaixo da cama.
• Proibição de medicamentos com quase 1 século de uso e eficácia comprovada: silêncio, todo mundo olhando para o céu.
• Suspensão e fechamento de mídias conservadoras, confisco de remunerações, com claríssima PERSEGUIÇÃO a jornalistas e humoristas; para quem não sabe, já temos exilados políticos: mais murmúrios na Internet, e o resto foi silêncio.
• Aplicação de CENSURA, em mais um estupro da Constituição Federal: mais silêncio. [E cá estou eu inclusive me perguntando se devo publicar este artigo.]
• Inquérito ilegal e inconstitucional instaurado por togados supremos e arbitrados por eles mesmos: alguns murmúrios na Internet. Única manifestação contundente, pasmem!, foi do ex-ministro Marco Aurélio Mello (ele próprio autor de várias decisões, digamos, polêmicas) – “Este, que é um inquérito do fim do mundo”.
• Prisão – vou repetir, PRI-SÃO – de um deputado federal, em uma flagrante cusparada no Art. 53 da Constituição Federal: sussurros na Internet e alguns discursos na tribuna, sem mencionar o aval covarde da Câmara a uma prisão ilegítima. De resto, todo mundo preocupado em não virar alvo, ou até mesmo satisfeito porque a vítima era um desafeto.
• Anulação – vou repetir, A-NU-LA-ÇÃO – da graça presidencial ao Daniel Silveira. Se isso não é usurpar poder, não sei o que é. Mas José Dirceu continua solto, assim como um certo ladrão que se apossou da Presidência da República no tapetão.
• Prisão de mais de 1.000 cidadãos brasileiros – vou repetir, MAIS DE 1.000 cidadãos – por atos de vandalismo que não praticaram, vítimas da PERFÍDIA de militares que emporcalham a farda e de canetas que os amontoaram em um galpão da Polícia Federal: mulheres, idosos, pessoas com debilidades físicas e doenças graves (diabete, câncer), crianças e, pasmem de novo!, até animais de estimação. As imagens dessa calamidade me trouxeram à lembrança outras muito semelhantes, do século passado.

…. e não fica por aí, as arbitrariedades são às centenas.

Então, não. Não irei a uma manifestação convocada por gente dessa estirpe, cuja pauta e agenda nada têm a ver com o que valorizo, defendo, e pelo que luto.

Que os representantes da direita, ou os que assim se autodenominam, assumam o protagonismo de convocar manifestações, de liderar a luta pelo resgate de um Brasil sequestrado pelo narcoestado e seus bandidos de estimação. Convoquem vocês, deputados e senadores da direita, manifestações com pautas claras, verdadeiras, corajosas, urgentes – e, então, poderão contar comigo.  E então não precisarão pegar carona em ‘movimentos’ espúrios, escondendo-se em mantras que pedem uma união impossível.

Por ora, Satanás sorri enquanto afia as garras, satisfeito de ter escolhido as palavras com tanta inteligência.

Telma Regina Matheus, para Vida Destra, 26/05/2023.                                                    Sigam-me no Twitter, vamos debater o meu artigo! @TRMatheus

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