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Por que eles odeiam Joe Rogan
Fonte: Spiked online
Título Original: Why they hate Joe Rogan
Link para a matéria original: aqui!
Publicado em 8 de fevereiro de 2022
Autor: Tom Slater
As elites estão apavoradas com a possibilidade de alguém, em algum lugar, estar pensando por si mesmo.
H.L. Mencken disse que o puritanismo é o medo persistente de que alguém, em algum lugar, possa ser feliz. Bem, se um medo em particular assombra as elites da América, hoje, é certamente o medo de que alguém, em algum lugar, possa estar pensando por si mesmo. Isso, em essência, é a força propulsora da contínua perseguição a um comediante afável e seu podcast de audiência considerável.
Se você ainda não sabia quem era Joe Rogan antes da última semana, agora com certeza sabe. A controvérsia sobre seu podcast, The Joe Rogan Experience, se tornou matéria dos noticiários internacionais. Rogan, um stand-up americano e comentarista de luta-livre, conquistou espaço, ao longo de 12 anos, em uma das maiores plataformas do mundo. E a mídia corporativa, os políticos e todos os habituais suspeitos não ficaram nada satisfeitos com o que ele vinha fazendo ultimamente.
Suas recentes entrevistas com médicos e cientistas céticos quanto às vacinas provocaram um boicote à rede Spotify. O serviço de streaming assinou uma negociação de 100 milhões de dólares com Rogan, no ano passado, visando captar seus 11 milhões de ouvintes regulares, segundo estimativas. Neil Young e Joni Mitchell lideraram um boicote ao Spotify no final do mês passado, retirando suas músicas da plataforma sob a alegação de que Rogan estava propagando ‘desinformação’. (Os jovens incentivaram os ouvintes a migrar para a Amazon Music, paradigma de virtude corporativa.)
A possibilidade de o Spotify descartar sua maior estrela de podcast por ordem de dois compositores septuagenários sempre foi remota – eu, por exemplo, fiquei contente de saber que eles ainda estavam vivos – mas a campanha contra Rogan não parou neles. Médicos assinaram cartas abertas condenando sua reportagem sobre a Covid. Em janeiro, o Presidente Biden convocou a mídia e as plataformas a ‘lidarem com’ a desinformação sobre o corona, à medida que a controvérsia envolvia uma entrevista que Rogan havia feito com o médico e bioquímico Robert Malone, que é contra as vacinas.
Após o Spotify reagir às ameaças de boicote por meio da inserção de alertas nos conteúdos relacionados à Covid, direcionando os ouvintes para mais fontes oficiais de informação, a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, declarou: ‘É uma ação positiva, mas é possível fazer mais”. Pode me chamar de antiquado, mas eu acho que, talvez, o verdadeiro escândalo, aqui, seja o governo dos Estados Unidos pressionando uma corporação a censurar podcasters dissidentes. Mas poucos na mídia parecem concordar comigo.
Rogan, por sua vez, divulgou um vídeo no Instagram, respondendo à controvérsia sobre a Covid. Ele se mostrou confortável com as inserções de alerta e disse que trabalharia arduamente para trazer mais vozes convencionais imediatamente após entrevistar alguém mais “polêmico”. Também acenou para a gama de pessoas que entrevistou sobre a Covid, rechaçando a imagem caricata de ser um ideólogo ou teórico da conspiração. Claro que isso não foi o fim da história. Mais de uma centena de seus episódios antigos foram, desde então, silenciosamente removidos do Spotify, e a campanha para cancelá-lo continua.
Quando a tentativa de implicar Rogan com a Covid não funcionou, o próximo passo era óbvio: chamá-lo de racista. Clipes de vários momentos em que ele usou a palavra ‘negro’ em seus shows ressurgiram – todos por vontade própria, tenho certeza. Ele divulgou outro vídeo no Instagram – dessa vez, um eloquente e sincero pedido de desculpas, dizendo que, embora ele sempre tivesse usado a palavra quando divulgou falas de outras pessoas, ou ao discutir a palavra propriamente dita, há anos ele não a mencionava e nunca mais o faria. Também se desculpou por outro clipe, de 11 anos atrás, no qual fez o que soou como uma piada racista – o que ele alega não ter sido intencional. Para quem viu o clipe ofensivo, é um momento constrangedor, mas do qual Rogan clara e profundamente se arrepende.
Ninguém está sugerindo que Rogan é um santo. Nem que devemos procurá-lo para orientação científica ou moral. Mas a campanha contra ele está cada vez mais insana, à medida que o escândalo se encaminha para outra semana e seus críticos continuam a vasculhar seus mais de 1.700 episódios, em busca de mais alguma coisa que possa comprometê-lo. Mesmo uma análise casual de seu trabalho mostra que ele é, no geral, um indivíduo curioso e de mente aberta. Se é um racista violento ou um mercador sinistro de desinformação, ele fez um trabalho primoroso para se manter oculto. Ainda assim, a máquina de escândalos continua em operação.
Muito disso tudo abrange o pânico sem fim da desinformação. Desde a eleição de Trump em 2016, a mídia corporativa americana e os políticos democratas foram cooptados pela convicção de que a presidência de Trump foi a consequência inevitável de terem permitido que as massas ignorantes lessem e ouvissem por si mesmas. As empresas de mídia social ficaram sob forte pressão para censurar conteúdo, culminando no banimento do próprio Trump das plataformas. No ano passado, um novo aplicativo foi repreendido pelo New York Times por hospedar – *estremeçam!* – ‘conversas irrestritas’. E podcasts foram acusados de dar ‘brecha’ para “extremistas”, devido à falta de moderação, se comparados com outros meios de comunicação.
O tamanho da audiência de Rogan, somado à sua disposição para falar com pessoas consideradas ‘problemáticas’, o distinguiu. Seus episódios se estendem por duas a três horas cada um, abordando tudo, de condicionamento físico a identitarismo, de UFC a Covid. O espectro de convidados abrange de comediantes a lutadores, de intelectuais públicos a teóricos da conspiração radicais. Ele se equivoca em muitas coisas, assim como seus convidados. O foco, como ele mesmo ressalta em seu primeiro vídeo de desculpas, na semana passada, é a conversa. Mas isso, aparentemente, é uma coisa muito perigosa aos olhos do apavorado sistema americano.
A ironia de tudo isso é que os mesmos políticos e dignitários que acusam Rogan de espalhar bobagens e incentivar a divisão aprontaram das suas em anos recentes. Rogan se tornou alvo especial das redes progressistas de TV a cabo, com âncoras da CNN e da MSNBC falando devotadamente sobre a desinformação [de Rogan]. Estas são as mesmas redes progressistas de TV a cabo que empurraram a teoria conspiratória do Russiagate, difamaram Kyle Rittenhouse e apoiaram os tumultos ‘majoritariamente pacíficos’ de 2020. Rogan pelo menos não alega ser um jornalista objetivo e está disposto a admitir quando está errado.
A fúria contra Joe Rogan diz mais sobre eles do que sobre Rogan. Em anos recentes, a autoridade do estamento americano sofreu um profundo desgaste. A confiança na mídia americana alcançou seu nível histórico mais baixo e o tamanho da audiência de Rogan deixa os noticiários televisivos no chinelo. Enquanto isso, para a administração americana que luta para controlar a Covid e vencer a relutância para com a vacina, é conveniente pôr a culpa de seus problemas em um único podcaster popular.
Joe Rogan se transformou no saco de pancada das elites políticas e midiáticas que, além de acharem que as pessoas comuns são idiotas, ainda não conseguem entender por que as pessoas comuns não confiam nelas.
*Tom Slater é editor da spiked.
Traduzido por Telma Regina Matheus, para Vida Destra, 19/02/2022. Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail mtelmaregina@gmail.com ou Twitter @TRMatheus
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