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Por que o preço do arroz está subindo?

Nas últimas semanas, o arroz, item consumido talvez por todos os brasileiros, ou, senão, por uma boa parte, teve seu preço disparado no país inteiro, de norte a sul, e trouxe consigo a lembrança do fantasma da inflação, que assombrou o país na década de 90 e destruiu a economia de diversas famílias. Fatores trazidos pela pandemia são os responsáveis por essa alta histórica do produto, e não a ganância do empresário, como tem achado algumas pessoas tanto da esquerda quanto da direita, e neste texto vamos entender os porquês da subida do preço e o que fará ele diminuir.

Para entendermos a alta do preço do arroz, temos que saber o que ele é de fato. O preço nada mais é do que o mecanismo utilizado no mercado por produtores e clientes para estimar o valor dos produtos e, por isso, nenhuma negociação pode ser feita no mercado se o cliente ou o produtor acharem que tal negociação irá dar a elas um prejuízo. E para estimar o valor dos produtos, diversas teorias foram formadas, como a do valor-trabalho, defendida por Karl Marx, que dizia que o valor de um produto é determinado pela quantidade de trabalho que se é colocada nele, bem como em suas matérias primas. Se a teoria de Marx estivesse certa, o preço do arroz seria sempre o mesmo, e jamais sofreria altas e baixas, uma vez que os processos de plantio, extração e logística seguem os mesmos passos em praticamente todos os lugares do mundo com as tecnologias que temos hoje. Porém, a teoria de Marx tem um problema: suponha que a quantidade de arroz produzida no mundo seja o suficiente para suprir a demanda de almoço e janta da população, que de fato é o que acontecia antes. E suponha também que houve uma pandemia que trouxe consigo uma quarentena forçada e com isso prejudicou o processo de produção, extração e logística do produto, além de ter feito com que as pessoas passassem a consumir mais arroz, pois ele é um alimento fácil de preparar, nutritivo e até então mais barato que a carne, que a população, que não podia mais sair para trabalhar, diminuiu o consumo. Perceba que a demanda do arroz aumentou, porém, se a quantidade produzida é fixa e sobretudo foi prejudicada, como que todas as pessoas que estão demandando arroz vão tê-lo com o preço fixo? É matematicamente impossível, pois há X arroz para uma quantidade X+Y pessoas. Além disso, a teoria da Marx tem outro furo: suponha que numa padaria chamada Delma o padeiro demore 1 hora para fazer 100 pães e na padaria Paiva, que fica ao lado, o padeiro demore 2 horas para fazer o mesmo pão, com os mesmos ingredientes e mesmo processo. De acordo com a teoria de Marx, o pão mais caro deveria ser o da padaria Paiva, mesmo ele sendo igual ao da padaria Delma, que está do lado. No entanto, por que alguém iria comprar o pão da padaria Paiva e pagar mais caro sendo que pode comprar na padaria Delma e pagar menos? Não faria o menor sentido.

Para contrapor a teoria de Marx, que não refletia o processo de valoração de um bem, o economista Eugen von Böhm-Bawerk elaborou a teoria do valor subjetivo, que diz que um produto em si só tem valor porque nós damos a ele e como mostramos valor a um bem? Demandando o. Por isso, quanto maior a demanda, maior o seu valor na sociedade. A teoria do valor subjetivo é a correta, porque ela consegue resolver a questão da alta demanda da quantidade fixa de arroz produzido. Para recapitularmos, lembre-se do nosso exemplo: a quantidade de arroz produzida no mundo é suficiente para suprir a demanda de almoço e janta da população. Suponha que houve uma pandemia que trouxe consigo uma quarentena forçada e isso prejudicou o processo de produção, extração e logística do arroz, além de ter feito com que as pessoas passassem a consumir mais o produto, pois ele é um alimento fácil de se preparar, nutritivo e até então mais barato que a carne, que a população, que não podia mais sair para trabalhar, diminuiu o consumo. Como que um produtor ou dono de mercado faria para que o arroz fosse destinado apenas para as pessoas que realmente o querem, isto é, as pessoas que mais precisam dele? Ele teria de informar às pessoas que o valor do arroz na sociedade aumentou e para fazer isso, ele sobe o preço do produto. E aqui chegamos em um ponto importante para a compreensão dessa crise, que é entender o sistema de preços. O preço de um produto na estrutura de mercado de concorrência, isto é, que não seja um produto vendido por empresas que compõem monopólios e oligopólios, como no caso do arroz, ao contrário do que os socialistas pensam, não é definido arbitrariamente pelo dono do mercado ou pelo produtor, ele é o resultado das interações de oferta e demanda. Se o preço fosse definido arbitrariamente, o arroz não custaria R$ 40,00, como hoje, custaria R$ 400,00, afinal, se o empresário pudesse definir o preço arbitrariamente, levando em conta apenas a sua ganância, por que não ele não o jogaria lá em cima? Ele não faz isso porque se vender o arroz por R$ 400,00, ninguém o compraria, primeiro porque o mercado de arroz trabalha na estrutura de concorrência, isto é, há vários produtores e vários mercados para comprar tal produto e se um empresário vendesse o pacote de arroz por R$ 400,00, outro venderá por um preço mais baixo para ganhar mais dinheiro que ele. Segundo que, como os preços refletem a valoração que a sociedade dá a um produto, não faria o menor sentido vender o arroz, que é um cereal relativamente fácil de plantar em grandes quantidades, a R$ 400,00 o pacote, a não ser, claro que por alguma catástrofe utópica o arroz se torne no mundo inteiro o único produto o qual nós seres humanos poderíamos consumir. Neste cenário, que é praticamente impossível de acontecer, o pacote talvez até passasse dos R$ 400,00. Porém, ainda que isso acontecesse, como nós, consumidores, valoramos um produto através da demanda, produtores entendem essa valoração e a respondem através da oferta. Se eles observam que a população passou a dar mais valor ao arroz, logicamente eles vão passar a produzir mais desse bem para que ganhem mais dinheiro. Assim, quando os produtores lançarem mais arroz no mercado, isto é, aumentarem a oferta, abre-se uma possibilidade para a redução do preço do produto, porque pense: antes da pandemia, suponha que você consumia 10 KG de arroz por mês. Veio a pandemia, o preço do arroz disparou e, para poupar seu dinheiro, você passou a consumir 8 KG, dado que aumentou o preço devido ao fato de antes haver uma quantidade fixa X que não daria para suprir mais a demanda de todos. No entanto, suponha que amanhã os produtores produzam mais arroz e junte aquela quantidade fixa X + com a quantidade Y recém produzida. Como há uma quantidade de arroz que dá para atender uma demanda maior dos clientes, os donos de mercado reduzirão seu preço, não porque são bons ou pensam na coletividade ou no povo, reduzirão para que mais pessoas comprem e assim eles ganhem mais dinheiro. Agora imagine que estamos no ano de 2100 e nossos hábitos alimentares mudaram. Ao invés de arroz e feijão, nos alimentamos com uma pílula capaz de fornecer todas as proteínas e carboidratos que um prato de comida fornecia. Com isso, não consumimos mais arroz. O que vai acontecer com o preço desse produto? Vai despencar, porque ele não tem mais o valor que tinha antes para nós, seres humanos. Se a teoria de Marx estivesse correta, o arroz, que no futuro não teria nenhuma utilidade, teria que custar o que custa hoje. Como isso não faz o menor sentido, fica provado que o valor dos bens e produtos são subjetivos e são definidos por nós. É assim que o mecanismo de oferta e demanda vai regulando os preços, aumentando os quando a demanda sobe ou a oferta desce e diminuindo os quando a oferta sobe ou a demanda desce. Essa regulação natural é a famosa “mão invisível do mercado” que o economista clássico Adam Smith teorizou em sua obra “A Riqueza das Nações”.

Note que o processo de oferta e demanda, regulado pela mão invisível, não necessita de nenhum controle por parte do Estado para funcionar, ele é basicamente o seguinte: “eu tenho um produto e quero trocá-lo com você por outro de meu interesse. Só iremos realizar essa troca se ela for vantajosa para nós dois”. Por esse motivo, controlar o preço do arroz seria hoje suicídio econômico, pois se temos uma quantidade fixa do produto cuja demanda está aumentando e o preço é tabelado, logo mais o estoque inteiro é comprado, uma vez que o aumento do valor do arroz existiria na sociedade, mas não seria refletido nos preços, e assim haveria escassez desse produto, pois o dono do supermercado  não compraria mais arroz do produtor, que também está pagando mais para produzir e consequentemente vendendo mais caro para o dono do supermercado. E aí você pode pensar: “então é muito simples: basta tabelar o preço das matérias primas, como as sementes, do produtor também!”. Faça o seguinte raciocínio: você, como produtor de arroz, que está pagando mais caro para produzir esse cereal, continuaria produzindo o se você não pudesse mais cobrar o preço para ter seus lucros? Isso praticamente faria o produtor trabalhar de graça para fornecer arroz, pois se não cobra um preço maior, não pode obter lucros, e por isso, ele pararia de produzir o cereal. Presidentes que tentaram interferir nesse processo natural de oferta e demanda, como José Sarney, no Brasil, e Nicolaz Maduro, na Venezuela, levaram um tapa da mão invisível e geraram grande caos na economia do país, como escassez de alimentos, pois como a demanda subia e o preço não a acompanhava, pessoas que não precisavam tanto dos produtos os compravam e acabavam com o estoque. Com o controle de preços estabelecido, o produtor se via desincentivado em produzir aquele produto, pois teria prejuízo, e, ou interrompia a produção, ou passava a produzir um produto que não tivesse controle de preços imposto.

Então, para finalmente sintetizar o porquê do aumento do preço do arroz: as exportações brasileiras do produto cresceram 96% esse ano devido à pandemia do coronavírus. Esse é um sinal de que o arroz tem mais valor na sociedade e, por isso, seu preço aumenta. No entanto, quando passamos a dar mais valor a esse produto, produtores veem uma possibilidade de ganhar mais dinheiro e plantarão mais arroz para vender, o que fará o preço abaixar, mas, óbvio, levará tempo, afinal, o arroz leva de 110 a 155 dias para ser cultivado. Não tem como falar que a alta do preço é pela “ganância” dos empresários, pois, se fosse, o arroz aumentaria em um ou outro supermercado, mas seu preço está alto no mundo inteiro. Além disso, se fosse pela “ganância” do empresário, todos os produtos teriam o preço disparado, porque nenhum empresário está preocupado com “sua nação” ou “com o povo” e nem deve, essa ideia de abrir empresas para fornecer as coisas à população é uma ideia socialista, empresas devem ser abertas para que seu dono, usufruindo de sua propriedade, tenha lucro. Inclusive, foi o egoísmo do empresário na busca dos lucros que fez países como os EUA crescerem e se tornarem uma grande nação, não a benevolência. Achar que o governo deve se meter no mercado controlando os preços ou “notificando supermercados por alta dos produtos” é negar o direito natural de propriedade dos produtores e empresários, o que é a síntese do socialismo, que foi, de certa forma, uma tentativa de moralizar a sociedade freando o espírito animal do homem na busca incansável pelo lucro para melhorar sua vida. Se o governo quiser ajudar o preço do arroz diminuir, ele deve zerar os impostos sobre esse produto, como Bolsonaro fez. Aliás, impostos sobre consumo e bens nem existir deveriam, pois são uma afronta à propriedade privada e consequentemente, o caminho para o socialismo, que é a negação da propriedade. No entanto, como hoje precisamos do Estado, o jeito mais eficiente de sustenta-lo é através do imposto sobre a renda sobre pessoa física, mas isso seria temporário, pois no futuro, o Estado tende a ruir devido à descentralização da moeda, com o bitcoin, e ao refinamento da tecnologia, com as impressoras 3Ds (Cá entre nós, você já pensou o que aconteceria nesse país se cada brasileiro revoltado com o STF pudesse criar uma arma em sua casa com uma máquina em alguns segundos? Pois é, isso se tornará realidade com as impressoras 3Ds daqui a alguns anos). Dessa forma, como caminhamos para a extinção do Estado no futuro, defender serviços estatais, como saúde, segurança e educação, é loucura, pois é partir do raciocínio: “vou assinar um contrato em que a outra parte vai decidir o preço e a qualidade do serviço e eu não poderei fazer nada“. É por causa disso que os preços desses serviços públicos estão cada vez maiores, porém a qualidade dos serviços, piores. Por isso, o argumento dos liberais de que “o Estado deve focar em saúde, educação e segurança” é o mais burro possível, pois são as áreas mais prioritárias e que jamais poderiam ser dadas a um monopólio, que, diferente das estruturas de concorrência, não é afetado pela lei da oferta e demanda.

 

Vinicius Mariano, para Vida Destra, 14/09/2020
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3 COMMENTS

  1. No primoroso art. de @viniciussexto sobre como se forma o $ de uma mercadoria, especialmente o arroz. Só o corrijo, qdo do tabelamento da carne, sumiram com boi do campo. E, tbm, o STF teve papel fundamental ao reduzir área plantável na definição de área indígena Serra do Raposo do Sol.

  2. Excelente artigo. Vinicius, em seu tempo livre, de uma pesquisada sobre as biotechs e foodtechs.
    O que entendemos por produção alimentar, irá mudar radicalmente.

  3. Parabéns pelo excelente e oportuno artigo!
    As pessoas precisam deste tipo de informação para compreender melhor os porquês de certas coisas na economia!

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