Não foi um deslize. Não foi molecagem. Não foi infelicidade. Quem fala o que falou o deputado estadual por São Paulo, Arthur Moledo do Val, mais conhecido pela alcunha de ‘Mamãe Falei’, – usando os termos que usou e, principalmente, no contexto em que se manifestou – é alguém que vive e age exatamente da forma como fala. Arthur do Val é um pária. É um PREDADOR.
Caso não saiba a que me refiro, você pode ouvir o áudio aqui. São 3 longos minutos de um predador extasiado com a beleza de suas presas, ora agrupadas em longas filas de refugiadas de guerra, ora em postos policiais de vigilância alfandegária. O palco é a Ucrânia hoje mergulhada em uma conflagração bélica, com mulheres e crianças saindo do país em situação de fugitivas – e deixando para trás pais, maridos, irmãos, namorados, amigos, filhos, porque o comediante que está presidente da Ucrânia os obrigou a ficar e lutar. Como é típico do predador, o sofrimento e a fragilidade são oportunidades. E este predador em particular baba de satisfação.
Porém, e é um grande porém, Arthur do Val não está só. Nem mesmo nessa viagem macabra. Acompanhado de Renan Santos, fundador e atual dirigente do Movimento Brasil Livre (MBL), o deputado estadual embarcou em uma viagem ao país conflagrado com a ‘justificativa’ de ajudar os ucranianos in loco. Enquanto os dois predadores encenavam a farsa – em uma de suas postagens, fotografado em meio a engradados de garrafas, Arthur alegou que ajudava os ucranianos a fazer coquetéis molotov, embora ele e Renan Santos estivessem a mais de 800 km do front de batalha – o MBL pedia doações via PIX. Como ainda não prestaram contas do que fizeram com o dinheiro, não se sabe ao certo o montante arrecadado. Uns dizem que somou 180 mil reais; outros, que atingiu a casa dos 250 mil reais. Cobrados pela deputada estadual por São Paulo, Janaína Paschoal (PSL-SP), o dirigente do MBL respondeu assim:
Mesmo que nada disso tivesse acontecido, essa viagem à Ucrânia já seria ofensiva. Em prints de conversas de WhatsApp que se alastraram pelas redes sociais, o grupo deixou claro o real objetivo da empreitada: usar a conflagração para ganhar visibilidade em terras brasileiras, quiçá internacionais. Afinal, Arthur Moledo do Val era pré-candidato ao governo do Estado de São Paulo, com apoio de seu partido, o PODEMOS, e do ex-juiz-ministro-biografado Sérgio Moro – aquele mesmo que, em coletiva de imprensa, comunicou sua demissão ao chefe (nada menos do que o Presidente da República) e aproveitou os holofotes para insinuar a prática de crimes (que não provou) do dirigente supremo do país. E mais: o mesmo que viu acontecer e permitiu que cidadãos comuns, inclusive mulheres, fossem arrastados em praça pública, espancados e presos em ‘nome da saúde’. O mesmo Sérgio Moro que, ainda juiz na força-tarefa batizada de LavaJato, cometeu equívocos jurídicos suficientes para, além de emporcalhar o combate à corrupção, municiar a Suprema Corte, permitindo que ‘iluministros’ militantes (política e judicialmente) anulassem praticamente TUDO.
Ou seja, usaram uma guerra como instrumento de marketing político. UMA GUERRA!!! Se a empatia sai pela janela é porque a psicopatia invadiu a sala.
ANOTEM: o pré-candidato à Presidência da República, o ‘ilibado’ ex-tudo Sérgio Moro, APROVOU e APOIOU a ‘iniciativa dos rapazes’.
O comportamento escancarado no áudio vazado na Internet, no entanto, é só a ponta do iceberg, como diz e mostra o jornalista Kim Paim, neste dossiê gravado em vídeo. Assisti-lo é quase uma obrigação nossa.
“As cidades mais pobres são as melhores”
Parte do áudio explicita que Renan Santos, todos os anos (embora nos últimos 3 tenha suspendido o evento), faz um “tour des blondes” principalmente no Leste Europeu, região bastante conhecida pelas máfias sanguinárias de tráfico de seres humanos – mulheres, meninos e meninas, bebês. A prática abjeta tem como objetivo pegar loiras. Como conta Arthur, a lição de Renan Santos é primorosa: “as cidades mais pobres são as melhores” e você pode pegar loiras na padaria, no mercado…
A miséria material quase sempre leva à miséria humana da prostituição, da autodestruição, da automutilação da alma. O desespero e a total desesperança, se não justificam, explicam. Tal miséria humana, no entanto, qualifica ambos os lados dessa equação sórdida. A pobreza leva essas mulheres e crianças ao abismo, mas a sordidez de quem as explora é opção pessoal, e não consequência de alguma condição social.
ANOTEM MAIS UMA VEZ: este não é um fato isolado. Quem convive com Arthur do Val e Renan Santos compactua com seus modos de pensar e comportamentos. Quem convive com ambos sabe que eles são predadores. Ou ninguém sabia do “tour des blondes” anual de Renan Santos? Um predador não se esconde, ao contrário, ele se expõe e vangloria, pois é imprescindível e incontrolável alimentar sua vaidade.
Por mais incrível que pareça, o próprio MBL ‘avisa’ quem e o que é de verdade. Nós é que não prestamos atenção nem valorizamos os sinais que emitem. Matéria do Jornal de Brasília conta que, em 16 de janeiro, o coordenador do MBL-BA, o jovem Ricardo Almeida, fez uma postagem (que, posteriormente, apagou) dizendo: “…não tenho qualquer laivo antissemita e desejo que o Estado de Israel seja destruído por uma grande guerra, quando a perspectiva de guerra vitoriosa contra Israel existir”. (Grifo meu.)
Em podcast polêmico que viralizou e cancelou o apresentador do programa, Kim Kataguiri, deputado federal pelo DEM-SP, afirmou que, na opinião dele, a Alemanha ter proibido a existência do Partido Nazista foi um erro. Numa manobra rasa, tentou vincular o tema à questão da liberdade de expressão. Desconstruir essa aberração exigiria um livro, então, fiquemos apenas com o argumento mais sólido e explícito, o de que o nazismo é crime porque sua meta ideológica é eugenista e advoga pelo extermínio dos ‘impuros’.
A poeira baixou e nada aconteceu com Kim Kataguiri, que continua deputado federal e não sofreu sequer sanções do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
Sinais.
Já em 2020, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) abriu inquérito por supostos indícios de pedofilia contra o guru do humorista Danilo Gentilli e do MBL, o ‘analista político’ conhecido como Luciano Ayan, cujo nome verdadeiro é Carlos Augusto de Moraes Afonso. Isso porque, em outra investigação anterior a esta, em que Luciano Ayan era suspeito de lavagem de dinheiro, a Polícia Federal apreendeu equipamentos e encontrou, não links, mas armazenado nos computadores, material supostamente de pornografia infantil.
Mais sinais.
Entretanto, tudo vai sendo empurrado para debaixo do tapete. Apostando na memória curta das pessoas, a velha mídia se cala e os eventos caem no ostracismo, garantindo liberdade aos envolvidos, deixando-os à vontade para engendrar novas ações predadoras. É sempre bom lembrar que Luciano Ayan, o suspeito de pedofilia, municiou a famigerada CPMI das feiquinius com material falso e repleto de narrativas e mentiras. Até o general “boina azul” da ONU, que hoje está nas pantufas, supostamente usou material fornecido pelo ‘analista político’.
Estes são apenas alguns exemplos. Há tantos outros que, quem sabe?, alguém um dia se sinta inspirado e motivado a escrever um livro sobre a verdadeira trajetória do MBL. Talvez o Marquês de Sade fique ruborizado em seu mausoléu.
Será que o senador Álvaro Dias (PODE-PR) e o senador Eduardo Girão (PODE-CE) – e demais integrantes do partido; será que João Agripino Dória (governador de São Paulo), Sérgio Moro (o ‘impoluto’ ex-tudo e pré-candidato à Presidência da República) e os próprios integrantes do MBL realmente desconheciam a postura imoral e devassa do MBL, hoje escancarada nos áudios do Mamãe Falei? Eu duvido que não soubessem.
Tuítes, como o do vereador Fernando Holliday (NOVO-SP), são menos do que insuficientes. São nada.
Após ouvir a conversa do ‘senhor’ Arthur do Val, diretamente da Ucrânia e a mais de 800 km do front de batalha, eu não tenho dúvidas: não há inocentes e ignorantes dos fatos, nesta história. TODOS sabem o que é o MBL e quem são seus integrantes. Talvez não ajam como eles, mas os acobertam, e se assim o fazem, são cúmplices e comparsas de uma escória jovem, mas tão macabra quanto qualquer escória.
Telma Regina Matheus, para Vida Destra, 07/03/2022. Sigam-me no Twitter, vamos debater o meu artigo! @TRMatheus
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