Na cabeça dos seus organizadores, os atos promovidos pela oposição no último dia 2 de outubro tinham tudo para ser um grande sucesso. Embalados pelas pesquisas de opinião que apontam um derretimento do Presidente e uma grande vantagem eleitoral do ex-presidiário Lula, a turma se pintou de vermelho e foi à luta para mostrar todo o seu vigor, engajamento e força política. Porém, a coisa não saiu como previsto.
Antes mesmo dos atos se encerrarem, o clima era de velório entre aqueles que esperavam que esse momento fosse um divisor de águas na luta pela derrubada do Presidente genocida, negacionista e motociclista. E essa constatação não foi de apoiadores do Governo, mas da própria classe política e da imprensa tradicional, perplexos diante da fraca adesão aos atos anti-Bolsonaro.
De fato, não havia como brigar com as imagens de avenidas esvaziadas. Restou apenas o contorcionismo argumentativo para tentar explicar que o que vimos não era, na verdade, o que vimos.
Antes disso, para justificar o fracasso da manifestação do chamado “centro” no dia 12 de setembro, tendo à frente o MBL, utilizaram o argumento de que a baixíssima adesão ao ato se deu por conta da ausência dos partidos de esquerda, que convidados, não deram o ar da graça, e ainda desdenharam da tentativa dos isento-liberais.
A partir de então, a expectativa era de que quando a esquerda convocasse seus próprios protestos, haveria um mar de pessoas nas ruas, capaz de rivalizar com o estrondoso sucesso das manifestações do dia 7 de setembro. Afinal, os milhões de brasileiros que saíram às ruas em defesa das liberdades constitucionais eram golpistas e fascistas que não representam a verdadeira democracia defendida pela esquerda.
Mas o que vimos, no entanto, foi um ajuntamento de vaidades num trio elétrico alugado por cem mil reais, pagos sabe-se lá como e por quem, numa espécie de carnaval fora de época com excesso de asfalto e falta de povo, apenas militantes partidários e membros de centrais sindicais. Aliás, sindicatos que jamais se manifestaram contra o extermínio de empregos causado pela política insana do “fique em casa” a qualquer custo. O resultado foi lulistas e ciristas se agredindo, acusações, vaias, frustração e claro, muitas explicações após o evento.
As lideranças petistas atribuíram o baixo público à ausência de Lula. Segundo eles, o líder das pesquisas não pode sair às ruas para se juntar aos seus apoiadores para não causar aglomeração no meio de uma pandemia. Isso é coisa de genocida, não é? Não tem nada a ver com o boato de que nem mesmo os petistas acreditam nas pesquisas que colocam o Nove Dedos disparado à frente de Bolsonaro.
Como assim, o cara que não pode ir numa barraca de cachorro-quente sem ser chamado de ladrão não é o líder das pesquisas de verdade? Quem ousa desconfiar? Isso é coisa de negacionista estatístico, que acredita nos seus olhos e não nos institutos de pesquisa que nunca erraram nada.
A imprensa domesticada e ansiosa pelo fim da ditadura que a impede de mentir livremente também deu uma ajudinha. É claro que tinha pouca gente na rua contra Bolsonaro, mas eles dizem que a rejeição dele é muito maior do que a que se viu nas ruas. As pessoas é que não se engajaram ainda para derrubá-lo, mas daqui a algum tempo, quem sabe?
Por essa lógica, os milhões que vão às ruas em defesa de Bolsonaro deveriam ser considerados também uma pequena fração dos seus apoiadores. Não poderíamos dizer que o apoio que ele tem é muito maior do que o que vemos nas ruas? Seria uma dedução lógica facilmente comprovada quando o Presidente cumpre agenda em qualquer região do país.
Outro blogueiro disse que o fraco desempenho da manifestação é porque os partidos estão pensando apenas em 2022. Isso dificultaria a unificação em torno da pauta única, que é tirar Bolsonaro do poder. Ora, por acaso não havia também um interesse eleitoral quando partidos decidiram apoiar o impeachment de Dilma Rousseff em 2015? E isso não impediu que houvesse uma ampla adesão popular para o seu afastamento.
O fato é que eles se negam a admitir o óbvio. O povão está se lixando para essas movimentações exatamente porque enxergam nelas o mais puro oportunismo político, promovido por gente de ficha suja até a alma. Como dar crédito àqueles que dominaram politicamente o país por décadas, culpados por heranças malditas que afligem o país até hoje? Eles devem ter batido a cabeça muito forte para acharem que as pessoas são tão imbecis assim.
Entendam, o problema deles não é Bolsonaro. A bronca deles é com você que abriu os olhos e agora enxerga claramente quem eles são e o que fizeram nos verões passados. Por isso todo esse esforço para censurar a opinião livre na internet, as críticas aos maus agentes públicos, a busca pelas informações primárias e a pressão para legitimar como verdadeiro apenas aquilo que a mídia tradicional divulga, sufocando o contraditório e a livre circulação de ideias.
Isso explica o desespero de muitos. O cidadão comum, alheio a essas parvoíces, sabe muito bem reconhecer a cara e a índole dos que estão no debate público. É um caminho sem volta, e eles sabem disso. Por isso, vão precisar mais do que um Adélio para nos parar.
Ismael Almeida, para Vida Destra, 05/10/2021.
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Crédito da Imagem: Luiz Jacoby @LuizJacoby
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