A tragédia que se abateu sobre o mundo com a pandemia do Covid-19 ainda terá seus efeitos sentidos por alguns anos após o fim da emergência sanitária internacional. Aliás, muita coisa ainda precisará ser esclarecida, repensada e até investigada sobre tudo que aconteceu neste período conturbado da nossa história recente.
O fato é que o estrago já está feito e a recuperação do país, sobretudo na economia, será um dos maiores desafios que nossos governos enfrentarão. O esforço de reconstrução da nação pós catástrofe exigirá uma grande convergência política, que fará a diferença entre sair do fundo do poço ou afundar ainda mais.
Nesse sentido, ganha especial relevância a disputa travada em relação à sucessão dos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, que ocorrerá no início de fevereiro de 2021. Com o Supremo Tribunal Federal (STF) quase invalidando o texto constitucional e permitindo a reeleição a esses cargos, tudo apontava para a continuidade dos atuais ocupantes.
Mas o STF, ao menos dessa vez, optou por respeitar a Constituição e vedou essa possibilidade. Essa é uma excelente notícia, particularmente porque significa o fim do ciclo de Rodrigo Maia como Presidente da Câmara dos Deputados, iniciado em 2016, quando foi eleito para um mandato tampão em substituição a Eduardo Cunha. Depois foi eleito novamente para o biênio 2017-2018.
Com a eleição do Presidente Jair Bolsonaro, logo procurou se viabilizar junto à recém eleita bancada do PSL, que seria a segunda maior da Casa, com 52 deputados. O apoio da legenda a mais uma candidatura de Maia foi acertado em troca do comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a de Finanças e Tributação (CFT), além da 2ª Vice Presidência da Casa.
À época, avaliei que politicamente, era um bom acordo. O PSL tinha uma bancada inteiramente nova, eleita numa onda eleitoral conservadora, mas sem experiência parlamentar. Maia era o melhor nome, experiente e alinhado com a pauta reformista e liberal do novo Governo.
Mas as coisas mudaram logo depois, e Maia revelou sua verdadeira face. Autoritário, arrogante, invejoso, centralizador, narcisista e um exímio sabotador de pautas com as quais não concorda ou nas quais não consiga influenciar diretamente, ele foi o principal ponto de conflito entre Governo e Parlamento.
A agenda eleita em 2018 com 57 milhões de votos tinha algumas premissas claras: defesa da família, contra o desarmamento civil, educação livre de ideologia e enxugamento do Estado. A maioria dessas pautas dependendo de tramitação no Congresso Nacional, e principalmente da Câmara dos Deputados, que é por onde se iniciam os projetos de autoria do Executivo.
Mas Rodrigo Maia, eleito com míseros 74.232 votos, se achou no direito de agir de forma deliberada contra essa agenda, ou boa parte dela. Alinhado com partidos da extrema esquerda como PT e PCdoB, que lhe apoiam em todas as eleições internas, engavetou projetos, deixou caducar várias Medidas Provisórias, deu declarações belicosas contra ministros – quase que diariamente – além de estar sempre envolvido em encontros secretos que visam desgastar o Presidente.
O Presidente da Câmara chegou ao cúmulo de permitir que partidos de oposição escolhessem quais Medidas Provisórias não queriam que fossem votadas. Eles escolheram cinco, entre elas a MP 910, da Regularização Fundiária e a MP 914, que mudava a forma de escolha de reitores nas universidades federais. Ora, se a oposição era contrária, por que não mobilizou a Casa e a convenceu a derrubar a matéria no voto? Mas não. Apoiada pelo Presidente da Casa, optaram pela sabotagem, impedindo que a matéria fosse analisada e deixando que caducasse por decurso de prazo.
A única reforma aprovada, a da Previdência, ocorreu mais por conta do amplo apoio popular que o Governo conseguiu angariar, do que pelo empenho de Rodrigo Maia. Se fosse assim, por que ele não emplacou a reforma de Temer, que era até menos ousada do que a de Bolsonaro? Mas para surpresa de ninguém, Maia tomou para si todos os méritos da aprovação da matéria, num gesto claro de oportunismo.
Passados dois anos, a única certeza que temos hoje é de que o Governo Bolsonaro não pode passar mais dois anos refém de um tipo como Rodrigo Maia. E aqui, não se trata de colocar um governista no comando da Casa, mas de ter alguém com quem o Governo possa ter um diálogo franco, leal e honesto, ainda que seja para divergir. O Presidente da Câmara é apenas o organizador da pauta, um facilitador do diálogo, e nunca deveria ser um ditador que impõe sua vontade por birra pessoal.
A eleição interna das Casas legislativas dificilmente vai refletir o que o cidadão deseja, com a oferta de nomes acima de qualquer suspeita. É uma análise fria. Notem que nem cito aqui os fatos relacionados a investigações criminais contra Rodrigo Maia, como fator relevante para a sua eleição ao comando da Casa e nem na sua atuação como Presidente. Seria irrelevante, caso ele agisse da forma correta, garantindo a discussão livre dos temas, e não atuando como um censor seletivo.
Pode parecer estranho, mas do ponto de vista do Governo, pouco importa se os postulantes ao cargo têm currículo ou ficha corrida. O que interessa é se eles vão ou não criar problemas para o andamento dos projetos do Executivo, e se serão empecilho para a entrega à sociedade daquilo que foi prometido em campanha pelo Presidente da República. Esse pragmatismo é da natureza do nosso sistema político, e entendo até como salutar em alguma medida.
“Ah, mas um nome do Centrão é a opção?”
O Centrão é uma abstração que pode ser comparada a um grupo de mercenários, que lutam as lutas que você quiser, mediante um bom pagamento. Mas mais do que isso, há o cálculo político que eles fazem de que é melhor estar ao lado de quem detém o apoio popular, que definitivamente não é o de Rodrigo Maia e da esquerda. Aqui, impera o instinto de sobrevivência política, mais até do que cargos ou benesses.
Rodrigo Maia sabe que sua postura errática e desleal o colocou ao lado da escória política do país. Ele teme o fato de que em breve será tratado como um parlamentar qualquer, tendo que enfrentar cara a cara os cidadãos que ele enganou com a falsa pose de direitista liberal. Terá que encarar aqueles que ele acusou de fanáticos, alienados e atrasados, por defenderem as pautas que foram vitoriosas em 2018.
Portanto, a melhor notícia para encerrar 2020, é saber que no ano que vem Rodrigo Maia será encaminhado para a total irrelevância política e experimentará o desprezo de toda uma nação.
Adeus, Rodrigo Maia. Já vai tarde, muito tarde!
Ismael Almeida, para Vida Destra, 29/12/2020
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Excelente artigo! Que 2021 nos traga um nome melhor
No art. de @ismael_df no adeus + esperado de 2020 de Rodrigo Maia, pres. da Câmara q nunca deveria ter sido. Devemos ter um pé atrás c/a eleição de seu substituto, q pode ser secreta e remota ao invés de identificação biométrica e secreta, situação favorável ao candidato que ele apoia. A peste ainda pode aprontar…