Estando encarcerado em casa em face da pandemia que se estabeleceu, fico pensando e tendo saudades de coisas que me apoquentavam.
Como reunião de condomínio, por exemplo. Tem aquele morador do 402 do prédio, que em todas as reuniões era contra tudo e contra todos, batendo boca, delongando a reunião. Mas fico com saudades dele, não o vejo mais, se o visse, até daria um abraço afetuoso no chato, já que não vejo viva alma no condomínio. Estou topando o chato!
Ainda para piorar: minha mulher postergou tudo o que ela costumava fazer! Ida ao ginecologista, dentista e dermatologista. No entanto, fica aflita com os fios de cabelos brancos que começam a aparecer, e daí desconta a ansiedade em mim! Porque, nela, a lembrança de ir ao cabeleireiro para passar uma tinta, fazer pés, mãos, escova e passar uma tinta, se torna premente. Impossível, não tem o que fazer, com o estabelecimento fechado! Pouca sorte minha. Ela nem reclama mais dos erros de agenda do salão, nem daquela outra cliente, que sempre lhe roubava os horários. Agora, para minha mulher, escutá-la reclamando da política, da roupa comprada em uma boutique de luxo, da cor do esmalte, da cor da tintura do cabelo, a faz nutrir um amor fraternal com aquela cidadã. Mesmo que se peguem na hora em que se virem novamente.
Eu tinha meu jogo de dominó com a galera na praça. Todo mundo tiozão, vozão. Também podia ser truco no bar, onde ficava irado quando o Afonso tirava aquele “ZAP” não sei de onde e gritava “TRUCO”. Miserávi! Tudo foi para espaço com a determinação do sr. Governador de não permitir aglomerações. Todavia, a memória permanecia de um possível abraço com Afonso. O que fazer: jogar paciência na internet. Tetris. Sei lá. Mas nem para isso tenho mais saco!
E a excursão com a família e parentes para a chácara em São Roque? Onde ficávamos confabulando à beira da piscina sobre o passado recente, sobre as mazelas do trabalho e do dia-a-dia? Claro que havia discussões fervorosas, com o cunhado, e até confesso que o tentei afogar mais de uma vez, mas sempre tem um tio com o “deixa disso”. Filmávamos aquele encontro para posterioridade! Sem falar da engorda: com a picanha, linguiça, farofa, arroz, mandioca, queijo coalho na brasa, etc. Tudo isto, foi vedado por S.Exa. o Governador, ao fechar as estradas federais (mas ele podia?), limitando o direito de ir e vir.
Só resta ficar discutindo sozinho com a televisão, vendo as notícias. Nem o futebol posso mais assistir, tampouco ir ao estádio – o campeonato foi suspenso!
Mas a paulada final veio ontem: NÃO TEM MAIS NOVELA! Agora a mulherada vai surtar de vez… Comigo preso aqui! SOCOOOORRO! VEM, VÍRUS!
Luiz Antônio Santa Ritta, para Vida Destra, 21/3/2.020.
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