Stalkers podem estar marcando mulheres com os AirTags da Apple. Nos Estados Unidos, isso já é realidade.
Você sabe o que é um AirTag? É um dispositivo rastreador, do tamanho de uma moeda, produzido e comercializado pela Apple. O dispositivo foi desenvolvido para ajudar as pessoas a encontrarem objetos perdidos, como uma bolsa, uma mochila, ou até mesmo um carro. De fato, não é nenhuma novidade. A Samsung já produz o seu SmartTag, e há vários aplicativos de rastreamento similares, também conhecidos como software espião, cujo uso se popularizou principalmente entre pais e mães (e também entre cônjuges ciumentos).
Novidade mesmo é que abusadores, agressores, assediadores – mais conhecidos como stalkers – estão usando o dispositivo da Apple para rastrear suas vítimas. Recentemente, uma família que visitava o Walt Disney World, em Orlando, Flórida, passou por uma experiência aterradora quando se viu rastreada por um AirTag desconhecido. Pais e filhos foram rastreados durante toda a visitação ao parque, inclusive em todo o percurso até o carro, no estacionamento.
Como funciona isso? Qualquer proprietário mal-intencionado de AirTags pode colocar o dispositivo no bolso do casaco, na bolsa ou mochila, ou em uma sacola de compras – de qualquer pessoa. Lembre-se: o dispositivo é do tamanho de uma moeda. A partir desse momento, o agressor acompanhará todos os movimentos do seu alvo.
A Apple incluiu um recurso de alerta. Alguns proprietários de iPhone podem receber uma mensagem avisando-os que há AirTags nas proximidades, possivelmente rastreando-os. Mas, atenção: isso só vale para usuários do iPhone. Usuários de celulares de outras marcas nunca saberão que estão sendo rastreados e seguidos por um AirTag.
No caso da família americana de Jeniffer Gaston, mencionada anteriormente, a filha Madison recebeu o alerta em seu iPhone e pôde acompanhar o AirTag. Já no carro, e depois de vasculharem roupas e pertences, o AirTag finalmente caiu no chão e, ato contínuo, a conexão foi cortada. Apesar de registrarem queixa na polícia, lá souberam que nada poderia ser feito. Depois de desligado, é impossível localizar o AirTag.
Para Jeniffer Gaston e sua família, apesar da angústia e do pavor, tudo acabou bem. Ninguém se feriu. Mas ela mesma pondera “que o final dessa história poderia ter sido outro bem diferente”.
Se há outros similares, por que o perigo maior está nos AirTags?
Para especialistas em segurança, todos os rastreadores oferecem algum tipo de perigo, quando usados para o mal. O SmartTag da Samsung, por exemplo, não difere praticamente em nada do AirTag da Apple.
Segundo Albert Fox Cahn, do projeto americano Surveillance Technology Oversight Project, em declaração ao site The Western Journal, “assédio e stalkerware [software de monitoramento ou software espião] já existiam antes dos AirTags, mas a Apple os tornou mais baratos e, como nunca antes, mais fáceis para os abusadores e agressores rastrearem seus alvos”. E acrescentou:
“A rede global de dispositivos da Apple dá aos AirTags o poder ímpar de assediar [pessoas] no mundo inteiro. E a gigantesca campanha de marketing da Apple ajudou a realçar esse tipo de tecnologia para assediadores e abusadores que, de outra forma, jamais saberiam de sua existência”. Talvez Cahn tenha exagerado ao responsabilizar o marketing da Apple: agressores sempre encontram uma forma de saber o que existe no mercado para facilitar a obtenção de seus intentos. Entretanto, sua argumentação é sólida o bastante para nos colocar todos em estado de alerta.
O site da revista de variedades VICE divulgou que, em uma amostragem realizada em 8 departamentos policiais cujos nomes não forneceu, 150 queixas registradas mencionavam os AirTags. E Eva Galperin, diretora de segurança cibernética da Electronic Frontier Foundation, enfatizou que o ponto cego do dispositivo da Apple são as pessoas que estão fora do ecossistema da Apple. Antes de sair correndo para mudar para um iPhone, tenha em mente que a concorrente Samsung, com seu SmartTag, também abrange apenas quem faz parte do seu ecossistema. O nó da questão está nas diferentes redes às quais esses dispositivos se conectam. Elas não ‘falam’ entre si e, aparentemente, o problema não é de fácil solução.
Fato inconteste é que todos nós, mas especialmente as mulheres – e atenção!, as crianças –, estamos expostos a stalkers que, hoje, podem adquirir um pack com 4 unidades de AirTags por uma quantia inferior a mil reais. E a concorrência já está baixando seus preços. De acordo com especialistas americanos, a situação ainda não é endêmica, mas já fornece ocorrências suficientes para acionar os alertas de perigo.
Telma Regina Matheus, para Vida Destra, 06/05/2022. Sigam-me no Twitter, vamos debater o meu artigo! @TRMatheus
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