Há exatamente um século, entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, o Teatro Municipal de São Paulo recebeu a Semana de Arte Moderna. Artistas renomados da época, como Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Heitor Villa Lobos e Mário de Andrade – só pra citar alguns – se apresentaram ao longo dos vários dias no espaço; com música, recital de poesia, pintura e arquitetura.
A grande proposta do evento era a de romper com o passado e os padrões estéticos e apresentar uma nova proposta no campo das artes, dando uma “feição” mais brasileira. O pintor Di Cavalcanti dá uma amostra do que viria pela frente: “Seria uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulista”.
Algumas das regras dessa nova “arte moderna” eram a liberdade de produção, além da informalidade e do improviso. Mas isso não impediu que os próprios idealizadores do projeto caíssem em contradição. “Existia, nos modernistas – e existe até hoje – esta ideia de que você precisa ‘popularizar’ a literatura e, ao mesmo tempo, a sua produção literária (…) é uma produção elitista. (…) O mesmo acontece hoje, numa imagem invertida” diz o professor Rodrigo Rangel, em entrevista ao site Brasil Paralelo.¹
Como já é sabido, a esquerda tomou conta, por anos, das artes no país – e ela é, de certa forma, ainda dominante nesse cenário. Já naquela época, a ideia era atrair as pessoas das classes mais baixas da sociedade usando, pra isso, uma imagem mais coloquial, beirando a vulgaridade. Quem não identifica isso hoje em dia? Na ânsia de querer “higienizar” a cultura, reescrevendo obras clássicas só para agradar aos ouvidos – e olhos – mais sensíveis, acabam por destruir um legado de anos deixado por aqueles que, verdadeiramente, lutaram por igualdade no Brasil.
E isso, feito por uma elite – não só daquela época, mas existente ainda hoje – que acha que pode reescrever a história a seu gosto. Ainda segundo Gurgel, “aquele grupo de jovens estava lá em Paris decidindo porque o Brasil precisava de uma nova literatura brasileira. Os caras estavam lá, estudando nas melhores universidades, comendo do bom e do melhor (…) É a mesma arrogância, é o mesmo tipo de comportamento,, algo extremamente populista, demagógico.”
Qualquer semelhança com a realidade de hoje – que por anos foi custeada com recursos públicos – não é mera coincidência. Um simples reality show desperta muito mais curiosidade no cidadão comum do que um livro de Machado de Assis ou Olavo Bilac. É todo o legado que a Semana de 22 deixou – e que continua ecoando até hoje, 100 anos depois.
“Não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição.” (Mário de Andrade)
Nota:
1 – Rodrigo Gurgel, entrevista ao site Brasil Paralelo.
Lucia Maroni, para Vida Destra, 11/02/2022. Sigam-me no Twitter, vamos debater o tema! @rosadenovembroo
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