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A Utopia do Igualitarismo – Parte I

Desde os seus primórdios, em termos de escola de pensamento, os teóricos da esquerda propõem, por diferentes vias, uma sociedade justa, igualitária e praticamente perfeita, onde os seres humanos não conheceriam classes sociais, desigualdades, não padeceriam necessidades, fome, sede e injustiças, e viveriam em meio à fartura. No entanto, todos os experimentos socialistas que tiveram essa pretensão falharam tragicamente, resultando em consequências desastrosas, apesar de todas as “boas intenções” e dos aspectos sedutores das propostas envolvidas. Charles Fourier (1772-1837), por exemplo, um pensador francês socialista, afirmou que na sociedade “ideal”, os homens nem teriam trabalho de caçar os pombos para, posteriormente, assar a carne e comê-la, pois haveria tanta fartura que os pombos voariam diretamente já assados para a boca das pessoas! Isso é utopia em mais alto grau! E o que é a Utopia? Utopia, deriva do grego “οὐ”, que significa “não”, ou prefixo de negação; e de “topos”, que significa “lugar”. Assim, utopia teria como significado um lugar ideal (não lugar), de felicidade plena e de harmonia entre os indivíduos.

Para alcançar isso, as várias propostas esquerdistas para alcançar o “paraíso” ou a “Utopia”, tem um ponto em comum:  O de que as pessoas sejam reeducadas para se tornarem novos homens e novas mulheres, dignos da nova sociedade. O problema é que, para alcançarem tal sociedade, os utópicos esquerdistas tratam os seres humanos como sendo objetos a serem manipulados em um grande laboratório social, em que os experimentos socialistas procuram seguir os dogmas das doutrinas esquerdistas, cujas premissas são falsas. Quando se partem de premissas falsas, os resultados são catastróficos e opostos aos que se pretendiam. Cuba é um exemplo disso. Antes da revolução comunista de Fidel Castro (1959), o país caribenho era um dos mais desenvolvidos do Ocidente, mas que atualmente chafurda na pobreza e no atraso. Um caso mais recente é o da Venezuela que, tendo sido um país próspero durante décadas, está em ruínas após os governos socialistas de Chavez-Maduro. O mesmo pode ser dito da Argentina, um dos mais ricos países do mundo no passado, e hoje com grande parte da população vivendo na pobreza, após sucessivos governos peronistas, de esquerda.

O objetivo final do experimento socialista é se chegar ao novo homem, expurgado dos valores ocidentais considerados burgueses e reacionários. Tais valores, na verdade, são os valores que conferiram à Civilização Ocidental a sua grandeza, riqueza e força, já que esta está apoiada em três pilares fundamentais: os princípios judaico-cristãos, a filosofia grega e o direito romano. O pensamento esquerdista, principalmente aquele denominado de pós-marxista, combate estes pilares, a fim de chegar à sua tão sonhada nova sociedade, já que considera a sociedade ocidental elitista, hierárquica, opressora, violenta, injusta e profundamente desigual. É isso o que propuseram, por exemplo, o comunista italiano Antônio Gramsci (1891-1937) e os teóricos da Escola de Frankfurt. Em lugar de sangrentas e destrutivas revoluções armadas para mudar a sociedade, como aconteceu na Rússia, em 1917, e na China, em 1949, aqueles pensadores aconselharam destruir o Ocidente por meio de uma revolução cultural que subvertesse por dentro os países ocidentais, usando para isso suas próprias instituições contra eles.

A sociedade ocidental alcançou seu poder e predomínio justamente por reconhecer que os seres humanos são naturalmente desiguais e diferentes em termos de preferências, capacidades, vontades, predisposições, gostos e inclinações, mas que devem ser tratados com igualdade perante a lei (formal ou material), terem igualdade de oportunidades e terem as suas escolhas respeitadas, desde que essas escolhas estejam de acordo com a lei. Por isso, a liberdade de pensamento, de locomoção, de expressão, de constituir livremente empreendimentos de acordo com as capacidades e vocações individuais, o direito à autodefesa pela posse e porte de armas e a garantia de propriedade, dentre outros, são defendidos como direitos inalienáveis à condição humana no mundo ocidental.  Pois foi a partir dessas liberdades que o Ocidente pode prosperar, em contrapartida ao cerceamento das liberdades individuais que prevaleceram durante milênios em países não ocidentais, levando, com isso, à tirania e à servidão dos povos nessas nações.

Tal reconhecimento e defesa das liberdades individuais, no Ocidente, deriva dos princípios bíblicos que conferem a cada pessoa uma individualidade única e inata, a qual tem de ser respeitada. Na Bíblia, está escrito que Deus dotou o ser humano de livre arbítrio, no qual nem o próprio Deus interfere. Deus, segundo a Escritura, apenas propõe e aconselha ao ser humano seguir o Bom Caminho, o Caminho da Verdade, da Salvação pela Graça por meio de Cristo. Porém, Deus não obriga nem força jamais o ser humano a escolher este Caminho. No entanto, a opção por outros caminhos levam a consequências pelas quais as pessoas serão responsabilizadas posteriormente. Como está escrito: De Deus não se zomba, pois o que o ser humano semear, isto também ceifará (Epístola aos Gálatas 6.7).

A cultura da civilização ocidental tem como um dos seus pressupostos que os seres humanos foram criados por Deus à sua imagem e semelhança, e como tal tem de ser respeitados. A vida humana, na sociedade ocidental originária, baseada em princípios judaico-cristãos, tem muito valor. No entanto, mesmo criados todos à imagem e semelhança divina, os seres humanos são naturalmente diferentes em aspectos físicos, psíquicos, volitivos e emocionais. Sendo assim, a desigualdade social e econômica é algo perfeitamente natural, é algo intrínseco e inerente à Physis(natureza), dado que as pessoas nascem com potencialidades, capacidades, habilidades, talentos e dons distintos. No entanto, o pensamento esquerdista não aceita esses fatos, interpretando essas desigualdades apenas e unicamente como consequências da assimetria das relações de poder (político, econômico, religioso, etc.), entre as pessoas, entre as classes sociais, entre os grupos e entre as nações. Nessa perspectiva, em busca da igualdade plena na sociedade, o pensamento esquerdista propõe a destruição da ordem vigente para acabar com as desigualdades, colocando no lugar outra ordem de acordo com os cânones esquerdistas.

A natureza é desigual. Aliás, profundamente desigual. Um exemplo flagrante pode ser citado no caso das abelhas. Embora tenham o mesmo DNA, sendo gêmeas no nascimento, as abelhas operárias e a abelha rainha tem longevidade bastante desigual. Enquanto as operárias vivem apenas, aproximadamente, cinco semanas, a abelha-rainha vive cerca de seis anos. A diferença está na alimentação. Enquanto as operárias recebem geleia real apenas nos três primeiros dias de vida em sua fase de larva, a abelha-rainha recebe esse alimento durante toda a sua vida. É a geleia real que garante a longa vida e a grande fertilidade da abelha-rainha. No entanto, ninguém cogitou jamais, em nenhum momento, algo como instituir um regime de cotas de geleia real para todas as abelhas da colmeia, para que cada uma receba uma porção igual do néctar. Isso não faria sentido algum, pois são as próprias abelhas que escolhem apenas uma, e somente uma, das larvas para receber a geleia real durante toda a sua existência.

Embora muitos defensores do igualitarismo radical e extremado possam torcer o nariz para esses fatos da natureza, os seres humanos são desiguais geneticamente. Há diferenças na cor da epiderme, de cor dos olhos, de cor e tipo de cabelo, formato do nariz, do crânio, de altura, de inteligência, etc. O capital estético (beleza) é distribuído de forma desigual entre as pessoas. Não há como redistribuir cotas de beleza de pessoas com altíssimo nível de capital estético, isto é, consideradas lindas, como era a atriz Elizabeth Taylor, por exemplo, para pessoas com escassez de capital estético, que não tiveram esse privilégio no nascimento. A natureza prima pela diversidade, pela diferença, pela variedade, pela multiplicidade.  Dessas diferenças naturais de constituição física entre os seres humanos, da hereditariedade, somam-se outras, que decorrem dos diferentes modos em como são criadas e educadas as pessoas pelas suas famílias, da diversidade de seu meio ambiente, das suas diferenças de cultura. Isso gera desigualdade e isso nada tem de antinatural. Pelo contrário. Mesmo em uma mesma família, está demonstrado pela ciência que os filhos primogênitos teriam, naturalmente, maior nível de habilidades intelectuais que seus irmãos, o que confere aos rebentos temporãos vantagens, sobre os serôdios, herdadas por fatores genéticos. O ganhador do Prêmio Nobel de Economia, James Heckman, produziu uma série de trabalhos científicos em que demonstra a forte relação entre perfis psicológicos, Quociente de Inteligência (QI) e renda, mostrando como esta é dependente dos outros dois outros fatores. Os indivíduos de maior QI, que são disciplinados, diligentes, motivados, focados são aqueles que, geralmente, terão os melhores salários e empregos na vida adulta. Por outro lado, mesmo indivíduos com alto QI, mas que não tenham o mesmo perfil psicológico, com as características mencionadas, terão salários menores e empregos piores, não obtendo realizações significativas ao longo de suas vidas.

Continua no próximo artigo.

 

 

Lívio Oliveira, para Vida Destra, 05/04/2021.                                                            Sigam-me no Twitter! Vamos debater o assunto! @liviololiveira

 

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4 COMMENTS

  1. O título diz tudo: “A Utopia do Igualitarismo”. Seres humanos não são iguais. Aliás, nenhum ser vivo é. Uma sociedade deve ser justa e proporcionar igualdade de oportunidades e cada um q as aproveite conforme lhe convier. Claro q não podemos deixar seres humanos morrerem de fome ou por falta de assistência médica. Tampouco somos obrigados a sustentar vagabundos. E, para promover esse equilíbrio, existe o Estado. Parabéns, Lívio.

  2. Parabéns, Lívio!
    O seu artigo é esclarecedor.
    Nosso planeta ainda está buscando o caminho melhor para a evolução social, econômica e política; então aparecem alguns querendo já “resolver” tudo, mas somente de forma teórica, propondo uma justiça que não parece possível nesse nosso estágio evolutivo, e não se encontra nem na natureza.
    Aguardarei a continuação.

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Lívio Luiz Soares de Oliveira. Economista, analista pesquisador, articulista do Vida Destra