“Ciência, planejamento, foco”. Esse mantra é repetido várias vezes nas cabeças das pessoas, como se ele por si só alterasse a realidade e tudo ficasse bem, que todos ficassem seguros. Porém, palavras soltas no ar têm o mesmo efeito que uma bela fruta na fruteira: se ninguém comê-la, suas vitaminas não alimentarão nenhum organismo, ela apenas apodrece e vai para o lixo.
Enquanto o ministro da Saúde molda e enfeita sua imagem com uma propaganda nada convincente para quem costuma usar o seu cérebro devidamente, não como um mero peso em sua cabeça, pessoas que, segundo muitas opiniões alheias à política, poderiam estar sendo salvas estão morrendo. Mas essa opção que está salvando vidas não é a ciência particular do ministro. Isso é outra ciência. E, já que ele é o grande poder acima de tudo e de todos, a sua ciência prevalece e pronto!
Mas, mesmo com tanta ciência, as pessoas continuam morrendo todos os dias. Para onde vai essa conta? Quem está assumindo essa culpa? Será que são os mesmos que estão esfregando em nossas caras caixões e covas? Devemos esfregar nas caras deles as pessoas curadas pelo tratamento com hidroxicloroquina? Devemos esfregar na cara deles as curas feitas por esse tratamento não somente em São Paulo, pela Prevent Senior, mas em outros países como a França e os Estados Unidos? A morte dessas pessoas só tem valor na hora de culpar os defensores do isolamento seletivo e amedrontar o povo?
Alguém está disposto a dar alguma explicação sobre isso? Alguém está disposto a cobrar essas explicações? São muitas questões, eu reconheço, mas, enquanto fazemos essas perguntas, enquanto políticos oportunistas lucram com a crise, enquanto pessoas fúteis postam vinhos caros e fazem ginásticas nas sacadas, outras tantas estão morrendo à mingua de um tratamento que está salvando a vida de quem pode pagar uma clínica ou um hospital particular. Neste ponto, alguém pode pensar: “Então, é porque o tratamento é caro, certo?”. Errado! O tratamento tem mais esta vantagem: é barato!
Alguém pode alegar que os hospitais privados também seguem a recomendação do Ministério da Saúde, que nesta pandemia somos todos iguais. Não vou escrever aqui a minha resposta a esse desatino, pois ela é imoral. Então, vamos refletir um pouco: os hospitais privados que não quiserem perder seus clientes acharão um jeito de salvar-lhes a vida, mesmo que esse jeito seja não cumprir um protocolo. Do contrário, esses mesmos pacientes procurarão outro hospital particular que lhes atenda. No mundo de quem paga é assim que funciona.
Mas e quem não pode pagar? Este fica confinado em sua minúscula casa, com os seus (sejam eles numerosos ou não), com sua fome, com sua espera longa e sofrida; e, é claro, sem perder sua esperança. Uma esperança fraquinha, sabemos, pois, pelo andar da carruagem, muita máscara terá que cair. Mas, nestes tempos de vírus devastador, ninguém quer tirar a sua.
Gogol, para Vida Destra, 08/04/2.020.
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Excelente!!!
Valeu, amiga! Um grande abraço!
Usam a ciência ao seu bel prazer, usando para fins políticos
E econômicos também, amigo Nunes! A economia dos bolsos deles. Espero que os órgãos de inteligência do Brasil todo esteja acompanhando esses gastos “urgentes”. Será que teremos mais uma Lavajato? Qual será o nome escolhido pela Polícia Federal desta vez?
Bingo. Está com cara que teremos mais uma Lavajato. “LavaCorona”
Já temos um nome, senhoras e senhores! Quem dá mais?
Parabéns, meu amigo! Brilhante como sempre!
Essa discussão envolvendo visões científicas nos mostra que por trás de tudo, sempre está a política! É nojento!
Sim. Infelizmente, parece que não conseguimos ficar livres dos demônios nunca. Nem nestas horas de doença. A nossa pior doença, na verdade, é a social. Elegemos finalmente um conservador, mas, ao mesmo tempo, o jogamos no ninho das serpentes.
Parabéns, Gogol! Excelente texto!
Valeu, meu grande amigo!
Ao começo do texto, remeti-me para a aula de Filosofia em que ciência não tem ciências absolutas. A verdade em ciência é provável, visto Newton com teoria linhas retas e Einsten com dobradura da luz. Verificacionismo.
Vá lamber sabão Maledetta.
Exatamente, amigo! Mas o que ele quer é conquistar um público de distraídos com esse discurso “científico”.
Isso é muito perigoso! Brincar com vidas humanas por causa econômica/política. As famílias prejudicadas, no mínimo, devem processá-lo.
Sim, principalmente qd o de saldo de mortos for bem maior na rede pública do que nos hospitais particulares.