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Racismo reverso: preto pode ser racista contra branco?

Absurdos com a chancela acadêmica e política existem e não são novidades, mas talvez nunca tenham sido tão ampla e desinibidamente defendidos e até impostos quanto atualmente. É impressionante que se tenha que gastar tempo e esforço para defender obviedades como homem é homem, mulher é mulher, branco pode sofrer racismo e que a ideia de que uma raça não pode ser racista é racista.

Racismo reverso significa um racismo de alguém ou de um grupo que sofre racismo por outros e passa a ter comportamento também racista contra estes. Um exemplo é o racismo reverso de certos pretos contra brancos.

O caso da África do Sul é emblemático: após a conquista do governo da África do Sul pelo Congresso Nacional Africano (CNA), partido de Nelson Mandela, em 1994, uma série de agressões físicas e assassinatos contra brancos têm ocorrido no país e assumido características de genocídio.

No Zimbábue, o presidente Robert Mugabe, também após o fim, em 1980, de um monopólio branco sobre o governo do país (antes denominado Rodésia), dirigiu contra brancos proprietários de terras uma série de medidas que levaram a um êxodo do país e à redução tanto da população branca quanto da produção agrícola.

No Haiti, após a conquista da independência em 1804, o imperador Jean Jacques Dessalines estabeleceu na Constituição de 1805 que,

“Nenhum homem branco, seja qual for a sua nação, porá os pés neste território, como senhor ou proprietário, e não poderá adquirir qualquer propriedade no futuro.”

Abriu exceção só para mulheres brancas, alemães e poloneses.

Na Libéria, um país criado pelos EUA para enviar para a África escravos e ex-escravos pretos e mulatos, por regra constitucional brancos ainda não podem pleitear a obtenção de cidadania, mas somente pessoas negras ou descendentes de negros.

Os exemplos acima são de países onde o governo é majoritariamente preto e que têm um histórico de legislações racistas.
Uma destacada alegação, porém, dos defensores de que não haveria racismo reverso afirma que racismo só pode ocorrer por quem ou por grupos que detenham o poder sobre as instituições do país, de modo que os exemplos citados – se admitidos por negristas – não se aplicariam a países onde brancos monopolizam o governo ou têm hegemonia sobre as instituições do país.
A ativista Djamila Ribeiro resume:

“Não existe racismo de negros contra brancos ou, como gostam de chamar, o tão famigerado racismo reverso. Primeiro, é necessário se ater aos conceitos. Racismo é um sistema de opressão e, para haver racismo, deve haver relações de poder. Negros não possuem poder institucional para serem racistas. A população negra sofre um histórico de opressão e violência que a exclui.”

Há muito desisti de perder tempo tentando convencer esquerdista, mas importa mostrar os erros nas afirmações deles que persuadem a muitos, inclusive juízes e outras pessoas com poder de interferir na vida de muitas outras.

O Nação do Islã, uma organização de uma religião muçulmana originada entre pretos e descendentes nos EUA, na década de 1930, da qual fez parte Muhammad Ali e Malcolm X até pouco antes de ser assassinado, é exemplo suficiente para provar a existência de racismo reverso: enquanto alguns grupos racistas brancos tentavam escorar seu racismo na Bíblia dizendo que se Deus quisesse mistura de raças não as teria criado, o Nação do Islã defendia que Deus teria criado os pretos e o Diabo, invejoso e para destruir a criação divina, teria criado os brancos os quais, por isto, seriam inimigos naturais dos pretos. Em seu livro Message to the Blackman in America, Elijah Muhammad, um dos líderes da organização, é explícito:

“A raça branca não é e nunca será o povo escolhido de Allah (Deus). Eles são o povo escolhido de seu pai Yakub, o diabo.”

Curioso que, caso se aceite a argumentação de Djamila Ribeiro de que negro não pode ser racista contra branco, se concluirá que pardo não pode ser racista contra negro. Segundo a filósofa,

“Para haver racismo reverso, deveria ter existido navios branqueiros, escravização por mais de 300 anos da população branca, negação de direitos a essa população. Brancos são mortos por serem brancos? São seguidos por seguranças em lojas? Qual é a cor da maioria dos atores, atrizes e apresentadores de TV? Dos diretores de novelas? Qual é a cor da maioria dos universitários? Quem são os donos dos meios de produção? Há uma hegemonia branca criada pelo racismo que confere privilégios sociais a um grupo em detrimento de outro.”

Se ser racista depende de fatos externos ao racista, então quem foi escravizado por mais tempo, os negros ou os pardos? Pretos são excluídos pelos tribunais raciais negristas ou são os pardos? Movimento negro é impedido de participar de conferências de igualdade racial ou movimento mestiço? Policiais são chamados para reprimir movimento negro em conferências de igualdade racial ou para reprimir movimento mestiço? Quem é quase obrigatoriamente chamado para debater sobre igualdade racial na grande mídia, no Congresso e nas academias e quem é quase obrigatoriamente evitado? Há maior financiamento e apoio para pesquisas sobre negros ou sobre pardos? Há mais órgãos públicos dedicados aos negros ou aos pardos? Quando um pardo é assassinado, os movimentos negros destacam que ele era pardo ou contam como negro? Existe legislação impondo a todos os negros a identidade parda ou impondo aos pardos a classificação como negros? Quem mais provavelmente será processado espontaneamente pelo Ministério Público: um pardo que ofende negros e um negro que ofende pardos? Em resumo, há privilégios sociais (e estatais) conferidos a negros ou a mestiços no Brasil, privilégios fundamentados na eliminação do mestiço?

O apagamento do mestiço descendente de branco é também uma manifestação do racismo reverso: o apagamento representa o preto, o índio ou de outra raça vingar-se do branco de modo não só a eliminá-lo como também a uma identidade mestiça declaradamente vinculada em sua origem a este.

Leis que criam direitos diferenciados entre brasileiros por identidade racial e – destaque-se – étnica alimentam racismo, inclusive reverso, enquanto leis que não fazem diferenciação em direitos entre cidadãos fortalecem o sentimento de unidade nacional e étnica entre brasileiros. Infelizmente a esquerda tem sido mais competente e dedicada a criar leis deste tipo e organizar movimentos de fragmentação do que a direita em responder a ela, desmascará-la e defender e instituir uma política racial e étnica moldada para a identidade e fraternidade nacional.

 

Leão Alves é médico e secretário geral do Movimento Pardo-Mestiço Brasileiro (Nação Mestiça).

 

Leão Alves, para Vida Destra, 12/08/2020
Vamos discutir o Tema. Sigam-me no Twitter @leaoalves e no Parler @LeaoAlves

6 COMMENTS

  1. Excelente artigo Leão. Colocou uma questão tão polêmica de maneira clara, concisa e argumentativa. Parabéns a você pelo artigo e o VIDA DESTRA por ganhar mais um ótimo articulista.

  2. Excelente ,ja estava na hora de colocar o dedo na ferida que muitos fingem nao existir.O racismo está presente no ser humano e nao a cor da pele, que ele possui ,pelo fato de eu ser negro eu nao posso ser racista ?isso e uma grande falácia .

  3. Para de conjectura. Pardo tem cor marrom , igual quando se mistura café com leite. Porque pardo tem de se considerado negro quando não o é e porque tem de ser considerado branco quando não o é. Racismo contra os pardos.

  4. O objetivo da mente revolucionária é se utilizar de mentes fracas e convencê-las de que são a supremacia racial. É a mesma técnica utilizada pelos nazistas, porém aplicada a raça e utilizando-se da premissa do racismo.

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Ex-presidente e atual secretário geral do Movimento Pardo-Mestiço Brasileiro (Nação Mestiça), médico formado pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).