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Pré História do Conservadorismo
Por Rogério Lemos @lemosrogerio4
Resenha do capítulo Pré história do conservadorismo – do livro “Conservadorismo: um convite à grande tradição”, de Roger Scruton.
Nos tempos medievais, as ideias políticas eram mais voltadas a algumas características da condição humana, onde a primeira destas características era o pertencimento social.
O nosso pertencimento social pode ser encontrado em pelo menos três formas de sociedade, tais como a sociedade tribal, que se dá quando nos relacionamos uns com os outros através do parentesco; a sociedade religiosa, que é o pertencimento determinado pelo ritual e pela fé. E em sociedade política, que é quando as relações sociais são governadas pela lei.
Porém, este período estava assombrado por guerras e disputas que, na maioria das vezes eram consequências deste pertencimento social, como conflitos entre famílias, conflitos entre grupos religiosos e etc. As pessoas então começaram a buscar novas formas de implantar a reconciliação da ordem social. Daí surgiu o Iluminismo com a sua promessa de incluir uma serie de ideias centradas na razão como principal fonte de autoridade e legitimidade, extinguindo assim a velha ideia de pertencimento social.
Contudo, outros e piores problemas surgiram, assim como já estava aparente para Aristóteles, e foi explicado por estudos modernos sobre decisões coletivas, que, quando um grupo de pessoas aplica a razão a um problema compartilhado, uma solução razoável pode não emergir.
Diversos pensadores que partilhavam da concepção aristotélica da racionalidade humana, de que a razão não deveria ser o centro da vida política, mas sim que, através da vida política, o uso da razão deveria ser refinado e as virtudes necessárias para o seu exercício coletivo implementado nos cidadãos. Estes pensadores então eram chamados de conservadores.
Com o Iluminismo voltou-se novamente à ideia de que a sociedade deveria ser como uma coleção de indivíduos onde cada um viveria numa liberdade plena, de supostas escolhas racionais, sem nada para prendê-los ao pertencimento social, como a religião e a família. O individualismo então assumiu um novo caráter durante o Iluminismo, com a ênfase entre a legitimidade e o consenso. Ou seja, algo se tornaria legitimo se as pessoas consentissem que aquilo deveria ser legitimado, não importando as consequências que tais consensos poderiam trazer, ou sobre a moralidade e a ética de tais legitimações. Onde o único parâmetro moderador seria a racionalidade humana de livres escolhas.
Porém, a história mostrou que a transição, da velha ideia política para as modernas formas de democracia, não foi o que se esperava, mas sim, pior. Pois já se comprovou, de várias maneiras e em várias épocas que nós, seres racionais, precisamos de costumes e instituições que sejam fundadas em algo além da razão, se quisermos usar nossa própria razão com eficiência.
Desta forma, a filosofia conservadora enfatiza a necessidade de conservar costumes e comunidades, e também a defesa da liberdade do indivíduo.
O legado filosófico conservador é tão antigo quanto os gregos. Aristóteles, em Politica, já defendia o governo constitucional, em termos bastante similares aos que os conservadores modernos hoje defendem, logicamente com várias adaptações em termos que o filósofo grego não poderia ter previsto.
Como o livro mostra, a pré-história do conservadorismo moderno inicia-se na Inglaterra e na França, como resposta ao liberalismo “clássico” – que surge na ampliação dos ideais Iluministas – que é uma filosofia política e uma doutrina econômica, cuja principal característica é a defesa da liberdade individual, com limitação do poder do Estado pelo império da lei, soberania popular, dentre outros. É importante ressaltar que conservadores e liberais “clássicos” concordavam sobre tais temas, desta forma a disputa entre estes dois grupos se referia a uma ideia mais ampla dos fatores citados.
Outros assuntos que serviam para amplo debate entre estes intelectuais eram a racionalidade, a divindade, e outros fatores que deveriam ser levados em consideração para legitimar um governo ou modelo de governo.
Para os liberais, inspirados pelas obras de John Locke (1632-1704), que defendia a razão e a liberdade individual acima de quaisquer outros fatores, a forma de governo legitima deve ser fruto do consentimentos dos governados. Ou seja, todo governo, uma vez que envolve a limitação da liberdade dos governados e a sua sujeição a um poder maior, deve ser fruto do consentimento para ser legitimo.
A transição do estado de natureza para o estado de sociedade civil seria legitima se fosse resultado de um contrato social, pelo qual seres livres concordam em aceitar restrições de seus direitos em troca de benefícios e da segurança da vida em sociedade.
Os revolucionários americanos, e os revolucionários franceses ainda mais sanguinários, adotaram muito das teorias dos liberais, contudo os conservadores também. A diferença então, seria que os conservadores sabiam que muitos outros fatores deveriam ser levados em consideração em uma sociedade, e que a liberdade individual deve vir após a ordem política e não o contrário, como os liberais pensam, que a ordem política virá como produto da liberdade plena individual.
Para os conservadores, os seres humanos chegam ao mundo com várias obrigações e sujeitos a instituições e tradições que contêm em si uma preciosa herança de sabedoria, sem a qual o exercício da liberdade tem tanto a probabilidade de destruir os benefícios e direitos humanos, quanto melhorá-los.
A tragédia que se sucedeu durante e após a revolução francesa, serviu também para provar que os conservadores estavam certos em serem céticos quanto às ideias Iluministas.
Os conservadores tem a consciência de que nossa sociedade ainda tem e sempre terá muitas doenças, e concordam com os liberais “clássicos” que a liberdade individual é algo precioso. Assim como tradições, crenças religiosas, costumes, família, comunidades e etc. Porém, os conservadores tem em mente que a liberdade é produto da ordem política, mas não chega nem perto das ideias socialistas, pois os conservadores também sabem do estrago que as tiranias causam, por isso, Burke disse:
“Precisamos reformar a fim de conservar”
Então, através do ceticismo perante o otimismo quanto às ideias modernas de estabelecer uma nova ordem política, o conservadorismo moderno foi sendo moldado, principalmente sobre a questão do que vem antes, liberdade ou ordem, e este debate dividira liberais e conservadores. Mas devido ao tempo, novas ameaças surgiriam para uni-los, sendo uma das mais importantes, o crescimento do Estado moderno.
Ser Conservador para o Vida Destra, 10/05/2021. Visitem o nosso site: serconservador.com.br Sigam-nos no Twitter: @conservador_ser
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Ótimo artigo! Para entendermos o momento que vivemos hoje, temos que observar a história, como nossa sociedade foi moldada, os valores que devem ser resgatados para torna-la saudável e quais sacrifícios estamos dispostos a fazer. ???