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A renúncia do primeiro-ministro do Japão

O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe (65) convocou uma entrevista coletiva às 17 horas de hoje (5:00 no horário de Brasília), onde anunciou a sua decisão de renunciar ao cargo, devido a um problema de saúde. Na sua segunda passagem pelo cargo e detentor do título de primeiro-ministro mais longevo da história japonesa, já que exerce o cargo desde 2012, Abe enfrenta há anos uma colite ulcerosa crônica. Esta doença, que provoca inflamações no intestino grosso, o levou a renunciar ao seu primeiro mandato, entre 2006 e 2007. Após um tratamento bem sucedido, que controlou a doença, voltou a disputar o cargo de primeiro-ministro em 2012, o qual exerce até o momento.

Shinzo Abe anunciou que permanecerá exercendo suas funções normalmente até que o seu sucessor seja nomeado. Em seu discurso na coletiva de hoje, agradeceu à população e aos profissionais de saúde pelo empenho no combate à pandemia de coronavírus, e pediu desculpas à população por não terminar o seu mandato na data prevista. “Para um político o mais importante é apresentar resultados, por isso me esforcei nesses 7 anos e 8 meses. Entretanto, convivendo com a doença e com o tratamento, não posso me permitir continuar como Primeiro-Ministro“, afirmou.

Abe ficou conhecido entre os japoneses pelas suas medidas econômicas, conhecidas como Abenomics, que visavam combater a deflação que afetava a economia japonesa, provocando uma estagnação que durou anos; também tinham como objetivo combater o crescente endividamento público, através da austeridade fiscal e da redução do déficit orçamentário, que seria conseguido com o aumento da alíquota do imposto sobre o consumo, que aumentou em duas etapas, de 5% para 8%, e de 8% para os atuais 10%. O segundo aumento da alíquota aconteceu em outubro do ano passado.

Durante o seu mandato, Shinzo Abe conseguiu que o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovasse sanções contra a Coreia do Norte, devido aos testes nucleares e testes com mísseis. Foi também durante o seu mandato que a lei que rege a sucessão imperial foi alterada, permitindo a abdicação do imperador Akihito e a ascensão e entronização do imperador Naruhito, com a mudança da era imperial, de Heisei para Reiwa. Abe deu prosseguimento à reconstrução da região nordeste do Japão, severamente atingida pelo terremoto e tsunami ocorrido em 2011 e também lidou com a questão envolvendo a energia nuclear e o desligamento de todos os reatores nucleares do país até que medidas de segurança fossem adotadas para evitar que desastres como o de Fukushima voltem a ocorrer.

O aumento do imposto sobre o consumo, que mencionei acima, deveria provocar uma retração de 3% no PIB japonês apurado no último trimestre de 2019, mas a queda real acabou sendo de 7,1%. Com isso, a economia japonesa iniciou o ano de 2020 já em desaquecimento, que foi agravado com a pandemia de coronavírus. O sucessor de Shinzo Abe terá nas mãos a difícil tarefa de enfrentar a recessão econômica, o déficit e endividamento público recorde, em um momento no qual estímulos governamentais são necessários para se evitar o colapso dos empregos e da renda das famílias, bem como do consumo.

Apesar de apresentar números considerados bons, Abe vinha sofrendo fortes críticas por parte da população em relação à sua atuação no combate à pandemia da Covid-19. Como brasileiro, eu acredito que o desempenho do primeiro-ministro não foi ruim, principalmente se comparado com o desempenho das autoridades brasileiras em relação à pandemia. Mas os japoneses são bem mais exigentes em relação aos seus governantes e Shinzo Abe, ao perceber a queda drástica da sua popularidade e a insatisfação da população, somadas às condições da sua saúde, decidiu que era o momento de jogar a toalha!

É interessante ver como aqui no Japão, os políticos são mais sensíveis à voz da sociedade! Não ficam agarrados aos cargos, lutando contra tudo e contra todos para permanecer com o poder nas mãos, como seus pares tupiniquins. Mesmo longe da perfeição, Abe governou usando com sabedoria as ferramentas e recursos que tinha às mãos. Vamos agora aguardar a nomeação do seu sucessor, que será escolhido após eleição para a escolha do novo presidente do Partido Liberal Democrata (PLD), partido que detém a maioria das cadeiras no parlamento e cujo presidente é automaticamente indicado ao cargo de primeiro-ministro. Que o novo premier japonês esteja à altura dos desafios que deverá enfrentar!

 

Sander Souza (ConexãoJapão), para Vida Destra, 28/8/2020.
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9 COMMENTS

    • Muito obrigado, Nunes!
      O nível ético e moral dos nossos políticos só mudará quando os substituirmos por outros! Precisamos arregaçar as mangas e tomar o lugar deles!

  1. Ao ler seu artigo, lembrei-me que Maia tinha ido a Espanha, pensando em ser primeiro ministro brasileiro. Claro que queria eternizasse no poder. Não conseguiu os conchavos, mas nunca terá a dignidade de Shinzo Abe, que governou para o povo.

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