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A Utopia do Igualitarismo – Parte II

Prezados leitores:

Publicamos hoje a segunda parte deste excelente estudo escrito pelo economista Lívio Oliveira. Caso tenham perdido o artigo anterior, podem acessá-lo facilmente pelo link abaixo:

Parte I 

 

Continuação:

No entanto, o pensamento de esquerda não suporta a desigualdade natural e chama a isso de injustiça. A esquerda clama por um igualitarismo radical, utópico e irrealizável. E propõe remédios que funcionam, na prática, como veneno para o paciente e que, invariavelmente, terminam matando-o. Nesse contexto, os maiores pensadores da esquerda se revelam soberbos, pretensiosos e orgulhosos. Essas pessoas, comumente, superestimam sua própria importância e a viabilidade de suas obras intelectuais. Um dos problemas desses pensadores, dentre outros, é que se consideram muito melhores do que as outras pessoas e muito mais inteligentes do que realmente o são. Pretendem reformar o mundo sem antes se darem ao trabalho de reformarem a si próprios, buscando a verdadeira sabedoria. E julgam ter as capacidades intelectuais, morais e espirituais necessárias para reconstruir o mundo, quando não as possuem de fato. Dizem querer tornar o mundo melhor sem que eles mesmos precisem se tornar pessoas melhores.

Jean Jaques Rosseau (1712-1778), por exemplo, que foi o intelectual francês que criou a figura do “bom selvagem”, e tido como líder do movimento Romântico radical, não era um caso isolado da contradição do “faça o que eu digo, mas não faça o que faço”, que caracteriza muitos dos pensadores utópicos esquerdistas. O exemplo de Rosseau é emblemático. Queria reformar a educação mundial, mas não cuidou da educação dos próprios filhos. Teve cinco crianças com uma amante em Paris e as entregou a um orfanato. Tempos depois, como grande ironia, escreveu o livro Emílio (ou da Educação), onde pretendia ensinar como educar crianças. Uma contradição ambulante, Rosseau granjeou glória e fama ainda vivo. E ainda desfruta, mesmo depois de ter partido deste mundo há mais de dois séculos. No entanto, em outros casos, sucesso, impacto e influência semelhantes às de Rosseau não são obtidas, ainda em vida, por muitos pensadores esquerdistas. Por isso, se consideram injustiçados pela sociedade, reclamando um reconhecimento que não teria sido a eles conferido. Daí que muitas das utopias de esquerda nascem sob o signo da inveja do sucesso alheio, do ressentimento pelo fato de os seus proponentes não terem tido alcançado o reconhecimento social e o prestígio  que gostariam de usufruir.

Assim, tais pensadores identificam a origem de seus problemas e frustrações pessoais na ordem social vigente, no modelo de sociedade adotado, no modo como o meio social foi formado. Destarte, propõem a derrubada do status quo, da forma de organização da sociedade e a adoção de suas utopias como meio de se alcançar um novo mundo, menos injusto e mais fraterno, igualitário. A questão é que este mundo que propõem é justamente aquele que foi delineado em suas utopias. Fora disto não haveria qualquer alternativa. Não haveria, para esses “iluminados”, possibilidade de salvação para a humanidade fora das utopias ditas progressistas. Qualquer tentativa de crítica a estas utopias é tomada como ataque aos próprios formuladores utópicos. As críticas são interpretadas, por tais pensadores, também como uma tentativa hipócrita de manter o status quo por parte dos chamados capitalistas que, segundo raciocinam, dele se beneficiam e estariam, agindo assim, temendo apenas perder seus benefícios e seus privilégios.

Rosseau, assim como todo pensador de esquerda que propõe outros mundos possíveis, pode ser caracterizado como utópico. A utopia é um modelo de sociedade que pode até funcionar bem na teoria, nos livros e nos tratados políticos, econômicos e sociológicos. Na prática, a história é bem diferente. As utopias esquerdistas são totalmente irrealizáveis. Os exemplos abundam, como é o caso da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que rivalizou na corrida militar com os EUA durante o período da Guerra Fria, mas que desabou como um castelo de cartas em 1991, deixando de existir após sua criação, em 1922, tendo Vladimir Lenin (1870-1924) como o seu fundador.

Toda utopia humana é uma vã tentativa de restaurar o paraíso na terra sem a ajuda e sem o auxílio do Deus Eterno, Criador de todas as coisas. Todo esforço nesse sentido irá terminar em fracasso, destruição e tragédia. Isso está bem exemplificado pelas tentativas de se criarem sociedades justas e igualitárias em países como a União Soviética, China, Camboja, Vietnã, Cuba, Coréia do Norte, Moçambique, Angola e Venezuela. Tal fracasso do experimento socialista é evidenciado pelo número de mortes que resultam da implantação de regimes comunistas, seja pela violência física, pela fome, doenças, etc. No século XX, foram cerca de 100 milhões de mortes provocadas por governos socialistas e comunistas, conforme está indicado no Livro Negro do Comunismo. Essas mortes foram consideradas aceitáveis por tiranos como Lênin, Stalin, Mao Tsé Tung, Pol Pot e Fidel Castro, pois a utopia de esquerda postulava ser inevitável a eliminação daqueles que se opunham a tal projeto de sociedade, considerando a estes como inaptos para viverem no “mundo novo” socialista. Essas vítimas são consideradas efeitos colaterais da tentativa de implantação do socialismo/comunismo, pois essa utopia pressupõe que “não se faz omelete sem  quebrar ovos”.

Assim, não há nenhum respeito verdadeiro, na ideologia de esquerda, na utopia socialista/comunista, pela individualidade humana,  pelo valor da vida humana, pois tudo que se busca é a sociedade igualitária, sem diferenças, onde exista homogeneidade de vestuário, moradia, alimentação, rendimento, de comportamento e de pensamento. Isso é, evidentemente, inalcançável, pois é a ditadura do coletivismo igualitário, onde não existe espaço para o contraditório, para o divergente, para a liberdade de pensamento e de expressão.

Na verdade, esses experimentos socialistas/comunistas, ao pretenderem implantar sociedades igualitárias, levam a uma brutal concentração de poder político e econômico nas mãos das elites revolucionárias. Tais utopias são, em si mesmas, antinaturais. Tais utopias buscam o impossível e, invariavelmente, produzem idênticos resultados desastrosos. É como no caso de Sísifo, o Titã que foi condenado pelos deuses do Olimpo a rolar, eternamente, uma rocha até o cume de uma montanha. Em lá chegando, depois de muito esforço do personagem, a rocha rolava para o fundo do vale e todo o trabalho recomeçava. A utopia socialista/comunista é um trabalho Sisifiano em si mesmo.

Continua no próximo artigo.

 

 

Lívio Oliveira, para Vida Destra, 12/04/2021.                                                            Sigam-me no Twitter! Vamos debater o assunto! @liviololiveira

 

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Lívio Luiz Soares de Oliveira. Economista, analista pesquisador, articulista do Vida Destra