Vida Destra

Informação é Poder!

Sociedade

Amarras auto-impostas

No início deste milênio, o brasileiro iniciou seu contato com uma nova tecnologia de comunicação: a internet; uma grande rede mundial de computadores que prometia uma verdadeira transformação em diversos segmentos econômicos devido à sua escalabilidade em nível global – e de fato, essa transformação aconteceu.

Graças à internet, houve uma enorme quantidade de sites dedicados aos mais variados temas: desde compras online, jogos virtuais, salas de bate-papo, blogues pessoais e  grandes portais consagrados de notícias, que viam a quantidade de suas publicações impressas diminuírem a cada dia. As possibilidades eram inúmeras e a quantidade de informação produzida e veiculada não parava de aumentar, mas o brasileiro apaixonou-se por um segmento de site bastante particular na internet: as redes sociais, em especial o Orkut e atualmente, o Facebook.

As razões sócio-antropológicas pelas quais as redes sociais cativaram muito mais o povo brasileiro do que qualquer outro no mundo escapam-me neste momento e pretendo não elucubrá-las neste artigo, mas não deixa de ser um fato curioso que o brasileiro dedique tanto tempo de seu dia nesse tipo de conteúdo tão supérfluo, efêmero – e muitas vezes imbecilizante – quanto às redes sociais. O leitor mais apressado desse artigo deve alegar que ele não faz parte dessa monta e que suas redes são para manter contato com amigos, familiares e influenciadores favoritos de alto gabarito intelectual, mas cá para nós, sabemos que esse tipo de usuário é uma minoria.

Em um mundo onde o volume de informações é enorme e tê-las em qualidade significa auferir cada vez mais poder, era de imaginar-se que a internet e as redes sociais servissem como ferramenta para tal propósito. Agora, um cidadão comum e de vida rotineira tinha acesso a todo um manancial, sobretudo os de cunho político e jornalístico, antes restrito a uma elite ou público muito seleto que agia como o verdadeiro Demiurgo, o arquiteto da realidade, e que relegava às demais camadas apenas o que julgava conveniente. Eis então a origem do problema, pois agora esse mesmo cidadão em posse de mais informações consegue confrontar a narrativa “oficial” veiculada pela classe falante, aprofundar um tema específico mal esclarecido, tomar conhecimento do que não foi dito e, principalmente, decidir em quem acreditar ou em quem votar. A essa altura, o leitor já deve saber que nada incomoda e atemoriza mais o estamento burocrático — aqueles cujo objetivo é a concentração e perpetuação do poder em suas mãos – do que indivíduos tomando as próprias decisões.

Isto posto, o estamento burocrático do Brasil e do mundo agiu mais do que depressa a fim de cercear e controlar o fluxo de informações veiculadas na internet, principalmente as informações ditas pelos chamados conservadores, antes tratados como seres exóticos e abomináveis dentro da grande imprensa, embora representassem o modo de pensar de grande parte da população, razão pela qual esses conservadores tiveram muita popularidade.

Este meu alerta tem os conservadores como principais destinatários. De fato, é inaceitável que uma ferramenta ou plataforma de internet que denomina-se livre, determine qual informação deve ser censurada ou garantir maior alcance para um determinado viés ideológico em detrimento ao viés antagônico, portanto é compreensível todo o alarido feito pelo grupo prejudicado por essas ferramentas e plataformas, contudo, convido o leitor a pensar além.

Já está arqui-provado que não só os donos dessas ferramentas como os profissionais que trabalham para elas, sobretudo os situados no Vale do Silício, são majoritariamente progressistas – o jeito moderno para dizer que alguém é “de esquerda” – e, portanto, a reclamação dos conservadores via essas mesmas ferramentas surtirá pouco ou nenhum efeito prático. Terá igual impacto uma reclamação formal via judiciário, pois, no máximo, essas ferramentas seriam punidas, se tanto, por “propaganda enganosa” já que prometem um ambiente livre, mas censuram conteúdo. Vendo os esforços em vão, o que nossos nobres conservadores – salvo raríssimas exceções – vêm propondo? Uma ação direta do poder executivo e legislativo; mas percebam a gravidade e incoerência desse ato: ao propor que o Estado brasileiro atue diretamente no tema, os conservadores estão pedindo para que haja uma interferência estatal em empresas privadas. Nenhuma dessas ferramentas obrigou qualquer pessoa a utilizá-las e mais ainda, quando alguém opta por elas, é necessário concordar com os “termos de serviço”, portanto, por livre e espontânea vontade você adentra numa plataforma, mas pede que o Estado interceda por você? Essa visão de mundo onde o Estado é o grande editor da sociedade não pertence aos progressistas? Outro ponto, qual a garantia de que a atuação do Estado beneficiará apenas os conservadores ou que o dispositivo criado não será um empecilho no futuro?

Creio que nenhuma dessas perguntas foram respondidas ou sequer formuladas pela maioria que optou pela reclamação e clamou pela solução via Estado. Também não acredito que essas mesmas pessoas tenham agido assim por mal. Talvez não debruçaram-se sobre o tema tempo suficiente, faltou análise quiçá tenha sido um resquício de marxismo ainda impregnado – lembre-se que duas décadas de ensino estatal formal carregado de marxismo não remove-se do dia para a noite – mas o que quero deixar como proposta é que os conservadores pensem e livrem-se dessas amarras auto-impostas e criem suas próprias ferramentas, que busquem por plataformas descentralizadas (decentralized apps) e quem sabe até — e por que não? — retornemos ao início da internet onde a informação estava pulverizada em vários blogues e páginas mais simples e objetivas e não mais concentrada em duas ou três redes sociais e uma plataforma de vídeos. A internet é muito maior do que isso e devemos ocupar espaços literalmente.

Quantos telefonemas são necessários para fazer com que um perfil seja removido do Facebook ou do Twitter? Relembrem o quão fácil foi para o Estado brasileiro bloquear o uso do WhatsApp ou Telegram? Quantas vezes não assistimos às entrevistas de funcionários das bigtechs afirmando que determinadas palavras-chave são omitidas dos mecanismos de busca, por exemplo? Agora imagine qual seria o esforço necessário para desligar ferramentas descentralizadas ou fazer sumir centenas ou milhares de sites pulverizados por toda a internet e que contém informações indesejadas para o estamento burocrático?

Caro leitor ou qualquer interessado, sugiro mais ação concreta e menos mimimi. Saiam das cordas!

 

Aliomar, C. Silva para Vida Destra, 29/10/2020
Vamos discutir o Tema. Sigam-me no Twitter @c_aliomar

4 COMMENTS

  1. No brilhante art. de estreia @c_aliomar s/amarras autoimpostas, lembro que Sen.Ted Cruz enquadrou Dorsey, Pres. Twitter, como antes feito c/Zuckerberg. Toffoli disse q é o editor geral e cuidado c/Sleeping Giants. Agora a pág. do Professor Olavo no Facebook é uma enciclopedia. Concordo s/plataformas.

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