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Bella Ciao!

A tradução mais adequada para “Bella Ciao”, canção da tradição do lavoro italiano do século XIX seria “Querida, adeus!”

Não há como desassociar esse termo com a campanha de impeachment de 2016, quando então a senhora presidente Dilma Rousseff, arrumou sua gaveta do escritório do Palácio da Alvorada carregando nas tradicionais caixinhas de demitidos alguns badulaques pessoais. Quem sabe, levava consigo uma mandioca, um cachorro oculto e um vento estocado.

Bella Ciao, canção do campesinato, que posteriormente se transformou em um símbolo da Primeira Guerra Mundial e da resistência ao fascismo na Segunda Grande Guerra, traduzia em sua letra a clara necessidade da luta contra o poder opressor de Benito Mussolini.

Para quem se lembra da campanha presidencial de 2018, justamente esta mesma canção foi parafraseada nos protestos da “hashtag Ele Não”, e deixou exposta a dificuldade de se tratar com o contraditório. Assim, tentaram engajar a população contra todos aqueles que buscavam quebrar a hegemonia socialista instaurada em nossa pátria ao longo de quase três décadas dos mandatos psdbistas e petistas. E como relatava o comunista Antônio Gramsci em seus nove Cadernos do Cárcere: “se você controlar as mentes que assimilam as informações, não precisa controlar as fontes das informações” – Nesse contexto, cria-se uma imunização cognitiva onde as pessoas refutam o contraditório sem colocá-lo no crivo da razão. Assim, se faz necessário demonizar seu opositor, dando-lhe todo o descrédito e escárnio para que este seja um dos pontos a conseguir na tão sonhada hegemonia cultural.

Mas para que o escárnio à “direita fascista” ganhe força é preciso ridicularizar a história, deturpar a história e contá-la ao gosto das mentes que nada desejam senão a subversão daquelas sociedades que se tornam seu alvo. Para depreciar o contraditório, urge transformar seus opositores em inimigos coletivos.

Porém, com seriedade, compromisso histórico e várias evidencias, livros como “Arquipélago Gulag” de Alexander Soljenítsin e documentários como “Soviet History” de Edvíns Snore, concordam em apresentar uma clara afinidade dos movimentos nazifascistas alemão e italiano com a ditadura comunista de Josef Stalin. Hitler não teria invadido a Polônia no dia 1o de setembro de 1939 se no dia 23 de agosto do mesmo ano, os dois governantes da Alemanha e da União Soviética, não tivessem assinado um pacto garantindo que seriam oferecidos para o então Terceiro Reich, mantimentos, combustível e ferro russo para fabricação de material bélico.

Este referido acordo, assinado entre os ministros dos negócios das duas nações, Joachim von Ribbentrop e Viatcheslav Molotov, definiam um pacto de não agressão bem como os referidos acordos comerciais. Este acerto durou dois anos até o ataque alemão na famosa operação Barbarossa em 22 de junho de 1941. A habilidade de Stalin em perceber que a sana por poder faria do ex-parceiro um potencial opositor levou ardilosamente a campanha soviética para o outro lado das trincheiras.

Contudo, dentre inúmeros documentos abertos da NKGB russa pós queda do regime, cabe aqui mais alguns pontos a serem observados, demonstrando o apreço entre essas ditaduras revolucionárias no século XX. No referido ano de 1939, pós invasão polonesa, ambos não teriam se encontrado na metade do caminho, com soldados e oficiais dos dois lados se cumprimentando e estabelecendo as fronteiras da Polônia Nazista do Oeste e da Polônia Comunista do Leste, se não houvesse ali um intrínseco desejo de ideais que se aproximavam, ainda que com algumas matizes a dar personalidade ao socialismo étnico alemão e ao socialismo de classe russo.

Por isso, não podemos também dizer que a invasão soviética a Helsinque (Finlândia) em dezembro de 1939 tenha ocorrido por mera consciência de guerras paralelas. Nem poderíamos explicar essa dissociação esquizofrênica entre comunismo e nazifascismo, sem questionar por que os oficiais da Gestapo nazista receberam treinamento da NKGB e da NKVD (Comissariado do povo para assunto interno soviético) no ano de 1938.

Ou como não relacionar as propagandas alemãs e soviéticas com as mesmas estruturas linguísticas e imagéticas. Usavam as mesmas palavras, mesmos desenhos de homens, mulheres e crianças emblemando seus respectivos símbolos. Como também fica evidente, a dura frase exposta em letras garrafais nos campos de concentração alemães e nos Gulags soviéticos com a inscrição: “O Trabalho te liberta” e “O Trabalho é uma honra”, respectivamente.

Ademais, é nítida a incongruência em nomear conservadores de direita como fascistas, quando se tem registros em vídeo com depoimentos do ex-coronel da inteligência e membro do comité central soviético, Vladimir Kaparov, e que declara assumidamente a estreita relação que sustentou durante certo tempo a amizade entre esses dois regimes nefastos.

Não esqueçamos que o pai do fascismo, o “Duce” Benito Mussolini, tinha como lema fascista a célebre frase: “Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado”. Não por mera coincidência, a tão apreciada CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) adorada e defendida com unhas e dentes por sindicalistas brasileiros, tem como inspiração a “carta del Lavoro” do Partido Nacional Fascista.

Tudo isso para dizer, que um “Ele Não”, “Bolsonaro Genocida”, “Miliciano” e todos os demais termos pejorativos tem como função manter um estamento produzido com calma, estratégia e significativo aporte financeiro claramente exposto nos diversos processos da operação Lava Jato. Uma operação que ganhou símbolos questionáveis como o ex-juiz Sérgio Moro, mas que necessita guardar o devido mérito e respeito pelas diversas instancias jurídicas que corroboraram o maior sistema de corrupção do planeta.

Desta forma, conseguimos entender como comunistas carregados por seus “revolucionários orgânicos” e sustentados por um narco-governo cantavam uma música antifascista.

Cantar Bella Ciao desta maneira mostra claramente como chegamos em um nível de estupidez coletiva e, ao mesmo tempo, tão desejada na Teoria Crítica por figuras como, Adorno, Horkheimer, Derrida, Saul Alinsky e Herbert Marcuse.

Já não há mais o discernimento histórico para aclarar fatos e mostrar que movimentos revolucionários de forma geral se locupletam mesmo que tenham suas aceitadas variações. Apenas vemos nos dias de hoje uma militância vociferando palavras de ordem vendidas como fast food pela mídia cooptada.

E se é para alguém cantar “Bella Ciao”, por favor, permitam que a verdadeira resistência cante aos quatro ventos, que nós, os patriotas e soberanos dessa terra, desejosos de genuína liberdade e justiça, possamos assumir o que de fato nos pertence e cantar:

Esta manhã, eu acordei 

Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!     

Esta manhã, eu acordei                                                                                             

E encontrei um invasor.

 

 

Adriano Gilberti, para Vida Destra, 26/05/2021.                                                              Sigam-me no Twitter, vamos debater o meu artigo! @adrianogilberti

 

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1 COMMENTS

  1. Fenomenal! É de suma importância resgatar a história do sequestro sociocomunista que imprimiu à direita conservadora as chagas purulentas da esquerda progressista que, desde o romantismo, tenta pervertar a ordem no mundo, por meio do caos revolucionário e sua ânsia de poder. Texto muito bem alinhavado e consistente, rico em bases históricas e fundamentos discursivos. Parabéns!

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Adriano Gilberti – C.O da Startup Transcender Studios. Comunicólogo, Relações Públicas, Cineasta, escritor e roteirista com diversos trabalhos no cinema e teatro. Autor dos livros “Cartas para Palavra” e “Necas de Pitibiriba”. Indicado como melhor ator longa metragem 2010 com o filme "Bem Próximo do Mal" pelo prêmio Sesc/Sated. Sua dramaturgia Belatriz recebeu três indicações no prêmio Usiminas/Sinparq.