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Em defesa do homeschooling e da educação livre

O tema homeschooling – ou educação domiciliar, em tradução livre – voltou ao debate político no mês de abril de 2021, após o caso da jovem de Sorocaba – Elisa Flemer, de 17 anos – que é praticante do homeschooling, isto é, Elisa não cursava a escola como os outros alunos, mas conseguiu, mesmo assim, algo que seus 797 concorrentes não conseguiram: passar no vestibular da Escola Politécnica da USP. Elisa, no entanto, não poderá assumir a vaga devido ao fato de não ter diploma de ensino médio, algo exigido pela juíza que analisou seu caso, o que levanta o questionamento sobre a função da educação presencial, se é de fato educar, pois, se de fato é, pode ser facilmente substituído pela educação domiciliar – e Elisa é a prova material disso. Mas, se a função dessa modalidade de ensino (presencial) não é educar, levando em consideração as evidências que já temos, podemos concluir que sua função é doutrinar, o que obriga nós, defensores da liberdade, a alertarmos sobre esse fato, e defender a educação domiciliar e todos os seus benefícios, bem como a educação livre.

Para falarmos de educação, é necessário falarmos antes de razão, pois uma está ligada à outra. A razão nada mais é que a unidade do senso real em si, ou seja, é a coesão que exclusivamente seres humanos conseguem entender que há entre percepções e pensamentos, atitudes e palavras, teoria e prática. A lógica, por exemplo, é uma expressão que demonstra parte da razão e culmina na sintetização de um conhecimento, como a matemática, que é inteiramente baseada em lógica. A razão não pode ser imposta, ela é uma abertura individual, e não coercitiva, que o indivíduo faz à compreensão do mundo através da experiência com os objetos do ambiente que o cerca, e através do raciocínio em si. Veja que essa abertura individual e voluntária do indivíduo à razão é a educação, palavra com origem no latim, que significa “ex ducere”, ou seja, levar para fora, uma alusão a transcendermos no conhecimento. É através do processo voluntário chamado educação, e apenas dele, que desenvolvemos tudo o que há no mundo até hoje, libertando nossas almas da ignorância total com a qual viemos no mundo, nos permitindo conhecer e lidar, através de métodos como tentativa e erro, com o mundo no qual vivemos e continuamos aprimorando-o.

A partir da definição de razão e da demonstração que ela gera a educação, podemos concluir que a educação também não pode ser imposta, isto é, só é possível educar um indivíduo que deseja ser educado, o que nos fornece nosso primeiro argumento para a defesa do homeschooling, pois se uma criança não deseja se abrir ao conhecimento, seus pais e a escola não conseguirão educa-lo, o que explica a existência de alunos medíocres em escolas particulares tops de linha, e o caso da Elisa Flemer – uma estudante que voluntariamente se abriu ao conhecimento por almejar uma profissão e demonstrou uma alta capacidade cognitiva sem se submeter à escola presencial.

Sabemos também que todo indivíduo vem ao mundo desprovido de conhecimento, no entanto, quando criança, o sujeito, ao interagir com o ambiente que o cerca, e através do raciocínio, passa a integrar um processo de aprendizado, descobrindo as coisas da vida, o que nos permite concluir que não se pode resumir educação na obrigação, imposta pelo Estado, de uma criança frequentar um ambiente no qual irá aprender coisas pré determinadas por um grupo de burocratas – pelo contrário, isso não pode ser chamado de educação, mas sim de doutrinação, visto que o ensino é pré determinado por um grupo político, o qual usará esse meio para passar às crianças os valores ideológicos vigentes, como feito no governo Lula, com livros elogiando a gestão petista e demonizando a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardozo, que era praticamente um Lula com curso superior. Essa situação nos fornece nosso segundo argumento em defesa do homeschooling: uma vez que pais detenham o controle da educação de seus filhos, é impossível que professores de esquerda criem militantes, ao invés de ensinar aos alunos o que eles realmente devem saber.

Apesar de mil e uma evidências, muito duvida-se ainda se a doutrinação nas escolas realmente existe. Para aumentarmos nossa lista de evidências, vamos analisar alguns dados das últimas duas eleições, usando, como exemplo, a pesquisa do Datafolha de 2018, que mostrou que as pessoas de 16 a 25 anos, isto é, que saíram da escola mais cedo ou que ainda estavam nela, tinham preferência para votar no Haddad, ao passo que os jovens de 25 a 34 anos tinham preferência por Bolsonaro, apesar desta preferência ter decaído ao longo do período. Somente os indivíduos com 35 anos ou mais mantiveram uma postura firme de perseverança com o presidente Jair Bolsonaro.

Cenário semelhante ocorreu em 2020: em São Paulo, às vésperas das eleições do segundo turno: aproximadamente 61% dos jovens de 16 a 24 anos tinham preferência pelo candidato do PSOL, Guilherme Boulos, cujo partido defende as pautas que acusamos de ser doutrinação (ideologia de gênero, socialismo, niilismo etc.). Os jovens de 25 a 34 também tinham preferência, embora menor, por Boulos, mas temos que lembrar aqui que o jovem que em 2020 tinha 25 ou 26 tinha 23 e 24 em 2018, ou seja, já tinha absorvido uma boa parte da carga da doutrinação em sala de aula. Somente os indivíduos com 35 anos ou mais é que detinham preferência pelo outro candidato, Bruno Covas, com uma margem de 10% de diferença ou mais.

Um argumento muito utilizado pelos críticos da educação domiciliar é que “os país não têm o conhecimento pedagógico necessário para ensinar os filhos”. O Brasil encontra-se nos últimos lugares do mundo nos testes internacionais de educação, com a maioria esmagadora dos alunos matriculados em escolas presenciais, o que no mínimo sugere que os professores atuais também não são os maiores detentores de tal conhecimento, visto que, se fossem, a educação não estaria indo de mal a pior. Ademais, não existem apenas os pais para ensinar os filhos no homeschooling, há também uma quantidade infinita de materiais na internet – gratuitos e pagos, dos mais variados tipos – que os alunos têm à disposição para, com o auxílio dos pais ou de algum outro orientador – educar-se. E tais materiais indicam superioridade face aos ofertados na escola pública, tanto que Elisa passou utilizando os materiais não ofertados exclusivamente nas escolas, mas também contando com todo o aparato que a internet fornece.

Os “especialistas” em educação, para justificar serem contra o homeschooling, também alegam que a escola é um agente de transformação social, pois insere o aluno na vida em sociedade, ensinando o a lidar com o mundo. Tal argumento pode até ser verdade, visto que a escola insere o aluno num ambiente de socialização, no entanto, a escola não é o único meio de socialização que o aluno encontra à sua disposição. Amizade com vizinhos, interação com primos e familiares, ida em parques são outros meios os quais uma criança ou adolescente pode socializar. Ademais, me parece muito mais seguro sacrificar uma pequena fração da sociabilidade do meu filho para preveni-lo dos problemas que estão se agravando cada vez mais nas escolas, como o tráfico e uso de drogas e o bullyng, que em alguns casos leva a criança ou o adolescente ao suicídio, e, claro, com as greves, no caso das escolas públicas, em que os sindicatos dos professores que dizem “lutar pela educação” não medem esforços para decretarem greve, paralisarem o serviço de educação (que é essencial) e imputar prejuízos ao estudante.

Mas apenas o homeschooling não é capaz, por si só, de aprimorar a educação que, como vimos, só é possível se o sujeito está disposto a se educar. Não adianta querer ensinar geometria euclidiana para a criança ou adolescente que tem talento para e que está disposto a aprender poesia trovadoresca, pois são partes muito diferentes do conhecimento humano, e é normal que as competências para as quais o indivíduo demonstra maior aptidão se manifestem em sua infância ou adolescência. Dessa forma, apenas a educação livre, isto é, a educação como um direito de fato dos pais da criança – e não um dever imposto aos outros, como é hoje – é capaz de desenvolver de fato as habilidades do indivíduo, pois ela, sobretudo, não parte da presunção de que o aluno tem que aprender com base na violência (que é o que ocorre, na prática, quando um aluno que não tem aptidão para educação física se recusa a participar das atividades dessa matéria), mas sim com base em sua capacidade à medida em que ele estiver disposto.

Outro ponto que prova a superioridade da educação livre é que ela respeita os limites dos alunos. Em qualquer escola, pública ou privada, alunos diferentes têm ritmos diferentes de aprendizado para matérias diferentes. Colocar o aluno que é brilhante em matemática, mas que tem dificuldades com português junto com o aluno que é brilhante em português, mas tem dificuldades em matemática é uma violação da capacidade cognitiva da criança e do adolescente que terá sérios impactos em seu futuro, principalmente profissional.

Além disso, é uma perda de tempo que o aluno que demonstre aptidão à matemática, mas não ao português seja submetido ao mesmo ritmo de estudos que o aluno brilhante em português. O tempo que o aluno brilhante em matemática perde estudando o conteúdo excedente de português, poderia ser aproveitado para estudar matemática e no futuro se tornar um engenheiro brilhante, mas graças à educação obrigatória, que o atrapalha com diversas matérias desnecessárias na engenharia, ele é obrigado a gastar tempo de sua vida e capacidade intelectual com coisas que ele não vai usar no futuro, mostrando que a violação de sua capacidade cognitiva na educação obrigatória atinge níveis tão grandes que podem causar-lhes prejuízos pelo resto da vida.

Novamente, os especialistas em educação poderiam contestar a educação livre, argumentando que, se não fosse pela coerção do Estado, os pais não mandariam os filhos para a escola. Esse argumento merece todo um debate, porque de fato é respeitável, no entanto, uma observação devemos fazer: as escolas brasileiras formam analfabetos funcionais e isso é comprovado pelos testes internacionais de educação, nos quais o Brasil encontra-se nas últimas posições.

Partindo deste fato, vem a pergunta: seria realmente prejudicial para o aluno deixar de frequentar uma escola do governo? Porque ele sai de lá não sabendo ler e nem fazer contas com operações básicas, mas sai doutrinado com um pensamento político modelado por aqueles que dizem defender a educação. Pode-se também argumentar, coerentemente, que isso aumentaria o analfabetismo, pois muitas crianças não iriam aprender a ler o básico.

Na verdade, isso poderia escancarar o analfabetismo, visto que, mais uma vez, só se pode educar quem está disposto a isso, contudo, por outro lado, hoje praticamente ninguém vive sem saber ler e escrever, pois tudo o que vamos fazer depende disso, então, a ordem espontânea da sociedade logo se manifestaria e trataria de fazer com que os indivíduos buscassem a educação – para si e para os seus filhos. Isso também acabaria com a frase de efeito “educação é um direito”. Direito nada mais é do que um eufemismo para designar obrigações para os outros, então, quando um burocrata de esquerda fala que “educação é um direito”, ele está dizendo que pessoas que não têm nada a ver umas com as outras devem bancar a educação de desconhecidos – “educação” essa que na maioria das vezes é um desperdício de recursos, dado o desempenho do Brasil nos testes internacionais já mencionados.

Assim, fica claro que a educação, na verdade, é um dever, e não um “direito”, de qualquer pessoa que queira fazer parte do mundo civilizado, cujas tecnologias e metodologias avançam diariamente graças a pessoas que voluntariamente procuram se educar para uma área específica.

Concluímos, portanto, que o homeschooling é algo melhor que as escolas, principalmente públicas, dado que, se não o fosse, a estudante Elisa Flemer, injustiçada, não teria passado em quinto lugar em um dos vestibulares mais difíceis do Brasil. Além disso, é a modalidade perfeita para lidar com os problemas escolares irresolvíveis do século XXI, a saber, drogas, doutrinação, bullying e greve de professores. Entendemos também que somente a educação livre é capaz de desenvolver as habilidades do indivíduo, pois a escola, por colocar juntos alunos diferentes com dificuldades diferentes, reduz a capacidade intelectual de ambos. Assim, o homeschooling aliado à educação livre poderia fazer uma verdadeira revolução no conhecimento brasileiro e formar gênios nas diversas áreas, o que obviamente geraria desigualdade, porém, seres humanos são desiguais em gostos, caráteres, preferências políticas e também em habilidades, logo, esse fetiche pela igualdade, além de prejudicial, é, sobretudo, anti-humano, que é a única espécie no reino animal que apresenta demasiada diferenças entre si.

 

 

Vinicius Mariano, para Vida Destra, 03/05/2021.
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2 COMMENTS

  1. Neste brilhante art. de @viniciussexto em q se posiciona a favor do homeschooling e da educação livre, digo que o Presidente da ANED disse q há perseguição de juízes qto ao abandono intelectual e a socialização é um verdadeiro mito. Já Elisa poderia ter feito o Encceja.

  2. Na prática tenho alguns exemplos, o maior deles foi do meu avô paterno que entrou analfabeto na Marinha, aprendeu às escondidas o ABC que ao aposentar deu aulas de matemática e geografia, além de alfabetizar muitos pelo MOBRAL dentro da sua residência. Trabalhei com um pesquisador que tinha somente o ginásio, porém foi professor na Universidade de Nova York. Tenho dois amigos médicos que foram alfabetizados em fazendas do Pantanal, vieram para concorrer na Admissão ao Ginásio, obtiveram o primeiro lugar. Meu pai ao abandonar a pecuária devido as enchentes fez concurso para sargento da marinha, tirou primeiro lugar deixando para trás os concurseiros à época. Excelente artigo!

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