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‘Esmurre uma TERF’: a misoginia violenta do movimento trans
Militantes identitários tornaram-se apologistas da violência contra mulheres.
Fonte: The Spiked
Título original: ‘Punch a TERF’: the violent misogyny of the trans movement
Link para o artigo original: aqui!
Publicado em 10 de julho de 2023
Autor: Tom Slater
Justo quando pensamos que os ideólogos de gênero não poderiam afundar ainda mais, eles vão lá e se superam. Eventos chocantes, ocorridos em Londres no fim de semana, expuseram o quão dementes e moralmente perdidos se tornaram o movimento trans e seus seguidores.
Na marcha do “Orgulho Trans+ de Londres”, no sábado, Sarah Jane Baker – um homem violento e ex-presidiário que se identifica como mulher trans – subiu ao palanque e incentivou “dar um soco na cara” das chamadas TERFs (feministas radicais trans-excludentes), num insulto às mulheres críticas à questão de gênero:
‘Eu pretendia vir aqui e ser muito fofo, muito simpático e muito adorável, e queer, e gay, e dar muita risada’, disse ele à multidão, no palanque. ‘Mas se você encontrar uma TERF, dê um soco na cara dela’.
Lá estava um homem – que cumpriu 30 anos de prisão por rapto e tentativa de assassinato – sugerindo que as mulheres que discordam dele, que querem defender seus direitos, que não querem homens violentos como ele em seus vestiários, que elas deviam ser agredidas. E a multidão reagiu não com um silêncio atônito ou uma tomada de fôlego coletiva, mas com gritos e aplausos.
É doentio demais ouvir tal misoginia violenta sendo defendida abertamente nas ruas de Londres, em 2023. Mas o que veio a seguir foi ainda pior. Os organizadores do Orgulho Trans+ de Londres e um bando de figuras do Partido Trabalhista ofereceram, na melhor das hipóteses, uma crítica mansa [à fala de] Baker. Na pior das hipóteses, basicamente inventaram justificativas para ele.
O prefeito de Londres, Sadiq Khan, preferiu não comentar diretamente sobre esse incidente vergonhoso. Enquanto isso, o melhor que sua assessoria de imprensa conseguiu fazer foi a seguinte declaração: “O prefeito é um orgulhoso aliado do [movimento] LGBTQI+ e tem sido claro em seu apoio à comunidade trans. Ele também já deixou claro que a violência nunca é aceitável”.
Mais assustadora foi a resposta dos organizadores do Orgulho Trans+ de Londres. Basicamente, eles disseram que a exacerbação de Baker era compreensível (após o costumeiro ruído de ‘limpar a garganta’ à menção da condenação da violência, é claro). “Sarah e muitas outras pessoas de nossa comunidade sentem muita raiva e revolta, e têm o direito de expressar essa raiva por meio de palavras”, disse o porta-voz.
Então, o parlamentar Clive Lewis, do Partido Trabalhista, contribuiu com a mais espetacular dissimulação. “Incentivar a violência contra os outros é errado e não há exceções”, tuitou ele. “Mas, como você deve saber, linguagem e ações violentas não são exclusividades de um lado só, nesta questão”.
Tal comentário seria desprezível mesmo que fosse verdade. Entretanto, como bem sabe qualquer pessoa que esteja acompanhando as guerras de gênero, a violência e as ameaças e o ódio declarado não provêm do lado crítico em relação ao gênero. Vêm quase que exclusivamente de ativistas trans que, aparentemente, estão enfurecidos com a mera existência dessas mulheres arrogantes.
Alguém se lembra da viagem que a ativista britânica e crítica da questão de gênero, Posie Parker, fez à Nova Zelândia em março? A viagem culminou com uma manifestação pacífica de mulheres, que ela organizara em Auckland, sendo violentamente invadida por uma multidão de homens. Parker foi agredida. Uma mulher mais velha levou um soco no olho.
E quem se lembra de Riley Gaines, a nadadora americana que foi agredida na Universidade Estadual de San Francisco, em abril, quando tentava falar contra a inclusão de homens nos esportes femininos? Ou de Maria MacLachlan, uma senhora sexagenária, cujo rosto foi esmurrado por um homem ativista trans de vinte e poucos anos de idade, enquanto ela aguardava para participar de um evento crítico à questão de gênero, no Hyde Park de Londres, em 2017?
Além disso, há as ameaças e zombarias veladas – e nem tão veladas assim – que saúdam as mulheres críticas da questão de gênero que ousam falar ou organizar eventos públicos. Em uma recente manifestação ‘Deixem as mulheres falarem’, no Hyde Park, ativistas trans cercaram o grupo e cantaram: “Nazista bom é nazista morto, então se matem”. A acadêmica Jo Phoenix, crítica à questão de gênero, foi ‘boicotada por discurso extremista’ na Universidade de Essex em 2019, após protestos de estudantes. No período que antecedeu o evento, circulou um panfleto com os dizeres ‘CALE A MALDITA BOCA, TERF’ ao lado da foto de uma arma.
Se Clive, ou Sadiq, ou a turma do Orgulho Trans+ puderem me indicar contra-exemplos – de mulheres críticas à questão de gênero incentivando a agressão física contra ativistas transgênero, ou encurralando-os, ou se recusando a condenar os que o fazem – eu gostaria de vê-los. Todavia, todos sabemos que eles não existem. Apesar de todas as alegações de transfobia proferidas contra os ativistas críticos à questão de gênero ao longo dos anos, não são eles os extremistas e detratores nesse debate – e nunca foram.
Ainda assim, não só aquelas mulheres foram grotescamente caluniadas como uma ameaça à vida trans, pela simples razão de defenderem seus direitos conquistados a duras penas, como elas também foram tratadas ignominiosamente pela lei. Mulheres críticas da questão de gênero foram investigadas, presas e arrastadas aos tribunais por causa de transgressões tão graves como, por exemplo, distribuir adesivos com os dizeres “Mulheres não têm pênis” ou ‘confundir o gênero’ de alguém durante alguma polêmica no Twitter.
Em contrapartida, até o momento em que este artigo foi redigido, não se havia iniciado nenhuma investigação policial sobre Sarah Jane Baker – apesar da natureza muito mais extremista de seus comentários e a despeito da sua extensa ficha criminal. Baker passou 30 anos na prisão, originalmente, por sequestrar e torturar um parente, mais tarde, por tentar matar um companheiro de cela. (Baker fez a transição na prisão e alega que removeu seus próprios testículos com uma lâmina de barbear.)
Pondo de lado o espinhoso problema da provocação, neste caso, e a linha tênue existente entre extravasar a própria raiva e incitar diretamente a violência, simplesmente não há comparação que se possa fazer entre as chamadas TERFs e os ativistas trans. Um lado está defendendo firmemente seus direitos contra uma avalanche de intolerância e assédios rotineiros por parte da polícia. No outro lado estão os ativistas trans – que não só alimentam um extremismo genuíno entre as suas fileiras, como também recebem passe-livre de membros do Partido Trabalhista, de universidades e até da polícia.
O ódio violento às mulheres retornou na forma politicamente correta. Os homens estão sendo aplaudidos em comícios por pedirem que ativistas dos direitos das mulheres levem um soco na cara. Enquanto isso, políticos e ativistas – que, até outro dia, podiam se imaginar como valentes guerreiros contra o “patriarcado”— olham disfarçadamente para o outro lado ou justificam [as ações extremistas].
Nunca pensei que veria o dia em que esquerdistas assumidos se tornariam apologistas da violência contra as mulheres. Mas nada mais me surpreende. A ideologia de gênero apodreceu o cérebro deles – e suas consciências. Temos que confrontar essa misoginia identitária.
*Tom Slater é editor da spiked.
Traduzido por Telma Regina Matheus, para Vida Destra, 05/08/2023. Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail mtelmaregina@gmail.com ou Twitter @TRMatheus
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