Acordei hoje, véspera de Natal, com um presente dos céus: uma chuvinha boa, calma, que pude apreciar da minha janela. Sei que é um fato corriqueiro (chuva, pássaros e árvores) e que, para muitos, não quer dizer nada demais.
Porém, posso afirmar, sem pestanejar, que a sensação de paz e tranquilidade que tive não é sempre que se tem.
Coisas simples, dispostas a nós todos os dias, às vezes, passam despercebidas. Não por maldade ou egoísmo, mas porque outros fatores em nossas vidas estão sugando toda nossa atenção. Basta pensar, por exemplo, se o Brasil estivesse mergulhado em crise como outros países estão, eu não teria cabeça para apreciar nada, pois estaria muito ocupada imaginando como fazer para o meu salário pagar as minhas contas. Eu estava assim nos últimos meses do governo Dilma. Ou, ainda, para quem até poucos dias estava desempregado, como fazer até mesmo para comer e alimentar sua família. Há aqueles que além desses problemas econômicos, também tinham que enfrentar racionamento de água. E muitos caminhoneiros, que ficavam dias parados em meio a uma estrada que era só lama, esperando, esperando, esperando…
Muitos estão querendo vender um estado de coisas que não correspondem à realidade. Estão dizendo que ainda há problema em todos os setores, que não estamos melhores, que nada foi feito. A verdade é que, mesmo que o nosso país não tivesse passado pela gestão criminosa das últimas décadas, ainda haveria o que corrigir, o que melhorar. Sempre há espaço para melhorias, mas, pela amostra deste governo até agora, elas virão a passos cada vez mais largos. E, para os criadores de caos, uma banana. Cada um sabe observar por si só e analisar o que melhorou e o que precisa melhorar.
A nova postura do povo brasileiro (pelo menos em grande parte dele) em não aceitar narrativas prontas, empurradas goela abaixo, é uma das mudanças que mais merece comemoração neste fim de ano, porque esse fato é responsável, direta ou indiretamente, por todos os outros consequentes, tanto aqueles pensados para o bem e que serão apoiados, quanto os pensados para o mal e que serão refutados. A consciência de um povo não tem preço, ninguém compra, ninguém rouba, ninguém tasca.
Neste dia de Natal, cada um fará o que lhe vier na mente e no coração. Uns vão festejar de forma tradicional, com ceia, troca de presentes, festas. Outros vão preferir rezar, orar, meditar, entregar-se espiritualmente à sua crença, à sua convicção religiosa. Outros vão preferir ler, tocar um instrumento, assistir a um filme, jogar xadrez, sei lá, entregar-se à sua própria vontade, pois essa é a verdadeira liberdade. Sermos donos dos nossos destinos e das nossas vontades, sempre respeitando o espaço do próximo e o coletivo.
Um feliz Natal a todos nós, pois neste ano respiramos aliviados e merecemos comemorar um trabalho intenso em grupo, no grupo chamado Brasil.
Romana de Castro, para Vida Destra, 24/12/2019.
Excelente percepção da Romana sobre estado psicológico de grande parte do povo brasileiro, diante um natal e ano novo diverso de tempos anteriores.
Obrigada, Jean! Um grande abraço, meu amigo!