Em maio passado a parceria entre a revista digital Vida Destra e a jornalista, escritora e ativista dos direitos das pessoas com deficiência Lia Crespo completou um ano. Em comemoração ao primeiro aniversário desta honrosa parceria, estamos publicando o livro infantil “As aventuras de Nando the Cat”, de autoria da Lia.
O conteúdo está dividido em três partes, sendo publicado nas tardes de sábado, e é a primeira publicação da revista Vida Destra voltada ao público infantil.
Agradecemos imensamente à Lia Crespo pela parceria que muitos nos honra e por disponibilizar o seu livro ao nosso público!
Apreciem hoje a terceira e última parte da história!
Perdeu o início da história? Acesse a primeira e a segunda parte nos links abaixo:
As aventuras de Nando The Cat
o gatinho amarelo com um rabo curto – Parte 3
Júlia e seus amigos conversavam e riam. Ela estava feliz com sua roupa de caipirinha bem-caprichada feita por sua mãe. Os aros da sua cadeira de rodas também estavam enfeitados com papel colorido. Nando tinha acabado de sair de seu colo para abocanhar um belo pedaço de salsicha que uma criança tinha deixado cair, quando, com o rabo do olho, viu o cachorro enorme prestes a pular sobre a menina!
Num átimo, Nando pulou sobre o monstro e o mordeu o mais forte que pôde. Basker abocanhou o gato pelas costas, sacudiu e o atirou inerte no chão. No mesmo segundo, o homem que perseguia o cão desde sua fuga do canil, atirou sobre o enorme animal uma rede de metal, imobilizando a fera.
Foi tudo tão rápido que muitas pessoas nem perceberam ou entenderam o que tinha acontecido. O importante é que Júlia não tinha sofrido nem mesmo um arranhão e o cachorro tinha sido levado embora.
Mas, e Nando The Cat?
A bibliotecária, tremendo e chorando, se aproximou com todo o cuidado do gatinho largado no chão. Havia sangue saindo de um rasgo profundo nas costas do felino. Ela temeu pelo pior. Mas, quando pôs a mão sobre ele, percebeu que ainda respirava.
— Está vivo!, ela disse.
Imediatamente, alguém lhe deu uma toalha, com a qual ela envolveu delicadamente o gato ensanguentado.
Em seguida, o pai da Júlia, com a chave do carro na mão, disse para a bibliotecária:
— Venha comigo. Vamos levá-lo ao hospital veterinário imediatamente.
Nando The Cat estava com dor e muito frio.
Mas, de repente, a dor desapareceu e ele sentiu se sentiu aquecido e como se estivesse flutuando.
No meio de uma luz azul pontilhada de pequenas estrelinhas brilhantes, um rosto humano sorria bondosamente para ele. Ele tinha a barba curtinha. Um anel de cabelo dava a volta na sua cabeça, enquanto o cocuruto era liso como um ovo. Parece que o homem tinha uma pomba branca pousada no ombro.
Nando sentiu como se estivesse aconchegado num colo quentinho, com alguém fazendo cafuné bem de levinho em sua cabeça. A sensação era tão boa que o gato resolveu flutuar em direção àquela luz que levava ao rosto sorridente. Foi então que o homem falou:
— Nando The Cat, você foi muito corajoso!
— Eu fui?, perguntou o gato meio confuso.
— Foi, sim! Sem se preocupar com a própria vida, impediu que a garotinha fosse atacada pelo cachorro. Graças a você, Júlia está a salvo e Basker tem a chance de mudar de vida. Ambos ficarão bem.
— Que bom! Mas, quem é você e que lugar é este?, perguntou o gato.
— Sou Francisco de Assis e aqui é o lugar onde sempre acolho os animais em dificuldades.
— Eu morri e estou no Céu?, quis saber Nando.
— Não, você ainda não morreu. Está na mesa de cirurgia. Os médicos estão fazendo tudo o que podem para salvar você. Enquanto eles trabalham, me diga qual é seu maior sonho, Nando?
— Sempre quis ser adotado e ter uma família! Mas, nunca consegui porque tenho o rabinho curto.
— Sério? Quem não quis adotar você perdeu a sorte grande!
— Mas, a mulher disse que eu tinha o rabinho defeituoso, disse o gato.
— Você tem o rabinho curto porque é da mesma raça do Maneki Neko, aquele felino com o rabo curto e a pata levantada, conhecido como o Gato da Sorte Japonês. Essa raça de gato chama-se Bobtail Japonês, explicou São Francisco.
— Bob o quê, perguntou Nando.
— Bobtail Japonês. Dizem que, há muito, muito tempo, o Imperador do Japão amava tanto esses gatos que determinou que só ele, ninguém mais, poderia ter esses que são considerados os mais inteligentes, amáveis e brincalhões de todos os felinos.
— Japão?! Mas, isso fica do outro lado do mundo!
— Isso mesmo! Parabéns! Temos aqui um gatinho que sabe Geografia!, admirou-se São Francisco.
—- É uma das minhas matérias favoritas.
— Que bom! Eu também gosto de Geografia. Então, como eu estava dizendo, o Imperador do Japão também decidiu que os gatinhos de rabo curto deveriam ser tratados como membros da realeza. Por isso, diz a lenda que a pessoa que consegue adotar um desses raros gatinhos de rabo curto passa a ter muita sorte na vida.
— Nossa! Que legal! Mas, como eu vim parar no Brasil, se minha família tem origem no Japão?, perguntou o curioso Nando.
— Acredito que seus ancestrais estavam no Kasato Maru, o navio que, em 1908, trouxe para o Brasil o primeiro grupo de imigrantes japoneses que vieram trabalhar nas fazendas do interior do estado de São Paulo.
— Que bom saber disso. Posso ficar com você, Francisco? Este lugar é tão gostoso. Tenho certeza de que posso ajudar você a cuidar dos animais em dificuldade, disse baixinho o felino que estava ficando cada vez mais sonolento.
—- A escolha é sua Nando. Você é um gatinho muito especial e eu adoraria ficar com você. Mas, ainda quer ser adotado, não quer?
— Ter uma família sempre foi meu sonho, respondeu o gato quase dormindo.
— Quando for a hora certa, estarei aqui para lhe as boas-vindas. A Dra. Renata terminou a cirurgia nas suas costas. Você vai ficar novo em folha, será adotado e vai fazer uma família muito feliz. Você será muito amado e mimado. Talvez você tenha de aturar uma irmã muito rabugenta chamada Mimizinha. Mas essa já é outra história.
— Adotado!? Irmã?! Nossa!, sussurrou o gato antes de cair num sono profundo.
Nando não sabia se estava acordado ou dormindo. O que ele sabia é que se sentia como se tivesse tido um daqueles sonhos tão bons que, quando acorda, a gente fica querendo dormir de novo imediatamente para continuar aquela sensação boa.
Numa voz que parecia vir de muito longe, Nando ouviu São Francisco dizer “Vou ficar de olho em você!”. Ele abriu os olhos e, mesmo com a vista meio embaçada, reconheceu o rosto sorridente de Júlia. Ela parecia estar falando alguma coisa, mas, ele não conseguia entender pois a voz dela parecia abafada. Pouco a pouco, a visão ficou clara e ele pôde ouvir perfeitamente:
— Seja bem-vindo em sua casa, Nandinho!
“Estou no Céu?”, ele perguntou em pensamento. Júlia percebeu que Nando estava sonolento e ainda meio confuso por causa da anestesia. Ela fez um carinho bem gostoso na cabeça dele e disse:
— Aqui é sua nova casa. Agora, somos uma família. Você vai morar comigo para sempre!
Nando fechou os olhos, se ajeitou na sua caminha fofa e quentinha, começou a ronronar e, em pensamento, disse para si mesmo: “Ah, estou no Céu…”
Fim
Se você gostou desta história, vou adorar ler seu comentário aqui neste site e/ou no Twitter @liacrespo!
Adquira a versão digital do livro As aventuras de Nando the Cat disponível na Amazon!
Lia também escreveu os livros infantis “Júlia e seus amigos” (Nova Alexandria, 2006) e “Uma nova amiga” (versão virtual neste link), que tratam de deficiência e da importância da amizade para uma sociedade inclusiva.
Receba de forma ágil todo o nosso conteúdo através do nosso canal no Telegram!