Quando, anos atrás, ouvimos falar sobre um Juiz da 13ª da Vara Federal de Curitiba e de suas proezas, como integrante da Operação Lava Jato, combatendo com sucesso indisputável o grande crime organizado no país, sentenciando, no decorrer do processo, figurões poderosos, como o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, à prisão, fomos convencidos de que estávamos diante de um grande herói. Atribuímos a ele uma aura mítica. Aquele homem discreto, corajoso, duro com os grandes criminosos, caiu no gosto popular, virou celebridade e herói nacional em pouco tempo. Aonde chegava, era aclamado, saudado efusivamente, ovacionado. As pessoas o reverenciavam, ficavam de pé e o aplaudiam em teatros, estádios de futebol lotados e em outros eventos de massa. Onde passava, quando havia oportunidade, era parado para tirar fotos e selfies. Este homem virou unanimidade nacional, com exceção, claro, dos bandidos e dos criminosos, que o temiam e aos quais impunha terror. Parecia que aquele personagem havia sido destinado a ser tornar um emblema duradouro, um modelo de virtudes a ser seguido, na história do Brasil. Passamos a imaginá-lo como um mito invencível na luta contra a grande corrupção. O estereótipo perfeito de Paladino da Justiça e da Moralidade foi aquilo que se impregnou, de forma latente, em relação à figura de Sérgio Fernando Moro, no inconsciente coletivo nacional.
Sexta feira, dia 24 de abril de 2020, um terremoto político, com epicentro em Brasília, produziu intensos abalos sísmicos e fortes ondas de choque, de grande magnitude, que repercutiram não apenas no Brasil, mas em várias partes do mundo, resultando em um tsunami de instabilidade institucional que varreu o país de leste a oeste, de norte a sul. O epicentro exato deste terremoto político ocorreu no Ministério da Justiça e da Segurança Pública (MJSP), na capital federal. Os efeitos, impactos e desdobramentos desse evento, ao longo do tempo, ainda serão estudados, analisados, conhecidos e mensurados, mas foram sentidos desde às 11 horas da manhã da sexta feira passada no MJSP.
O clima da coletiva de imprensa estava carregado de tensão e de grande expectativa pelo que anunciaria o então titular da Pasta. Um tanto apreensivos, percebemos um homem com olhar duro, semblante sério, que lia pausadamente, como de costume, um discurso preparado para causar impacto. Após várias ponderações, e intensa expectativa, Moro anunciou que estava se demitindo do cargo de titular do MJSP. Justamente em um momento delicado e crítico da vida nacional, com a pandemia do COVID-19 causando muitos estragos na saúde, forte recessão na economia, resultando em milhões de pessoas desempregadas. Além do aumento de índices de criminalidade em decorrência da soltura de milhares de criminosos por determinação judicial. A conhecida voz pausada parecia esconder algo grave, que estaria se desenrolando nos bastidores. Milhões de brasileiros ficaram em estado de choque pela decisão de Sérgio Moro em se demitir de forma tão intempestiva. Na véspera, quinta feira, rumores de sua demissão circularam na imprensa, derrubando fortemente os índices da Bolsa de Valores e fazendo as empresas listadas perderem bilhões de reais em valor de mercado. Quando se noticiou, ainda na quinta, que Moro não estava demissionário, que as notícias sobre isso eram infundadas, que eram fake news, os índices da Bolsa se recuperaram rapidamente. Tais fenômenos mostram o enorme peso político de Moro até então.
Pelas razões alegadas da demissão, muitos de nós, apenas tendo ouvido a Moro, pensamos que o Presidente Bolsonaro estava dando um tiro de bazuca, em seu próprio pé, ao permitir que a situação chegasse àquele ponto. Justamente o homem que pensávamos representar o pilar do combate à corrupção e à criminalidade, no país, pilar este defendido tão ardorosamente por Bolsonaro na campanha em 2018, estava indo embora assim, sem mais, nem menos, apenas por uma exigência do Presidente em trocar o Diretor Geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo? Moro estava se demitindo por ingerências do Presidente na PF? Como assim? Não havia mais possibilidade de convergência entre Moro e Bolsonaro? Afinal, como se diz, conversando é que se entende. O que teria ocasionado a ruptura entre os dois? O que estaria acontecendo dentro daqueles gabinetes para que uma decisão tão grave fosse tomada daquela forma?
Moro lançou sérias acusações contra o Presidente da República. Segundo ele, Bolsonaro não teria cumprido sua promessa de carta branca e queria ter acessado a documentos sigilosos. Começaram a pairar sérias dúvidas no ar. O Presidente estaria cometendo ilegalidades? Estaria tentando proteger alguém? Ficamos estarrecidos, pois até aquele momento, a palavra de Moro era praticamente incontestada. A ele atribuíamos, até então, muita credibilidade e prestígio. Sabíamos que Moro havia aberto mão de uma carreira vitoriosa de 22 anos na Magistratura para ocupar o Ministério da Justiça e Segurança Pública, porque, segundo ele, sua ambição era de ajudar o país de uma forma mais eficaz, eficiente e efetiva do que poderia fazer sendo apenas Juiz Federal em Curitiba. Algo muito grave então houve, imaginamos, para que Moro entregasse o cargo tão prematuramente.
Não estávamos acreditando no que estava acontecendo, na manhã daquela sexta feira, porque aquele homem que disse ser apenas um técnico, sem pretensões políticas, se demitiu de forma apoteótica, saindo atirando, usando artilharia pesada, contra o Presidente da República. E, fazendo questão de frisar, que, a partir dali, estava se colocando para servir ao país de outra forma. Entendemos o recado: Moro estava ali se colocando como possível candidato à Presidência. Atônitos, sem entender exatamente o porquê daquela atitude drástica e intempestiva, atordoados pela velocidade estonteante na movimentação das peças do tabuleiro político de Brasília, com aquele lance ousado, e inesperado, de Moro, que parecia colocar em xeque o rei adversário, isto é, Bolsonaro, aguardamos a jogada do outro grande enxadrista. Ou melhor, ficamos esperando o pronunciamento do Presidente Jair Bolsonaro às 17 horas daquele dia, quando chegaria sua vez de mover suas peças no jogo. Queríamos saber como Bolsonaro iria movimentar as suas peças.
Excecionalmente maravilhoso o post
Grato Ricardo! Deus lhe abençoe!
Parabéns, meu grande amigo! Imagina se aliar a Morovaldo em campanha. Acho q ninguém fará isso com segurança, pois a criatura pode, a qualquer momento, dar uma facada nas costas, sem o menor sinal prévio. A não ser coisas como Joice e Frota. Outra coisa q deveríamos ter pensando: por que, diante de milhares de pessoas q trabalharam com afinco na Lavajato, somente a dupla dinâmica Moro e Dallagnol ficou famosa?
Grato Gogol! Morovaldo é otima rsrs Apesar do choque e do espanto iniciais, para as pessoas que usam a razão, a lógica e o bom senso, não resta dúvida alguma que Moro foi um falso herói, um ídolo fabricado para enganar multidões. Felizmente, a verdade veio à tona. A verdade liberta. Grande abraço!
Muito bom! Ansioso pelo próximo artigo,
Grato Arno! Deus lhe abençoe!
Esse artigo, resume com perfeição os sentimentos de todos apoiadores do presidente Bolsonaro, que aprenderam à admirar Sérgio Moro, que demonstrou através do trabalho fantástico que ficou à frente da operação Lava-jato, competência e, vontade de romper com o sistema de corrupção que tomou conta dos governos anteriores. Porém, como sabemos não há bem que não se acabe, nem mal que dure pra sempre, vimos um herói se esvaziar por si mesmo. A narrativa que fez foi sofrível e, discutível.
Obrigado, Lívio! Teu artigo retrata bem o que eu penso!
Grato Marco pelo seu comentário! O herói, na verdade, era um pseudo herói. A máscara dele caiu. Grande abraço e que Deus lhe abençoe!
Vejam como são iguais – J amicíssima de Maia, DJr, Frota, fez a biografia de Moro – imagino a vergonha – se há – e o dano moral que seus amigos estejam sofrendo – a que ponto chega um “herói” paladino da justiça – se levar pela cobiça e ser enganado. @SenadorKajuru @SenadoFederal
Grato pelo seu comentário! É isso mesmo. Deus lhe abençoe!
Parabéns pelo ótimo artigo aguardando ansiosamente o segundo capítulo mas no início fiquei remoendo o que era Moro para uma nação e o que se trornou o Traidoro depois da coletiva de JB explicando a verdade dos fatos e dizendo em auto bom som que a sua biografia era zelar pelo Brasil! Concordo com você ao dizer”saindo atirando, usando artilharia pesada, contra o Presidente da República” mas os que conhecem o caráter de JB sabe que o maior herói se conhece pelo seus feitos!
Grato Priscila! Infelizmente, a decepção é tão grande quanto maior a confiança que depositamos em uma pessoa. Mas, fica a lição: só podemos confiar 100% em Deus. Grande abraço. Deus lhe abençoe!
Depois que o Moro saiu eu percebi que Moro estava inerte..o que ficou de assuntos parados!
Fiquei surpresa com isso..
Sem dúvida. Grato pelo comentário. Deus o abençoe!
Cidia, boa tarde. Grato pelo seu comentário. Na verdade eu quis chamar a atenção para o “combate à corrupção e à criminalidade” como pilar defendido por Bolsonaro na campanha. Porque, de fato, Moro não fez parte da campanha de Bolsonaro. Assim, o correto seria “Justamente o homem que pensávamos representar o pilar do combate à corrupção e à criminalidade, no país, pilar este defendido tão ardorosamente por Bolsonaro na campanha em 2018”. Trocando o ver “ser” pelo verbo “representar” corrige este equívoco. Deus lhe abençoe!