O nacionalismo é uma IDEOLOGIA que surgiu das entranhas do iluminismo, na época da Revolução Francesa. Esta, fortemente refutada por conservadores de peso como Edmund Burke, que, por sua vez, acompanhou de perto suas catastróficas consequências; enquanto outros, bem menos sensatos, aplaudiam e copiavam. Depois de seu nascimento (provavelmente de mentes nada sãs, como a imensa maioria das ideologias postas em prática a que temos notícia), espalhou-se mundo afora, com adequações diversas, ao gosto das mais variadas mentes doentias, ou, no mínimo, medíocres.
Como as ideologias não precisam passar por nenhuma depuração ou teste, e muitas são aceitas sem o questionamento necessário daqueles que defendem o razoável, em vez do mirabolante, o nacionalismo se propagou com as mais diversas faces. Cada idealizador nacionalista, de vários lugares e períodos, apropriou-se do sentimento de patriotismo das pessoas, principalmente em situações de extrema dificuldade, e imprimiu seus desejos egoístas e, muitas vezes, nefastos, com o único objetivo de fazer valer suas vontades.
Muitos podem achar radicalismo afirmar tais coisas, mas, para o bom e verdadeiro conservador, nenhuma ideologia empurrada de forma antinatural na sociedade gera bons resultados. E, nesse sentido, devemos trazer à baila tais discussões, para não amargarmos em sistemas totalitários no futuro, como já ocorreu no passado. “Se a prudência da reserva e o decoro ditam o silêncio em algumas circunstâncias, em outras, uma prudência de ordem superior nos pode justificar ao manifestar nossos pensamentos” (BURKE, Edmund. “Reflexões sobre a Revolução Francesa”).
Alguém pode estranhar: “Sistemas totalitários?”. Sim, aqueles que, no início, apresentam-se como salvadores dos oprimidos e desvalidos, mas, uma vez implementados, mostram-se devastadores de nações inteiras. E isso não está restrito aos nossos velhos conhecidos: nazismo, fascismo, comunismo, socialismo, etc. Não, como o nacionalismo pode assumir várias facetas, ele se adéqua ao obscuro apetite de quem o está invocando. Por isso, há até mesmo nacionalismo de esquerda e de direita, e, sobre este último, eu espero muito que a nossa direita atual o afaste, que não embarque nessa canoa furada, como alguns já estão propondo.
Vamos analisar um exemplo bem recente do engodo que é essa ideologia. O assunto exaustivamente falado nesses últimos dias foi o discurso do ex-secretário da Cultura: “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”.
Pois bem, na prática, eu jamais farei ideia de como ele colocaria seu plano “fantástico” em ação, e graças ao bom Deus e à caneta do presidente Bolsonaro, ele não o pôs. Mas faço questão de analisar suas palavras nada originais. Primeiro, arte heroica é aquela cujos motivos são para exaltar grandes feitos como os heróis de guerra (a estátua de Lenin, de Stalin, de Hitler, entre outras milhares, ou seja, muitas vezes, idolatria a falsos deuses. Ou a Sinfonia nº 3, “Eroica”, de Beethoven, lindíssima, mas em homenagem a Napoleão Bonaparte. Mais tarde, Beethoven se arrependeria do tributo).
Depois o ex-secretário diz que a arte será “nacional”. Assim sendo,por que, em vez de colocar, como música de fundo, Villa-Lobos (nacionalista de carteirinha) ou Carlos Gomes (compositor de “O Guarani”), lascou Richard Wagner, alemão, bem a contento do NACIONAL-SOCIALISMO de Hitler?
Não satisfeito, diz que a arte será “imperialista”, coisa que jamais qualquer artista digno e honrado, que ame sua profissão, vai desejar que aconteça. E, por fim, para fechar com aquela chave de ouro, ele faz uma clara ameaça, que seria invejada por muitos tiranos sanguinários: ou aceitem os meus propósitos, ou não terão nada.
Não estou dizendo para acreditarem cegamente em tudo que escrevo aqui, mas peço com muita humildade que não se deixem levar por essas soluções rápidas e ditas eficientes para solução de problemas complexos, surgidos há milhares de anos. Não combateremos a tirania do globalismo com mais tirania. Não combateremos a falsidade e a dissimulação do progressismo com mais mentiras. Não combateremos a insanidade e a insensibilidade dos comunistas/socialistas com mais insensatez.
O que muitos ainda não se deram conta é de que vivemos cercados de psicopatas. Não é de agora, não é somente em nosso país, não foi por causa disso ou daquilo, mas eles estão aí, e, infelizmente, não é muito fácil distingui-los dos que não são assim. Mais infelizmente ainda, muitos conseguem mostrar-se atraentes, envolventes. Usam da sua percepção da ausência desse mesmo mal nas outras pessoas, para se colocar acima delas, como se essa patologia fosse uma virtude, e não uma doença muito perigosa.
Para finalizar, deixo um texto do livro “Ponerologia: psicopatas no poder”, de Andrew Lobaczewski, para que vocês reflitam. E, se puderem trazer a essa discussão subsídios que não expus aqui, por favor, façam-no, pois somente os freios, assim como este artigo, é que podem contribuir para um apanhado mais abrangente, com pessoas bem-intencionadas de todos os países e que tenham o intuito de impedir que um grande mal assole novamente a Humanidade.
“Deve-se notar que uma grande ideologia, com valores impressionantes, também pode facilmente privar uma pessoa da capacidade de autocontrole crítico sobre seu comportamento. Os adeptos de tais ideias tendem a perder de vista o fato de que os meios utilizados, e não somente os fins, serão decisivos para o resultado de suas atividades. Sempre que buscam por métodos de ação excessivamente radicais, ainda convencidos de que estão servindo à sua ideia, eles não percebem que seu objetivo já foi alterado. O princípio ‘os fins justificam os meios’ abre a porta para um tipo de pessoa diferente, para a qual a grande ideia é útil para o propósito de libertá-la da pressão desconfortável proveniente dos costumes do homem normal. Toda grande ideologia, assim, é um perigo, principalmente para mentes pequenas. Contudo, todo grande movimento social, e sua respectiva ideologia, pode-se tornar um hospedeiro sobre o qual alguma ‘patocracia’ inicia sua vida parasitária”.
Gogol, para Vida Destra, 21/01/2.020.
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REFERÊNCIAS:
- BURKE, Edmund. “Reflexões sobre a Revolução Francesa”. Tradução: Marcelo Gonzaga de Oliveira e Giovanna Louise Libralon. Campinas (SP): Vide Editorial, 2017.
- LOBACZEWSKI, Andrew. “Ponerologia: psicopatas no poder”. 1. ed. Tradução de Adelice Godoy. Campinas (SP): Vide Editorial, 2014.
- MARIZ, Vasco. “A música clássica brasileira”. Ministério da Cultura, Fundação Biblioteca Nacional.
Aqui da minha janela, de pessoa comum, que não se considera estudiosa dos livros e princípios nazistas ou comunistas, mas entende os resultados de suas ações como nefastas, perigosas e criminosas, apenas achei a princípio, teatral a forma como ele se pronunciou e não o levei ao pé da letra. Assumo fiz uma interpretação superficial no momento do acontecimento.
Minha dúvida é, mas também está se acabando, se ele foi sabotado, logo não é a sumidade que se dizia ser na área, se ele está com distúrbios mentais e perdeu a percepção da realidade ou se ele era uma bomba, que explodiu antes da hora, por excesso de confiança em si mesmo.
Me resta a dúvida sobre a loucura e a bomba.
Hoje percebo que ele foi contido a tempo.
Excelente comentário quanto a nossa percepção, enquanto apenas comuns cidadãos. Espanto; reflexão; e conclusão afinada com a realidade histórica do ocorrido. Mantenhamos nossa acuidade atenta!!!
Perfeito! E eu tenho cá comigo que nós, brasileiros, estamos cada vez mais atentos. Abraço!
Excelente comentário dentro de nossa percepção, enquanto comuns cidadãos: espanto pelo automatismo; reflexão pelo enquadramento teatral; e reconhecimento da falha retórica pelo contexto histórico. Mantenhamos nossa acuidade com redobrada atenção!!!
É verdade. O fato é, como diz meu amigo Sander, esses combos, como progressismo, comunismo, socialismo, nacionalismo, etc, não vêm para resolver todos os problemas sociais como eles prometem, mesmo porque tais problemas são resolvidos aos poucos, com ideias e soluções diferentes adaptadas à cada situação. Portanto, é mais fácil pensar q são oportunistas atrás de dinheiro e poder.
Ótimo texto. Realmente qualquer tipo de nacionalismo deve ser combatido. Parabéns.
Sim, Luiz, também prefiro essa linha a permitir, por uma brecha milimétrica q seja, que algo parecido com o Holocausto ou os horrores de Gulag (campos de concentração soviéticos) voltem a acontecer. Depois da Segunda Guerra, muitos alemães quase entraram em parafuso ao saber das atrocidades cometidas debaixo de seus narizes. Mas depois da mortes de milhões, fica difícil se dizer arrependido. Eles viveram uma farsa nacionalista, enquanto o terror era propagado. Temos q unir esforços para combater o mal desde o seu início.
Gogol, que artigo impressionante!
Li em voz alta e meu esposo acompanhou.
Confesso que o nacionalismo ou a virtude do nacionalismo, como é o apelo, encantou.
Daí me fez refletir sobre esse encantamento e se há diferença do patriotismo ou quer dizer a mesma coisa.
Quando ouvi o Alvim falando no vídeo sobre a arte nacionalista e que parecia algo que estava sendo obrigatório/imposto, fiquei pensando: mas como assim? Isso que não prestei atenção na música, por não conhecer.
Acho que vou em um evento sobre nacionalismo pra entender o que está sendo proposto. A deputada que votei estará também.
Estamos tão sedentos de invocar o patriotismo, que precisamos de atenção.
Sim, Elisangela, somente o conhecimento nos salvará de crueldades sem limites, como já aconteceram em várias ocasiões. Alguns espalham por aí q esse “novo” nacionalismo é diferente, q não tem nada a ver com os sanguinários do passado. A mesma coisa q os comunistas envergonhados dos genocídios dizem: o comunismo verdadeiro de Marx nunca foi colocado em prática. Mentira! Outra coisa: nacionalismo não é patriotismo como querem fazer crer. O patriotismo é bom e saudável, pois nos faz amar o nosso país, nossos símbolos nacionais, e zelar por deles. E, com a crescente crise de imigrantes na Europa e a esquerda globalista instigando o ódio de todos os lados, de todas as maneiras, na minha humilde opinião, é necessário desconfiar de toda investida nacionalista. Por último, antes q este comentário vire outro artigo, nós não precisamos de ideologia, nem velha, nem nova. Precisamos continuar nesse caminho q escolhemos com a eleição de Bolsonaro e q nos trará paz e properidade. E, pela natureza do brasileiro, não haverá avareza em comungar de nossas conquistas com qq estrangeiro. Um grande abraço para vc e seu esposo.