Desde o dia em que entrei no Twitter, me dediquei a desmontar narrativas e, muito mais do que isso, a alertar aos que gastam um pouco de seu tempo comigo para o fato de a maioria das narrativas ser montada sobre fatos, o que dá ao autor um ar de seriedade e, justamente por isso, o poder de enganar aos desavisados e distraídos.

Um bom exemplo do que falo foi a postagem feita no dia 1º de abril pelo ministro do STF, Luiz Roberto Barroso, no twitter, referente ao aniversário da revolução de 1964.

“Já houve um tempo no Brasil em que pessoas eram torturadas por suas opiniões políticas, mandatos eram cassados arbitrariamente, a imprensa era censurada e inúmeros brasileiros tiveram que partir para o exílio. Só quem não soube a sombra não reconhece a luz. Democracia sempre!”

Sabemos que apesar das narrativas, a tomada de poder pelos militares em 1964 nos livrou da esquerda comunista que financiava adeptos em países do terceiro mundo, e que os presos e exilados políticos da época eram, em sua maioria, subversivos. Mas é fato que o regime militar se alongou além do necessário e, por essa condição — apesar da segurança que dava as pessoas comuns —, passou a perseguir qualquer crítico, fosse pela demora da reabertura, fosse pelas decisões que tomavam, e isso é um fato!

Mas é fato que “houve” (no passado) um tempo?

Esse senhor (o mesmo do “Perdeu Mané!”), ao fazer sua postagem tão cheia de falsa consciência, não cita, por exemplo, que foram presas 2.182 pessoas (1.500 no dia e outras tantas após) pelos atos de vandalismo — que não defendo nem acredito ser a solução — do dia 8 de janeiro de 2023, sendo que dessas, 294 ainda continuam presas, e os demais em liberdade vigiada e sem diretos, e que a maioria delas nem participou das invasões, muitos eram idosos e famílias inteiras que apenas estavam acampadas em frente aos quartéis.

Presas sem o devido processo legal e sem as garantias democráticas, acusadas de um crime absurdo como atentado ao Estado de Direito, visto que essas pessoas jamais conseguiriam derrubar qualquer governo sem apoio de uma força militar. Sendo seus atos no máximo de vandalismo, mesmo que extremo, não mostram necessidade nenhuma, segundo o código penal, de estarem presas, e deveriam ser julgadas pela primeira instância — são presos políticos, vítimas de uma canetada monocrática, depois referendada pelo plenário, para servirem de exemplo a quem contraria o sistema, ato digno de sistemas totalitários!

E notem que nem vou citar políticos, jornalistas e pessoas comuns, incluídos em inquéritos irregulares, proibidos de manifestarem suas opiniões publicamente!

Por isso minha luta, por haver um mal muito grande em não saber separar os fatos de narrativas, e de apoiarmos ou aplaudirmos pessoas erradas!

Devemos ser atentos, e principalmente devemos tentar levar lucidez aos mais distraídos, pois Hitler, Stalin, Fidel e muitos outros tiranos não existiriam, se não existisse quem os apoiasse!

Adilson Veiga, para Vida Destra, 06/04/2023.
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