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O DESASTRE DA CEGUEIRA

Em tempos de crise, temos a oportunidade de reflexão, reconstrução, ressignificação. Mas tal capacidade só é possível se conseguirmos superar a “self-deception” posta por Morin. Nestes, dias eu estava lembrando o quanto Edgar Morin fala sobre a necessidade de um pensamento complexo e como a educação precisa reconhecer “As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão”.

Refleti sobre o ato de religar o conhecimento e como a fragmentação produz cegueira. Li um artigo: “Coronavírus e a luta de classes” e fiquei refletindo como as premissas de um pensamento binário (rico x pobre, preto x branco, homossexuais x heterossexuais, etc.) levam a resultados de exclusão de pessoas nos processos de seleção dos profissionais para a academia, nos processos de seleção de mestrado e doutorado (já tiveram a oportunidade de analisar os pseudos artigos exigidos nas provas?); levam a resultados desastrosos, na educação, na economia, na saúde, na relação humana como um todo, na empatia que poderia construir pontes, na cegueira de si, do outro, ou seja, na sociedade como um todo.

Tal pensamento binário temos vivido neste tempo de pandemia: para quem deve ser a quarentena? Há quem defenda que todos devem ficar isolados.

Mas quem seria esse TODOS? Os bombeiros, os policiais, os médicos, os enfermeiros, os padeiros, os agricultores, os caminhoneiros, os frentistas, os caixas, as empregadas doméstica, os atendentes, os entregadores, os pizzaiolos, os sushimen, os técnicos da internet, do fornecimento de energia, e a lista continua..

Então que pensamento é esse de TODOS? Todos, menos eu? Quem tem o salário “garantido”? Tem uma lei que exige que o patrão e o governo me sustente? Ou que meu responsável legal pague as minhas contas?

E como ficam os 24, 4 milhões de trabalhadores informais (Agência Brasil)? E as micro e pequenas empresas que representam 99,1% dos empregadores, segundo o Sebrae? Supere portanto, o pensamento binário e simplista de luta de classes, comece a refletir sobre a complexidade entre as dimensões que se retroagem.

Então voltemos para a premissa: Para quem deve ser a quarentena?

O vírus está aí. Ele não vai passar. Apenas 15 dias resolve?  Há séculos combatemos o bacilo da tuberculose, ou com o vírus do sarampo, da gripe, da rubéola. Então o quê acontece? Convivemos com eles, os combatemos com higiene, cuidados, profilaxia, estudos químicos e biológicos para encontrar a cura, uma vacina, ou antibióticos. É isso que há séculos temos feito, não apenas por um período.

O mais contraditório de tudo isso é testemunhar o que a academia refuta tanto, mas adota em demasia: intelectuais que até respeito, com discursos que promovem o erro e a ilusão. Mas qual motivação de tudo isso? Será o erro de percepção? O erro intelectual? Visto que o conhecimento por meio de palavra, de ideia, de teoria, é o fruto de uma tradução/reconstrução por meio da linguagem e do pensamento e, por conseguinte, está sujeito ao erro. (MORIN,2011, p. 20)*

Ou será o caráter? Na academia temos à disposição a análise de discurso e conteúdo, então por quê tantas distorções nas oitivas?

Tudo isso só me leva a refletir sobre o poder da empatia! O poder dos sentimentos! O poder de uma paixão! O poder dos vícios, no sentido Aristotélico, da falta e do exagero que impedem a virtude, o equilíbrio. Vemos uma geração de “Narcisos”, o que vale sou eu…

Os meus votos vão para que a educação volte a ser laica! Que realmente aceitem os diferentes! Que superem o discurso do ódio camuflado de bem!

*MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez: Brasília, UNESCO, 2011

Fabiane Araújo, para Vida Destra, 28/03/2.020.

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2 COMMENTS

  1. Super intrigante o artigo de Fabiane no desastre da cegueira, mas entendo que como na política exista um lobby para que o discurso de autoridade (profissionais médicos) convençam à população contra tudo e todos. A questão sempre é dinheiro e política.

    • Rosana obrigada pela sua participação e pergunta. O artigo traz como a dualidade de pensamentos pode ser desastrosa para que as pessoas entendam a complexidade que a realidade comporta. Trouxe esse parágrafo mais para instigar próximas reflexões que repassam desde 2015 e em especial em 2017 quando tentaram retirar a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas. Foi e continua sendo um debate extenuante e a gente sabe que a prática muitas vezes está dissociada da teoria, vinda em forma de leis etc.. Sabemos também que a religião está vinculada a cultura de um povo e existe uma multiplicidade dentro disso sendo o Brasil um país tendo sua maioria cristã. A BNCC estabeleceu atualmente como componente curricular de oferta obrigatória nas escolas públicas de Ensino Fundamental, com matrícula facultativa. Então ainda está confuso. Na prática, eu posso falar da minha experiência, está começando uma caça aos cristãos de forma ainda muito escamoteada, invisível em documentos mas presente no dia a dia. Mas tratarei sobre o assunto com maior propriedade no próximo artigo. Um abraço fraterno, obrigada por nos acompanhar.

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Doutora em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia - PPGCASA - UFAM, desenvolvendo a pesquisa sobre Cidadania Ambiental na Amazônia em parceria com o Dr. James Connely da Universidade de Hull na Inglaterra e Universidade Federal do Amazonas. É Mestra em Ensino de Ciências na Amazônia - (UEA) desenvolvendo uma alternativa curricular transversal para a formação docente dos universitários. É Graduada em PEDAGOGIA com habilitação em Administração e Inspeção Escolar (UFAM-AM), Bacharel em DANÇA (UEA-AM), pós-graduada em PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL - (UCAM-RJ) e SEGURANÇA PÚBLICA E DIREITOS HUMANOS - (FAMETRO). Foi docente do Ensino Superior do Programa PARFOR (UEA), ministrando a disciplina TRANSVERSALIDADE. Trabalhou como Tutora Local dos cursos de PÓS-GRADUAÇÃO da UCAM-RJ, atuando na área de EDUCAÇÃO, GESTÃO, SAÚDE e MEIO Atua no auxílio de diversos abrigos em Manaus, como o Lar Batista Janell Doyle que recebe crianças vítimas de maus tratos.