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O olhar e sua interpretação. Ou do barro para a Glória!

“A palavra do SENHOR, que veio a Jeremias, dizendo:
Levanta-te, e desce à casa do oleiro, e lá te farei ouvir as minhas palavras.
E desci à casa do oleiro, e eis que ele estava fazendo a sua obra sobre as rodas,
Como o vaso, que ele fazia de barro, quebrou-se na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos olhos do oleiro fazer.
Então veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? diz o Senhor. Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel”.

Jeremias 18:1-6

O nosso modo de pensar, de viver, de agir e de nos relacionarmos com Deus, conosco e com o nosso próximo dependerá, fundamentalmente, de como nós percebemos ou interpretamos a Deus, de como nós nos vemos a nós próprios, e de como vemos aos outros. E também de como vemos e interpretamos as situações e os fatos que ocorrem conosco e com os outros. Tudo depende do modo e da maneira de como vemos e interpretamos a tudo isso. Alguém pode enxergar um copo meio cheio e outra pessoa pode enxergar o mesmo copo meio vazio. Mas, em termos concretos, o copo é o mesmo e a quantidade de água nele contida é exatamente a mesma para ambos os observadores. O que muda é o modo de perceber e de interpretar uma mesma situação ou fato.

A argila, popularmente conhecida como barro, é um mineral abundante na crosta terrestre. É formada pela decomposição de determinadas rochas por meio da ação de agentes químicos ou físicos.  Por causa de sua abundância, a argila tem um valor econômico relativamente baixo. Mas é da argila, ou do barro, que se fazem os tijolos para construções de diversos tipos, desde as mais simples e rústicas casas até os mais imponentes e luxuosos edifícios. Um belo arranha-céu envidraçado foi anteriormente um amontoado de aço com homens espalhando poeira e barulho para todo lado.

O barro é também matéria prima preciosa nas mãos de um oleiro. Dele o oleiro faz belos vasos e obras úteis. A caríssima porcelana chinesa, antes de ser trabalhada pelo artesão, e virar arte, era apenas argila e outros minerais baratos, como o caulim.  O diamante é feito de carbono, o mesmo elemento constituinte do grafite, usado no lápis. Apenas são diferentes no arranjo geométrico dos átomos. O diamante, formado nas profundezas da Terra em decorrência de temperatura e de pressão extremamente elevadas, pela sua relativa escassez, tem um alto valor econômico. Já com o grafite, que não foi submetido ao mesmo processo de formação que ocorreu com o diamante, ocorre o inverso. Mas mesmo o diamante bruto precisa do olhar e do labor do lapidador para alcançar o formato de brilhante valioso e de gema preciosa.

Conta-se a estória de um pai que entregou uma pedra a seu filho e pediu para que este se dirigisse, sucessivamente, a uma feira, a um museu e a uma joalheira, nesta ordem, com o objetivo de vendê-la. Instruiu o garoto para que quando alguém perguntasse o preço, apenas levantasse dois dedos, ouvisse a oferta e se dirigisse ao próximo local.  Após receber a última oferta, voltasse para casa com a pedra. O garoto fez conforme orientado. Na feira, ao ser perguntado quanto valia a pedra, o menino levantou dois dedos e lhe ofereceram dois reais como valor do pagamento. O garoto se dirigiu então ao museu. Um colecionador, interessado na pedra, perguntou o quanto ela valia. O menino apenas levantou dois dedos como resposta. O colecionador lhe ofereceu dois mil reais. Finalmente, o garoto se dirigiu à joalheria e ofertou a pedra. O joalheiro, ao ver a raridade daquela gema preciosa, ficou muito entusiasmado e perguntou o preço. O menino, novamente, levantou dois dedos. O joalheiro, imediatamente, se propôs a pagar duzentos mil reais pela pedra. O garoto, eufórico, volta, na mesma hora, correndo para casa e conta o que lhe aconteceu na feira, no museu e na joalheria. O pai do garoto, então, lhe diz: -A pedra é exatamente a mesma meu filho, mas recebeu uma valoração muito diferente em cada caso. Cada valor recebido dependeu do lugar onde foi ofertada, e também do olhar e do conhecimento de cada pessoa para quem foi ofertada.  O mesmo ocorre com cada ser humano: ele é valorizado de acordo com o lugar em que se encontra e também de acordo com o modo como os outros o enxergam e interpretam.

O Mestre da Galileia, o Humilde Nazareno, o Senhor Jesus Cristo, Salvador da humanidade, viu em pescadores rudes, incultos e simples, como Pedro, os futuros campeões da fé. Para a maioria das pessoas, não havia nada de especial em um Pedro ou em um João. Para a maioria das pessoas, eram apenas homens rústicos e pescadores comuns.  Mas dessa matéria bruta, Jesus fez os 12 Apóstolos que mudaram a história do mundo para toda a eternidade. Jesus mesmo viu em um fariseu arrogante, perseguidor da Igreja, responsável pela morte de muitas pessoas inocentes, aquele que viria a se tornar o Apóstolo dos Gentios, que levaria o Evangelho aos reis e poderosos da terra, alterando o curso da história. Foi assim que Deus transformou um Saulo em um Paulo.

Temos muitas imperfeições, limitações, contradições e, como humanos, estamos sujeitos ao erro. Por isso, em determinadas ocasiões, podemos nos ver a nós mesmos, ou outros podem nos ver sob um ângulo negativo ou uma perspectiva desfavorável. Mas isso não é o mais importante, porque tudo depende do olhar de quem vê e do modo como o interpreta. O ser humano é extremamente limitado e não pode enxergar todos os ângulos e todas as perspectivas possíveis, não pode vislumbrar todas as possibilidades, não tem a visão do todo, não pode prever o futuro.

“Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado”.

1 Coríntios 13:9,10

O que realmente importa é como o Eterno Deus, o Criador de todas as coisas, nos vê, pois somente Ele é quem tem a perfeita visão e o perfeito olhar, pois Ele é Onisciente, sabe de todas as coisas e Ele é a Perfeita Luz. Todas as coisas estão patentes e transparentes ao seu Olhar. Somente Deus consegue ver o Todo, porque Ele é Transcendente e tudo sabe, a tudo conhece. Nós, seres limitados, por nossa constituição e forma, só conseguimos ver limitadas partes. A nossa visão só consegue enxergar uma diminuta fração do espectro eletromagnético e o restante não é captado pelas células receptoras da luz em nossos olhos. Essas ondas eletromagnéticas, além do alcance de nossa visão, são classificadas como radiação ultravioleta e infravermelha.

Do ponto de vista do pecado, de nossas imperfeições, estávamos irremediavelmente condenados.  Mas o Eterno Deus viu em nós, e para nós ,um outro futuro, um brilhante porvir, e por isso enviou Seu Filho Unigênito e Amado para nos salvar. Isso mostra que o Grande Oleiro viu no pó, no barro que nós somos a possibilidade de nos tornar vasos de honra e de glória, úteis e abençoadores. Para aqueles que optaram em entregar e confiar as suas vidas nas mãos do Grande Oleiro, ele ainda está trabalhando conosco, amassando a nós como o oleiro amassa o barro, aparando as nossas arestas, cortando nossas imperfeições, nos moldando. A sua Obra conosco continuará até o último instante em que estivermos neste plano físico. O objetivo do Eterno Deus e Pai é nos fazer vasos de glória semelhantes ao Seu Filho Unigênito, nosso Salvador Jesus Cristo. Assim como o oleiro aplica pressão sobre o barro, o amassa, corta o que não serve, o Grande Oleiro faz o mesmo conosco. Até mesmo pode começar tudo de novo, caso o vaso não esteja de acordo com o que idealizou, pois o Grande Oleiro sabe que, ao nos moldar, ao nos amassar, ao nos cortar nos excessos do barro que somos, nos sentimos afligidos e suportamos dores. No entanto, Ele vê mais além, além do que ninguém mais pode ver. Somente na Eternidade se revelará como de fato o Senhor nos via desde o início ao contemplar, em sua Onisciência, a sua obra terminada e perfeita.

Enquanto estivermos neste mundo, estaremos em obras! Por isso, não desanimemos com as dores, com a “sujeira” e a “poeira” espalhadas no processo de moldagem.  Mesmo que você precise ser remodelado várias vezes, assim como um vaso nas mãos de um oleiro, mantenha a fé, a esperança e o amor, que, segundo I Coríntios 13.13, são os maiores dons. Se você se entregou e confiou sua vida completamente às mãos do Grande Oleiro, não se preocupe. Se ainda não fez isso, faça o quanto antes. O seu processo de moldagem pode estar lhe trazendo desconforto e dores no momento, pois você ainda é barro e está sendo moldado. Mas saiba que, ao final de tudo, por meio da sua fé e da graça de Deus, pela qual somos salvos, sairá desse processo um belo e glorioso vaso das mãos do Grande Oleiro, que o glorificará por toda a Eternidade. Onde muitos podem estar vendo apenas barro com pouco valor, o Senhor de todas as coisas já está vendo, em sua Onisciência, um vaso valioso de inestimável preciosidade!

“Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido”.

1 Coríntios 13:12

 

 

Lívio Oliveira, para Vida Destra, 18/01/2021.                                                             Sigam-me no Twitter! Vamos debater o assunto! @liviololiveira

 

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16 COMMENTS

  1. Extraordinário artigo de @livioliveira sobre o olhar e a sua interpretação, que nos dá uma lição de vida sobre estarmos sempre nos moldando, retirando as impurezas, com a graças de Deus, teremos outros olhos para a vida.

    • Agradeço pelo seu comentário e pelo apoio Luiz. Sem dúvida, pela graça de Deus, poderemos nos tornar vasos de bençãos.

  2. Que delícia de artigo ! Quase poético, contudo , contundente , pela magnitude dos “ contos “ , intimamente ligado à beleza incomparável dos ensinamentos bíblicos ! Parabéns, Lívio Oliveira! ???

    • Agradeço a você por seu comentário tão generoso Olímpia. Sim, a Palavra de Deus é uma fonte inesgotável de sabedoria e de ensinamentos para a edificação de nosso ser. Ela é sempre atual e sempre se renova.

  3. Parabéns por sua reflexão! É assim que cremos, não temos que ter problemas em voltar atrás ou mudarmos de opinião, o importante é se entregar nas mãos de Deus e nos deixarmos ser moldados. Não somos infalíveis!

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Lívio Luiz Soares de Oliveira. Economista, analista pesquisador, articulista do Vida Destra