Quando se fala em ditadura no Brasil, automaticamente já vem na cabeça o período de 1964, que, apesar de autoritário, não pode ser chamado efetivamente de ditadura, uma vez que esse tipo de regime de governo se caracteriza pela prevalência de um presidente no cargo, sufocamento da oposição, abdicação de eleição e demais características congêneres. Em 64, havia eleições para o legislativo, alternância de presidentes e a oposição tinha um certo lugar de fala, dado que o proibido era ser comunista, não necessariamente de esquerda. No mais, a instauração do Regime Militar teve apoio da igreja, do parlamento e principalmente da sociedade, reunida na Marcha da Família com Deus pela Liberdade, maior manifestação que teve na época, superando qualquer protesto contra “a ditadura”. Isso nada mais é do que a democracia sendo efetivada em sentido estrito: democracia é o governo do povo, o povo pediu para que os militares assumissem o controle para por um fim na política comunista de João Goulart, que estava destruindo o Brasil e os militares, com o aval da sociedade, assim o fizeram. Ditaduras também surgem com golpes  e ao contrário do que é ensinado nos livros de escola, não houve golpe em 64, muitíssimo pelo contrário, todo o processo, desde a destituição de João Goulart até a eleição do presidente Castelo Branco foram feitos com estrito respeito à Constituição de 1946, em vigor na época. Explico: o Congresso cassou João Goulart por demanda da população no dia 2 de abril. O cargo de presidente então ficou vago e assumiu o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli, que, em respeito à Constituição de 46, que dizia que se o cargo de Presidente da República ficasse vago depois dos dois primeiros anos do mandato, a eleição se faria de forma indireta. A eleição foi feita no dia 11, com incríveis 361 votos para o Marechal Castelo Branco (dentre eles, o voto de Juscelino Kubitschek), que tomou posse dia 15 de abril.

Porém nem tudo são flores. Havia, no Regime Militar, dois tipos de linhas de pensamento: os moderados (ou castelistas, em alusão ao Presidente Castelo Branco) e os linhas dura. Os primeiros achavam que o Regime teria um papel breve e rápido, que logo a democracia voltaria. Os linhas dura, por sua vez, acreditavam que a democracia deveria ser reestabelecida só depois que todo o movimento comunista fosse expurgado do país. Os moderados foram maioria no comando do país: Castelo Branco, que pretendia devolver o Brasil as civis já em 65, Ernesto Geisel e João Figueiredo. Na verdade houve apenas um governo completo linha dura, que foi o do General Emílio Médici, o qual elevou o Brasil da 46ª a 8ª economia do mundo, além de ter acabado com a guerrilha armada. Dos militares castelistas, teve um em específico que era mais socialista do que muitos socialistas de iPhone de hoje em dia: Ernesto Geisel. Louvado por alguns que não conhecem a história do Regime por ter prendido muitos comunistas, Geisel e sua política eram difíceis de entender, pois à medida que prendia socialistas, aplicava as políticas defendidas por eles, como veremos.

A maior traição de Geisel ao Regime e ao Brasil em si foi quando ele nomeou para a Casa Civil Golbery do Couto e Silva, general intelectual que elaborou a “tese da panela de pressão”, a qual dizia que para a Revolução de 1964 dar certo, seria necessário que a esquerda comunista tivesse uma válvula de escape, isto é, um espaço o qual pudesse se manifestar. Esse espaço foi a Universidade e, consequentemente, o aparato cultural. Neste momento, começa a nascer no Brasil o Marxismo Cultural, ideia elaborada pelo filósofo Marxista Antonio Gramsci, que reescreveu a base filosófica do comunismo quando percebeu, ao constatar que o proletariado não dava a mínima para as ideias de Marx e que queriam é mais capitalismo selvagem, que a luta armada não era o caminho para implementar o comunismo, mas sim a hegemonia cultural, isto é, ocupar as escolas, universidades, mídia e espaços afins, pois dessa forma seria possível fazer com que as pessoas virassem comunistas sem nem saber que eram. Nessa parte da história do comunismo, a luta de classes ganha uma nova forma: antes era patrões versus empregados, hoje é opressor versus oprimido: branco versus negro, homem versus mulher (feminismo prega muito isso), homossexual versus heterossexual, pobres contra ricos, etc. Gramsci fala que o partido que conduzir essa revolução cultural teria autoridade onipresente e invisível de um imperativo categórico, de um mandamento divino e ele estava certo: experimente falar mal do PT, mesmo depois desse partido ter destruído o país, ou que Lula é culpado para algum estudante de universidade federal ou para algum jornalista e você ganhará um inimigo, além de ser chamado de fascista e outros apelidos que a esquerda usa à exaustão para qualificar quem não concorda com suas ideias, ou até boicotado, caso você esteja inserido nesse meio. O Marxismo Cultural, que tem por objetivo destruir as bases da sociedade ocidental (filosofia grega, o direito romano e a moral judaico cristã, por isso que esquerdistas relativizam a lógica, as leis e principalmente a moral) destrói a inteligência também. Note que num debate com um esquerdista não há argumentação pautada na lógica argumentativa, mas sim o uso exacerbado de falácias, argumentos ad-hominem, contradições, dados falsos e apelativos, xingamentos e demais relativizações da lógica.

O legado que Geisel deixou para o país em suma foi esse: a destruição da educação (foi ele que trouxe Paulo Freire para a educação brasileira), políticas socializantes que pagamos o preço até hoje, expansão da CLT, criação de 12 empresas estatais, oficinas de sirirca e obras de “arte” de pessoas enfiando o dedo no cu uma das outras (a tal centopeia humana) nas universidades e demais aberrações culturais brasileira, não é à toa que ele era admirado por Lula. O Regime Militar foi eficiente no combate à luta armada da esquerda durante o governo Médici, mas se esqueceram do principal: combater a esquerda no espectro cultural.

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