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O que “O Príncipe” te ensina sobre a bajulação?
Por Ana Mendes
Sempre que me deparo com Maquiavel e suas críticas, confesso que fico dividida em minha opinião sobre o autor.
Maquiavel, através de seus escritos, conseguiu revolucionar o entendimento ocidental sobre a forma de poder e governo, e com seu realismo político ferrenho fez-me analisar cada palavra sua, com os olhos da dura e intrínseca realidade humana: A malevolência e a miséria.
O mesmo mantém sua ideia de política e governo fora do olhar utópico da sociedade, e com isso, contempla a política com a desordem e o caos humano. Diferente, por exemplo, do olhar grego de ordem social como em Politeia. A política é analisada com o duro olhar do maquiavelismo, e todo o horizonte realista é baseado no conceito: “andare drieto ala veritá effetuale della cosa, che ala immaginazione dela stessa” (ir diretamente para a verdade real da coisa, do que para a imaginação da mesma).
Conforme os capítulos corriam, percebi que me identificava com Maquiavel em alguns aspectos, mas principalmente em um ponto importante: o da análise humana sem utopias e especulações.
Maquiavel, por definir o homem como motivado por interesses próprios, escreveu um capítulo que particularmente me chamou a atenção. Li e reli essas palavras com o intuito e desejo de cravá-las em minha alma até o último ponto. Posso afirmar que o capitulo XXIII tornou-se um de meus favoritos.
Em seu contexto de escrita, Maquiavel fala ao príncipe sobre a arte de governar e lidar com os súditos, e os inúmeros contextos em que o mesmo poderia encontrar-se, e nesse capítulo intitulado por “Como bajuladores devem ser evitados”, o autor traz uma análise sobre o que é bajulação, e o porquê de muitos príncipes serem enredados pela mesma.
Quando analiso o conceito da bajulação na raiz etimológica, o termo vem do verbo do latim, baiulo, que significa carregar um fardo ou uma carga. E no mesmo sentido, a palavra bajulação se aplica às pessoas que bajulam de forma servil, com interesses próprios.
A bajulação é sempre seguida de palavras de grandeza, onde quem profere, exalta o sujeito da fala de forma exagerada, colocando em suas costas um fardo de capacidades em que o receptor não é capaz de suportar.
Através disso, inicia-se o jogo silencioso que o adulador planejou. O homem, por ter o ego inflado com palavras vazias, passa a desejar a todo o momento que o adulador o rodeie. Porém, caro leitor, é conhecido, que o homem pode enganar a todos, menos a si mesmo. O bajulador conhece quem de fato o homem é, e sabe como utilizar a falta de inteligência e perspicácia do pobre homem, ao seu favor.
O bajulador é como o sofista de Platão, sempre em busca de imagens proeminentes para adquirir alguma vantagem, e assim beneficiar-se da falta de capacidade intelectual alheia. Fixam-se nos homens, sugando-lhes tudo que lhe for possível, e ao final da extorsão, limpam a boca, e afirmam não ter cometido mal algum.
Recorda-me a passagem de provérbios – “A sanguessuga tem duas filhas, a saber: Dá, Dá” Provérbios 30:15
Costumo acreditar que quem aprendeu a arte da bajulação, aprendeu sobre o desvio pessoal e afogou seu caráter.
A prostituição e a bajulação são primas, uma vende o corpo, a outra, o caráter, e creio eu, querido leitor, não consigo distinguir qual é a pior.
Maquiavel, no decorrer do capítulo, continua afirmando ao Príncipe seus ensinos, sempre utilizando-se de exemplos históricos e falando através de seu empirismo indutivo, redigindo a única forma segura de fugir da bajulação. O mesmo afirma:
“Não há outra forma de se proteger da bajulação do que fazer com que os homens entendam que a verdade não ofende, mas, quando todos podem lhe dizer a verdade, o respeito por você aumenta”.
Ensinar aos outros sobre a sua capacidade de lidar com fatos, é mais importante do que a opinião que podem ter sobre você.
Veja bem, caro leitor, a bajulação só é um perigo quando o homem decide fugir de si mesmo.
Ora, se sei quem sou, porque aceitaria mentiras sobre mim, apenas com a premissa de inflar meu próprio ego?
Portanto, aprenda notoriamente sobre si, afinal, entender o âmago de suas fraquezas é a sua força.
Quão miserável, é o homem que aprendeu a viver mentindo para si mesmo!
Consegui entender com Maquiavel, a importância de companhias bem escolhidas, da verdade, e acima de tudo, a importância de rodear-se de bons conselheiros.
Mas um ponto interessante citado sobre a escolha dos conselheiros pode ser resumido em alguns tópicos que citarei abaixo:
– Um homem deve rodear-se de sábios, dando-lhes a liberdade de falar a verdade, mas apenas daquilo que pergunte, e nada mais;
– Ele deve portar-se de tal forma que saibam que quanto mais livremente falarem, mais serão aceitos;
– Fora os conselheiros de confiança, o homem não deve dar ouvidos a mais ninguém, seguir deliberadamente o que foi adotado, e ser obstinado em suas decisões;
O homem que assim proceder estará livre das armas da bajulação, e acima de tudo, manterá firme sua conduta e respeito.
Além disso, acrescento aqui, um de meus ensinos para quem deseja fugir da adulação, que aprendi há um tempo atrás, nos escritos de Sertillanges. Evitem estar sempre rodeados de figuras festivas, repudiem a ideia de serem associados à imagem de um homem sem escrúpulos, mantenham-se sempre dignos de sua posição, evitem ser escravos de desejos carnais, e estejam sempre sóbrios em suas escolhas, pois como afirma Provérbios: “Não é próprio dos reis, ó Lemuel, não é próprio dos reis beber vinho, nem dos príncipes desejar bebida forte.”
Sertillanges afirmou certa vez: “A ideia e a ostentação, a ideia e a dissipação são inimigas mortais”.
Portanto, caro leitor, concluindo o escrito acima, deixo aqui minha admiração aos ensinos citados de Maquiavel, e quanto a outros que me fogem da ideia conservadora e impoluta, trarei uma análise posterior sobre eles, pois apesar de um olhar coerente em algumas questões, não sou de todo aberta à forma política ensinada, e nem sobre seus ideais maquiavélicos.
Entretanto, acredito que assim como eu, o leitor tenha aprendido sobre liderança e realismo, e acima de tudo, sobre como um Príncipe, deve agir.
“Tendo o príncipe a necessidade de saber usar bem a natureza do animal, deve escolher a raposa e o leão, pois o leão não sabe se defender dos laços (das armadilhas) e a raposa não sabe se defender da força bruta dos lobos. Portanto, é preciso ser raposa, para conhecer as armadilhas, e leão, para aterrorizar os lobos.”
Nicolau Maquiavel
Ser Conservador para o Vida Destra, 24/05/2021. Visitem o nosso site: serconservador.com.br Sigam-nos no Twitter: @conservador_ser
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Excelente texto e bem atual para esses momentos sombrios que vivemos onde egos inflamados querem superar a racionalidade.
Parabéns.
Parabéns!
Parabéns pelo texto…