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O STF pode derrubar Montesquieu

Charles-Louis de Secondat, mais conhecido como Barão de Montesquieu, ou ainda simplesmente Montesquieu, legou-nos a noção da tripartição dos poderes do Estado, conhecido como Sistema de Freios e Contrapesos, com a divisão do poder em Executivo, Legislativo e Judiciário, mantendo independência e equivalência entre eles; com base no princípio de separação dos poderes que remonta a Grécia antiga, no tratado “Política” de Aristóteles.

Juristas entendem que há um erro ao se falar em divisão dos poderes, uma vez que o poder é uno, considerando mais correto como divisão das funções do Estado.

Mesmo ciente desse contraponto, mencionei assim para manter consonância com a Constituição Federal, onde o termo utilizado foi “poder”.

Quando minha neta, de apenas seis anos me perguntou “quem é que manda no Brasil?”, minha resposta foi curta e necessariamente simplista, em função da idade dela: “o presidente”, eu disse.

Tá bom, vovô!

O assunto ficou esquecido, logo substituído por uma das brincadeiras dela.

Mais tarde, lendo algumas notícias é que percebi ter respondido errado; na verdade ao presidente do Brasil atualmente não é dado o direito de administrar o Executivo, que seria sua competência constitucional, e que eu tomei como base para a minha resposta.

O fato de minha formação não ser na área jurídica me permite raciocínios, dúvidas e conclusões de leigo, e quando vejo notícias como essas abaixo a mim parece que o STF está “gerenciando” o Executivo, principalmente por meio do ministro Ricardo Lewandowski.

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O STF estabelece prazos para várias áreas do Executivo e em variados assuntos, tal qual um administrador faz com seus subordinados; por exemplo, determina prazo para a ANVISA aprovar ou não determinada vacina, como se essa aprovação não dependesse de análise embasada em conhecimentos técnicos, e de protocolos; e pudesse ter o prazo definido por uma vontade autocrática.

Nosso STF age de maneira excludente no que se refere ao poder Executivo, tomando para si a administração de vários assuntos da competência daquele.

Ministros, que são funcionários públicos do mais alto nível, não devem e não podem embasar suas decisões sob a ótica de suas cores políticas, e aqui no nosso país parece ser bem isso o que está acontecendo. Fica a impressão de que bancadas partidárias se estenderam para além da casa legislativa.

Normalmente não considero bem vindas análises dicotômicas, mas vou me permitir uma exceção desta vez: O Brasil precisa de contribuição entre os poderes autônomos, e não de atrapalhação.

Com esforços conjuntos já não será fácil fazer um país melhor, tal é a defasagem que acumulamos na economia, educação, segurança, mobilidade, moradia, saneamento, etc.; o que dirá com poderes puxando para lados opostos.

O perigo está em aceitarmos essas situações, do mesmo jeito que hoje já não nos incomodam as favelas, por exemplo; o máximo que fizemos foi mudar a denominação para “comunidade” e em algumas delas implantar um arremedo de urbanização.

Já não nos incomodamos com moradores de rua, com a falta de saneamento básico na maior parte do país; o mínimo do mínimo para se desenvolver um lugar decente para as pessoas viverem; também nos acomodamos com as facções criminosas, com as milícias, com o crime generalizado.

Dinheiro há, tanto é que somos pródigos em salários e todos os tipos de penduricalhos e mordomias para os altos cargos do funcionalismo; pródigos em manter um sistema político anacrônico e sugador de recursos, muitas vezes de forma ilegal; em outras de forma legal, mas imoral.

Dinheiro há.

Nosso país possui uma das cargas tributárias mais agressivas do planeta; e se considerarmos a relação de recursos que entram nos cofres e compararmos com o retorno proporcionado, é bem provável que o troféu da ineficiência nos pertença.

Para melhorar nosso país precisamos de recursos, inteligência e boa vontade. Temos território vasto, rico, diversificado e privilegiado; boas cabeças pensantes se encontram aqui e acolá; resta a boa vontade, e esta parece estar em falta para muitos.

Precisamos espernear; não podemos aceitar calados que qualquer poder se sobreponha aos demais, talvez na tentativa de desmoralizar e derrubar Montesquieu.

 

 

Reginaldo, para Vida Destra, 12/02/2021.                                                                Sigam-me no Twitter! Vamos debater o assunto! @Reginaldoescri1

 

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8 COMMENTS

  1. Infelizmente @Reginaldoescri1 o sistema de freios e contrapesos idealizado por Montesquieu não funcionou no Brasil. Aqui vige o ativismo judicial, a sua neta está com a razão. A menos que precisemos de um cabo é um soldado. Como isto não é possível, nem espernear, vc pode ser conduzido s/vara.

    • Luiz Antônio, você ressalta dois pontos de relevância: O primeiro é que tanto leis como sistemas, aqui no Brasil “tem que pegar”, e o outro é sobre o ativismo judicial, que é o mais nefasto, uma vez que não permite revisão.

  2. Concordo gng, Reginaldo. Montesquieu parece nunca ter sido lembrado por aqui. Além de lembrá-lo, temos também que punir, severamente, aqueles que somente usufruem e exploram os demais brasileiros. Parabéns.

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Administrador, financeiro, professor de cursos preparatórios para concursos públicos, pós-graduação em Docência no Ensino Superior, escritor romancista, cronista e articulista.