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Onde está o sujeito da frase?

Neste artigo, tendo como pano de fundo a CPMI das Fake News (ou será CPMI da Censura?), vamos tratar um pouco de política e de sintaxe. Esta última é a parte da gramática que estuda os elementos de uma frase, no que se relaciona à concordância, subordinação e ordem.

Uma frase, ou oração, possui sujeito e predicado. O sujeito é a parte da oração que dá suporte a uma afirmação do predicado. O predicado é o que se diz da ação do sujeito na oração, com o suporte de um verbo. Existem vários tipos de sujeito em uma oração: sujeito simples, sujeito composto, sujeito oculto, sujeito indeterminado e sujeito inexistente. Expliquemos, resumidamente, do que se trata cada um destes casos, dando exemplos.

Sujeito simples – é aquele que tem apenas um núcleo. Exemplo: Allan dos Santos deu um show na CPMI das Fake News ontem.

Sujeito composto – é aquele que tem dois ou mais núcleos. Exemplo: Allan dos Santos e alguns parlamentares protagonizaram alguns momentos hilários ontem na CPMI das Fake News.

Sujeito Oculto – é aquele que não está claro na oração, mas pode ser identificado pela pessoa do verbo. Exemplo: Assisti a algumas cenas hilárias da CPMI das Fake News ontem. (Quem assistiu? Eu).

Sujeito indeterminado – novamente, o sujeito não está identificado claramente na oração. Exemplo: Necessita-se, urgentemente, de parlamentares competentes e preparados no Congresso Nacional.

Sujeito inexistente – quando o predicado não faz referência a nenhum tipo de sujeito. Exemplo: Ontem, dia de sessão da CPMI das Fake News, foi 5 de novembro de 2019.

Sim, ontem, 5 de novembro de 2019, em depoimento do editor do Portal Terça Livre, Allan dos Santos, na CPMI das Fake News (Ou será CPMI da Censura?) pode-se assistir momentos constrangedores, que revelam um alto grau de despreparo intelectual de vários parlamentares da esquerda.  Em certa altura da sessão, um notório deputado esquerdista estava questionando Allan, de forma bastante atabalhoada, espancando sem dó e piedade a boa sintaxe gramatical da língua portuguesa, engolindo plurais sem peso algum na consciência, e exterminando despreocupadamente concordâncias e regências verbais, quando foi surpreendido pela fatídica pergunta do depoente: – Qual o sujeito da frase? Simples pergunta. A frase a que Alan se referia era: “Rússia e China querem IMPOR a mesma lei que usam em seus países: a ‘internet soberana’ em nome da segurança cibernética”.

Depois da explicação dada no parágrafo introdutório, não há como você, leitor, errar a resposta. Sim, o sujeito da frase é composto: Rússia e China. Mas o nobre deputado, tendo esquecido, ou gazeado, as aulas de gramática, se enrolou completamente e respondeu de forma totalmente equivocada tão singela e simples pergunta. Allan dos Santos não havia questionado o parlamentar sobre alguma tecnicalidade extremamente complexa relacionada à difusão de informações. Não perquiriu sobre algum tópico de difícil apreensão relacionado a algum ramo do Direito. Nada disso. A pergunta era tão simples como indagar quanto é 2 mais 2. O parlamentar, em meio ao espanto e perplexidade diante de questionamento tão inesperado do depoente, deve ter sofrido um apagão mental, ficou visivelmente nervoso e atrapalhado e, pensando que, se ficasse sem responder, passaria vergonha, resolveu chutar. Dobrou a meta e passou vergonha ainda maior. A emenda saiu muito pior do que o soneto. Disse que o sujeito da frase seria nós, os brasileiros. Diante de resposta tão insólita, Allan teve que conter o riso de forma discreta.

Para os parlamentares, é uma pena que, em uma CPMI como esta, não se possa contar com recursos de auxílio como esses que existem em programas de perguntas e respostas, os famosos Quiz Shows, como o saudoso Show do Milhão, apresentado, no final da década de 90 e início da década de 2000, por Silvio Santos. Ali, o convidado sorteado do programa, na tentativa de obter o prêmio máximo, de um milhão de reais, caso não soubesse a pergunta, poderia recorrer aos seguintes auxílios: pular a pergunta  (até três vezes), ou pedir ajuda às cartas(baralho), placas (platéia) e aos universitários. Era muito empolgante ver esse tipo de programa, pois poderíamos, ao mesmo tempo que torcíamos para que o convidado pudesse ganhar o maior prêmio possível, aprender determinados conhecimentos de áreas variadas, como história, geografia, ciências exatas e atualidades. Quando os universitários eram solicitados, na maioria das vezes acertavam os questionamentos. Mas havia momentos em que erravam perguntas muito simples, se expondo ao vexame público e fazendo o convidado perder dinheiro.

O deputado respondeu de forma errada a uma simples e objetiva pergunta. À diferença do Show do Milhão, não pode pedir ajuda às placas, às cartas ou aos universitários. Se bem que, caso esta última alternativa estivesse disponível, poderia ser que os universitários errassem também a resposta, tendo em vista que pesquisas, de várias fontes, apontam para o fato de que mais de 50% dos universitários no Brasil são analfabetos funcionais. O deputado apontou os brasileiros como os sujeitos que querem controlar a internet. Ora, eu, e milhões de brasileiros que prezam a verdade e a transparência, não queremos lei nenhuma que venha a controlar essa rede. Logo, nós, os brasileiros, não somos sujeitos da frase mencionada ontem na CPMI.

Eu gostaria apenas que existisse uma lei que controlasse a qualidade e o preparo dos candidatos aos cargos parlamentares no Legislativo, em seus três níveis: federal, estadual e municipal.  Exigir  a aprovação em um exame intelectual como o ENEM, a qualquer candidato a cargo eletivo, seria um bom começo. Como parte da seleção a uma vaga de parlamentar, o candidato teria que atingir um mínimo  de pontos para se qualificar ao exercício de um mandato. Assim, todos aqueles que não conseguissem identificar, nesse exame, qual o sujeito de uma frase, estariam sumariamente eliminados da arena política.

Quanto ao deputado, depois do vexame de ontem, deve ter se transformado em um sujeito oculto, se escondendo em lugar indeterminado. Não vai querer ser sabatinado tão cedo, em questões gramaticais, por quem quer que seja.

 

10 COMMENTS

  1. Excelente como sempre, Lívio! Concordo com você sobre um nível cultural melhor para os nossos representantes no congresso nacional. Nossas escolas estão sucateadas e nosso ministro terá um árduo trabalho. Nosso nobre deputado não sabe pronunciar “BRICS” e, não sabendo, desconhece o que significa. Lastimável!

    • Grato pelo seu comentário Mary! Na iniciativa privada, até para contratação de profissionais em tarefas não muito complexas, como operador de caixa, são aplicados testes intelectuais. Não entendo por que em cargos tão influentes e importantes, como é o de um parlamentar, tenha que ser diferente. Sim, o nobre deputado não sabe pronunciar e não sabe o que significa BRICs. Uma vergonha.

  2. Caramba, que texto sensacional! Eu dei muitas risadas assistindo o patético parlamentar acabar com tudo que é regra gramatical, e como advogado fiquei me questionando acerca dos “honorórios” que o mesmo indagou ao Allan! Será que eu tenho recebido errado toda minha vida?! Kkkkk

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Lívio Luiz Soares de Oliveira. Economista, analista pesquisador, articulista do Vida Destra