Hoje eu recebi de uma amiga a seguinte mensagem: “Para você que dizia, aos quatro ventos, que a Lavajato era patrimônio do Brasil, veja essas notícias. Elas são do ano passado, mas dão uma dica de como funciona a vaidade de alguns dentro dos órgãos públicos, em especial, dentro dessa operação”.

Abri a notícia, a contragosto, pois não aprecio jornais e revistas da mídia podre, e o assunto era a contratação por um procurador da Lavajato de Curitiba de uma empresa, para fazer um outdoor com a imagem em que os membros dessa operação aparecem enfileirados, realmente enaltecendo as criaturas.

Somente até esse ponto já dá para ficar bem com a pulga atrás da orelha, porque parece que rolou um ciúme dos outdoors espalhados no Brasil a favor do projeto anticrime, que geralmente traziam a imagem do ex-juiz Moro. Mas o problema parece que não foi somente inveja. A notícia traz também que o referido procurador usou o nome e os dados pessoais de um músico gospel, sem o conhecimento deste, para fazer essa engenhosa contratação.

Os advogados que me respondam: pode isso? Será que a vaidade desse povo subiu tanto à cabeça que explodiu seus cérebros? Deve haver nas leis algum nome para essa atitude, falsidade não sei o quê, fraude não sei das quantas, mas o que sei é que não é uma ação corriqueira de membros do Ministério Público brasileiro. Pelo menos, dos que não são “heróis”.

Juntamente com a notícia veio uma suposta conversa entre os membros desse grupo da Lavajato de Curitiba. O santo de alguns por aí, Dallagnol, explica aos outros que esse caso será abafado, que o procurador assumiu que contratou a empresa, mas que tirou uma licença para tratar da saúde (os doentes que me perdoem, mas nessas horas esse povo adoece quase que imediatamente; é só ser pego no pulo, que a doença ataca), que é para todos terem cuidado de não comentar, não bater com a língua nos dentes.

Os outros concordam, é claro, falaram que deveria haver sigilo total: não contem nem para os mais íntimos, etc. Mas o que me chamou a atenção foi a observação de uma mulher do grupo que diz para todos terem cuidado com os servidores, com o que falam na frente deles, pois alguns estão curiosos, fazendo perguntas. É engraçado como esses insanos se acham superiores. Os servidores, o povo, essa gente que não está no mesmo pedestal que nós não merecem saber. Erramos, ou melhor, descobriram nosso pecado, mas vamos guardar em segredo absoluto, afinal, estamos acima do bem e do mal e não podemos ser expostos. Os seres comuns, quando erram, devem pagar; nós, não.

Agradeci à minha amiga e lhe disse: eu errei, eu não deveria ter confiado tanto e ter exaltado tanto uma operação que envolve milhares de seres humanos. Deveria ter desconfiado que só havia “heróis” na Lavajato de Curitiba, mesmo sabendo que milhares de outros membros e servidores do Ministério Público, da Justiça, da Receita Federal, da Polícia Federal e de outros órgãos também trabalharam dia e noite para esclarecer o que afligia a Nação brasileira. Mas, há algum tempo, venho juntando os pedacinhos: como pode, por exemplo, procuradores e juízes que ficaram famosos com essa operação usar essa visibilidade para vender cursos, palestras, livros de esposas e Deus sabe o que mais?

Na época, ávidos por justiça contra o PT, ficamos cegos para o fato gritante de não haver envolvimento sério de outros partidos também tão culpados quanto os vermelhos. Fizemos vista grossa para a declaração que Moro deu nos Estados Unidos, por ocasião de uma palestra, em que vergonhosamente afirma que o PSDB e o PT eram rivais, portanto, não fazia sentido ter pessoas do PSDB envolvidas nas falcatruas do PT. É mole?

Quais segredos mais a Lavajato esconde? O que mais foi abafado? A Lei de Abuso de Autoridade foi tão prejudicial ao Brasil, mesmo? Será? Eu quero saber os segredos da Lavajato, temos o direito de total transparência. Ou esta só necessária para alguns? Fizemos papel de bobos durante todo esse tempo. Essa é a resposta mais acertada.

Acho que chegou a hora de fazer a Lavajato da Lavajato. Quem fez tudo corretamente não tem o que temer. Quem selecionou quem seria processado e preso deve explicar o porquê disso. Se houve motivação política para a Lavajato ir adiante apenas em alguns pontos, temos o direito de saber. Mesmo porque, já que nem tudo são flores, as afirmações do ex-juiz Moro que serão colhidas hoje pela Polícia Federal poderão ser bastante SELETIVAS também. E nesse caso, não aceitaremos calados.

Lembrando aos patriotas que haverá manifestação hoje e amanhã. O Brasil conta com vocês. Vamos agir antes que seja tarde demais.

Gogol, para Vida Destra, 02/05/2.020.

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