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Pátria Minha

A melhor forma de manipulação política é alterar a história”.

Iósif Stalin

 

Em um de meus últimos artigos, falei sobre a grande contribuição de nomes como Patrick Henry e Thomas Paine que impulsionaram a formação do pensamento livre do povo estadunidense. Agora, carece olharmos um pouco mais para nosso umbigo e refletirmos sobre as condições em que nos encontramos e do que precisamos para resgatar nossa decência e direito ao sentimento de pertença à terra que nos gerou.

O brasileiro, há bem pouco tempo, vivia em um estado de inércia intelectual que o mantinha na boa e velha torcida de futebol – literalmente –, guardando o nacionalismo na pura manifestação de amor à pátria, contida nas quatro linhas de um campo gramado.

Desde 2013, com as surpreendentes manifestações populares, o brasileiro iniciou um longo caminho de despertar político, por meio do qual uma parcela dos cidadãos recebeu novos ares de uma consciência mais independente ao buscar compreender nosso país e seu lugar no mundo.

Reforço aqui a palavra “independente”, pois, de forma lenta, o povo brasileiro vai se desfazendo dos tentáculos invisíveis da grande imprensa. Aos poucos, homens e mulheres comuns como Bernardo Kuster, Bárbara do canal Te Atualizei, Leandro Ruschel, Roberto Motta, Adilson Veiga, Fábio Talhari, bem como tantos outros brasileiros saíram do anonimato para ganhar respeito e credibilidade numa área antes restrita a apenas alguns ungidos intelectuais. Claro que estes últimos “senhores da razão” sempre foram, generosamente, referendados por algum tipo de órgão de imprensa que determinava: “nestes especialistas você pode confiar porque sabem das coisas”.

Porém, mesmo com todos os tropeços naturais de um gigante que acabou de acordar e segue cambaleando após um longo sono, sob pesados remédios, a população brasileira vai resgatando um censo de nacionalidade abandonado nas últimas décadas.

Findo o regime militar, as “Diretas Já” geraram uma narrativa daqueles que ascendiam ao poder (para não dizer: retornavam) e que imprimiam um discurso raivoso, culpando militares e conservadores diretamente por todos os problemas gerados no Brasil desde 1964. E é natural que o discurso descambasse para um revanchismo, sabendo que os anos de luta entre as duas variáveis da equação (militares e revolucionários) gerariam mortes de ambos os lados.

É óbvio que os espólios de uma guerra vão para quem a vence. E, nesse sentido, a longa investida comunista em nosso país, mesmo com o hiato do regime militar, fortaleceu a revolução cultural, inflando órgãos de imprensa, políticos, artistas, professores com uma forte adesão ao pensamento socialista que carregava a pseudo bandeira de um Brasil livre. Todo esse contexto, pós 1985, gerou uma narrativa avessa ao pensamento conservador, associando-o às práticas exercidas durante a era militar. Brasileiros se fechavam na possibilidade de manifestar seus sentimentos nacionalistas senão pela boa e velha camisa canarinho. Ao mesmo tempo, de forma acelerada, os jovens das décadas seguintes foram perdendo seu lastro com as identidades nacionais.

Em 1993, no governo do então presidente Itamar Franco, o Ministro da Educação Maurílio de Avellar Hingel extinguiu as matérias de Moral e Cívica e OSPB (Organização Social e Política Brasileira). Vale lembrar que o senhor Maurílio fora diretor da Universidade Federal de Juiz de Fora no período do regime militar, e, por muitas vezes, abrigou vários líderes estudantis e de sindicatos, sendo preso em 1966.

De fato, as inclinações ideológicas da grande maioria dos políticos na “redemocratização” brasileira exprimiam uma vontade declarada de se apagar o que havia sido construído ao longo de séculos de história nacional. Um desses pontos a se “modificar” foi, aos poucos, apagando este senso patriótico e nacionalista. Já não havia mais a necessidade de matérias que visassem “desestabilizar a reflexão crítica, provocando um esvaziamento de conteúdo”, segundo as palavras do professor Reginaldo Dias, na matéria do site Globo.com, que pode ser lida aqui.

Essa vontade de anular o “mal” do nacionalismo na construção de um ser crítico gerou um atrofiamento da visão patriótica do povo brasileiro com seus símbolos nacionais. Principalmente os jovens, já não cantavam mais o hino, não admiravam a bandeira, muito menos sabiam retratar com qualidade os feitos de personalidades significativas na história do país.

E aqui retornamos à frase apresentada no começo deste artigo: “A melhor forma de manipulação política é alterar a história”. Ora, o ser humano é, sem dúvida, um ser simbólico com a óbvia demanda em relacionar suas necessidades através de símbolos que o represente. Uma nação sem símbolos e sem contexto histórico torna-se frágil em sua soberania. Enfim… um prato cheio para a internacional comunista que sempre combateu os sentimentos nacionalistas, em favor de um objetivo comum: implantar sua ideologia acima de qualquer relação territorial.

Porém, para não ser injusto com as obviedades históricas, vale destacar que, após a morte de Lênin, em 1924, seu sucessor (não por vontade do líder comunista e nem por sequência hierárquica) foi Iósef Stalin. Este, pouco a pouco, introduziu o conceito do nacional socialismo, mesmo antes do partido nazista alemão. Stalin percebeu que envolver todos em uma bandeira territorial seria bem mais producente e efetivo do que um movimento difuso, baseado na mão de obra trabalhadora de todo o planeta.

Mas vá lá… a União Soviética caiu, o Pacto de Varsóvia acabou, mas a internacional comunista continua sorrateira e cheia de tentáculos, enfraquecendo soberanias e destruindo símbolos nacionais em prol do grande projeto comunista, apregoado por figuras como Liev Trostky.

Neste sentido, vemos um Brasil que reforça os símbolos naturais e suas belezas, mas se esquece das grandes referências humanas que, por meio delas, firmaram, com sangue e suor, as linhas que delimitam nossa nação. Plantas e árvores são inspiradoras e essenciais, mas não constroem nações por si só. Homens constroem nações!

Assim, o conservador Machado de Assis foi colocado nas sombras da literatura brasileira. O formidável compositor Carlos Gomes (apadrinhado de Dom Pedro II) também caiu no esquecimento. José Bonifácio e sua incrível relação de amor, honra e dedicação à pátria perdeu-se nas páginas ignoradas dos professores de coque samurai. Princesa Isabel e a liberdade por ela assinada para a sofrida população negra ganhou, em nossos tempos, a ingratidão de não a considerar uma grande mulher. Dom Pedro I é hoje visto apenas como um fanfarrão tarado; seu próprio pai, Dom João VI, reconfigurado na imagem de um obeso bonachão e incompetente. Um 22 de abril (descobrimento do Brasil) que lhe foi arrancado a justa função de importante feriado nacional.

Entretendo, prezados leitores, mesmo com todas as investidas  na tentativa de extirpar de nós o amor por nossos símbolos, novamente aqui estamos lotando as ruas de verde e amarelo, gritando o hino nacional preso na garganta ao longo de tantos anos!

Faz-se necessário retomar as rédeas da história que nos foi roubada, dos símbolos que tentaram apagar e reforçar nossas potencialidades. Desde um agronegócio sólido, até mesmo aos feitos esportivos que também não podem cair na demonização da tão falada “cultura alienada”.

Aqui, cabe uma reflexão. É natural que, com uma ruptura, como aconteceu em 1985 (Diretas Já) ou em 2013 (manifestações contra o aumento da passagem), haja uma negação com o período anterior. Nesse sentido, os anos em que a sociedade brasileira permaneceu anestesiada, dando vazão à sua nacionalidade apenas pelo futebol e o carnaval, possa gerar uma antipatia de uma certa parte da população, dizendo que o futebol é apenas um esporte idiota e alienado. Ora, talvez alguns que leiam essa matéria até podem não gostar do esporte, mas vamos abandonar essa síndrome do “vira lata” e aceitar que o Brasil é o mais vitorioso dos países no esporte mais praticado e desejado do planeta. Isso não é pouca coisa.

Existe espaço para creditar a astrônoma Brasileira Duilia de Melo (referência científica na área), ou as seis medalhas conquistadas pelo Brasil nas Olimpíadas Internacionais de Matemática em 2020, ou do inventor Carlos Paz de Araújo (professor da Universidade do Colorado e criador das memórias de acesso aleatório ferroelétricas, utilizadas em aparelhos de smartphones no mundo inteiro). Porém, há espaço também para gritar, com os pulmões inflados, um gol da seleção brasileira representando nosso país.

Muitos dirão: mas não temos Nobel! E de fato não temos. Aliás, o Brasil não tem muita coisa. Nesse ritmo, voltaremos ao exercício patético de nos diminuirmos a cada instante, mostrando o quão pequenos e tolos nós somos.

É importante ter o senso crítico necessário para exigir mudanças, apresentar os erros e acertos sem se distanciar do amor pela nossa terra. Não podemos mais confundir Governos com o conceito de Estado. O primeiro, perecível e sujeito às suscetibilidades do tempo. O segundo, baseado na força da terra e do sentido de pertença.

Contudo, dia chegará em que alguém olhará para estas terras sem símbolos, sem paixões, sem títulos honoríficos e sem quem as defenda e dirá: “Está aí um lugar que vale a pena conquistar”.

Por isso, prezados amigos, nestes novos tempos, em que o patriotismo começa a ser reconfigurado, sugiro que tomemos, com equilíbrio e razão, a importância de nossos símbolos em nossas vidas. Sem arroubos extremistas que levaram aos absurdos das grandes guerras do século passado, nem o desprezo inconsequente de ignorar os valores da terra e do povo, desmerecendo a todo o tempo num ato viciado de dizer-se menos.

Pare de abaixar a cabeça quando disser que é brasileiro. Sem dúvida, um país com defeitos e muitas qualidades. Quer o lugar perfeito? Então sugiro que embarque num trem para a Terra do Nunca ou para Nárnia, onde vivem os ursinhos carinhosos e as fadas do socialismo, em uma união gostosa e utópica pela linda igualdade de todos que, obrigatoriamente, precisam pensar da mesma forma.

Agora, se deseja viver no mundo palpável, saiba que nascemos no Brasil e, digo como expatriado que sou, jamais… repito, jamais você terá a sensação de pertença que não seja o lugar onde o criou ou o recebeu como filho da terra. Este sentimento é raro e merece ser enaltecido.

Nos bons ventos que nos classificam como patriotas, recebam esses ares de intensas mudanças como uma forma de fortalecer seu sentido de pertença, seu amor por esta terra e dizer, sem medo, como sendo o Brasil a sua Pátria.

 

 

Adriano Gilberti, para Vida Destra, 28/07/2021.                                                              Sigam-me no Twitter, vamos debater o meu artigo! @adrianogilberti

 

Crédito da Imagem: Luiz Jacoby @LuizJacoby

 

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Adriano Gilberti – C.O da Startup Transcender Studios. Comunicólogo, Relações Públicas, Cineasta, escritor e roteirista com diversos trabalhos no cinema e teatro. Autor dos livros “Cartas para Palavra” e “Necas de Pitibiriba”. Indicado como melhor ator longa metragem 2010 com o filme "Bem Próximo do Mal" pelo prêmio Sesc/Sated. Sua dramaturgia Belatriz recebeu três indicações no prêmio Usiminas/Sinparq.