Prezados leitores:
Publicamos hoje esta tradução de artigo da imprensa internacional feita pela nossa colaboradora, a jornalista e tradutora Telma Matheus. Apreciem!
Por que Diana vive
A ‘Princesa do Povo’ foi tudo o que
Meghan Markle não é.
Fonte: Spiked online
Título original: Why Diana lives on
Link para a matéria original: aqui!
Publicado em 31 de agosto de 2022
Autora: Julie Burchill

Nada define mais a imortalidade de uma celebridade do que a sua morte – especialmente quando se trata de mulheres famosas, cuja vida é exposta para excitar o velho paladar masculino, ainda mais quando morrem jovens e belas. Esse derradeiro abaixar das cortinas oculta uma infinidade de pecados de omissão. A carreira de Marilyn Monroe estava em declínio quando ela morreu. Porém, com sua morte, ela recuperou seu lugar no topo do firmamento estrelado.
Há 25 anos, na data de hoje (31/8), Diana, Princesa de Wales, morria em Paris aos 36 anos de idade. O carro em que estava se espatifou no túnel da Pont de l’Alma, quando um motorista possivelmente bêbado acelerou para despistar os paparazzi que os perseguiam em motocicletas. Lembro de ouvir a notícia logo cedo pela manhã, e passei o fim de semana em estado de atordoamento, com o olhar fixo na carta que ela havia me enviado e que dizia – ‘Bem-vinda, Julie, à Festa da Princesa!’ Eu a amava muito e escrevi muitos artigos sobre ela. Mais tarde, eu ficaria profundamente irritada ao assistir na televisão ao Tony Blair descrevendo-a como ‘a Princesa do Povo’ – uma expressão criada por mim em 1992. Então, a primeira coisa que fiz na segunda-feira seguinte foi apresentar, ao meu agente, a ideia de um livro biográfico.
Embora o nível de emoção que principalmente as mulheres demonstraram ao pranteá-la (ainda que ridicularizadas principalmente pelos homens, muitos dos quais não veem nada de anormal em se encharcarem semanalmente durante um jogo em que dois grupos de milionários chutam uma bola) tenha arrefecido naturalmente ao longo de um quarto de século, Diana ainda permanece objeto de fascínio. Os espetáculos baseados em sua curta vida continuam a surgir – do sublime (The Crown, a quinta e última temporada da série em que Elizabeth Debicki protagoniza Diana) ao ridículo (Spencer, estrelado pela abominável Kristen Stewart). Depois, há os documentários – desde os respeitáveis (A Princesa, da HBO, que abriu o Festival de Cinema de Sundance este ano) até os sensacionalistas (Investigating Diana: Death in Paris, documentário em 4 partes do Canal 4). Às vezes, o interesse se sobrepõe ao surreal, como é o caso do horrível Diana: O Musical e do conto involuntariamente hilário, publicado no Telegraph na semana passada, no qual a romancista Rose Tremain imaginou a vida da princesa nos dias de hoje, caso ainda estivesse viva – convidada para o Strictly, tendo aulas de dança com o envelhecido John Travolta etc.
O que a sexagenária Diana estaria fazendo hoje? Seus detratores gostam de debochar dizendo que estaria relaxando no iate de algum milionário, mas nada indica que ela gostasse de playboys. Essa loira preferia cavalheiros, especialmente aqueles engajados em boas obras, e seus amigos mais próximos creem que ela só deu atenção ao Dodi Fayed para fazer ciúmes em seu ex, o cirurgião Hasnat Khan. Ela nunca foi uma dessas ricaças ociosas. Ainda adolescente, não aceitou ser debutante e trabalhou como faxineira, babá e professora de jardim-de-infância.
Em relação à AIDS, ela foi tão desbravadora com sua atitude pragmática (literalmente, em uma época em que se temia ser contaminado através do toque físico) que é provável que, hoje, estaria disposta a fazer campanha pela vacinação da Covid no mundo em desenvolvimento. Com seu coração gentil, talvez ela tivesse, em um primeiro momento, simpatizado com o movimento pelos direitos dos trans, ou seja, homens vestidos de mulher. Porém, seu amor pelas crianças a faria se revoltar com a ideia de submeter bebês a terapias hormonais e adolescentes a cirurgias mutiladoras.
Diana se tornou um ícone da moda, mas, quando desistiu de seus ‘belos’ patrocínios no final de sua vida (em determinado momento, ela estava no conselho de uma centena de instituições de caridade), ela disse: ‘Como posso patrocinar uma companhia de balé quando pessoas estão morrendo?’ Logo depois, ela leiloou seus vestidos mais fotografados, a fim de obter recursos financeiros para algumas poucas instituições de caridade que apoiava.
Diana não era Meghan. Em vez de ser tutelada pelo establishment liberal, ela foi perseguida por ele – lembre-se da conivência da BBC em brincar com seus piores medos, via Martin Bashir. Quando decidiu ‘invadir sua própria privacidade’, ela escolheu o respeitado jornalista Andrew Morton, que está para ela como [James] Boswell está para [Samuel] Johnson.* Markle escolheu Omid Scobie, da revista Heat, que a transformou em uma espécie de santa secular no chocantemente ruim Finding Freedom. Meghan parece não ter literalmente qualquer senso de humor e, como sempre é o caso dos mal-humorados, nunca ri de si mesma. Diana tinha bom humor e, com frequência, ria de si mesma.
*[N.T.: James Boswell, biógrafo e jurista escocês. Famoso por ter escrito a biografia do escritor inglês Samuel Johnson, que era seu amigo. Comumente considerada a maior biografia em língua inglesa.]
Diana nunca entendeu a realeza como simplesmente mais um tipo de celebridade. Ela trabalhou intensamente para cumprir seus deveres. E quando o conflito de interesses com a Família se acentuou demais, ela não fugiu. Em vez disso, foi expulsa pela família real, destituída de seu título e excluída das orações diárias da Igreja da Inglaterra. E ao contrário da Meghan “Dois Casamentos e Um Incêndio no Berçário” (a “filha única” com duas meias-irmãs), Diana mantinha uma boa relação com a verdade.
De modo mais crucial, com base na maneira como ele a tratou, Diana permanece como um alerta do porquê o Príncipe Charles não deveria ser rei, apesar de sua reabilitação acelerada nos últimos anos. Certamente não estou entre aqueles que acreditam que o adultério faz de alguém uma pessoa má (isso seria uma autoaversão), mas é óbvio que um homem que levou 35 anos para se casar com a mulher que amava não tem força de caráter nem bom senso. Adicione-se a isto o fato de que ele usou uma jovem ingênua como uma incubadora ambulante antes de abusar psicologicamente dela, quando retomou o caso com sua amante (‘Você não percebe que Diana está louca, louca, louca?’, ele gritou ao telefone, quando a rainha lhe pediu para ser paciente com sua jovem esposa deprimida). A ideia de que Charles cumprirá, de alguma forma, o papel de “unificador”, que um monarca deve desempenhar para participar da vida nacional, é risível.
Diana não se apresentava como feminista, mas se comportava como uma. Lá se vão vinte e cinco anos e a falecida princesa vive nos corações e mentes de seu povo, como um símbolo da resistência feminina. Espera-se que as mulheres se afastem docilmente, quando os homens se cansam delas. Mas Diana disse: ‘Lutarei até o fim, porque acredito que tenho um papel a cumprir’. A mulher de luto em cada casamento real, a noiva em cada funeral real e a esposa rejeitada em cada coroação… Diana ainda vive.
Julie Burchill é colunista na Spiked. Seu livro, Welcome To The Woke Trials: How #Identity Killed Progressive Politics, foi publicado pela Academia Press.
Traduzido por Telma Regina Matheus, para Vida Destra, 06/09/2022. Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail [email protected] ou Twitter @TRMatheus
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Amava a Princesa Diana ! Ela vive com certeza! Foi única.
Uma personalidade ímpar que mostrou ao mundo humildade, verdades e solidariedade. Saudades!!