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Por que é anticientífico forçar estudantes não vacinados a usar máscaras faciais de tecido
Fonte: The Federalist
Título original: Why Forcing Unvaccinated Students To Wear Cloth Masks Is Anti-Science
Link para a matéria original: aqui!
Publicado em 18 de Agosto de 2021
Autores: Andrew Bostom, Gerard Bradley, Aaron Kheriaty e Harvey Risch
Para começo de conversa, a imunidade dos que se recuperaram da COVID e sua capacidade de transmitir o vírus não são comprovadamente diferentes daqueles que foram vacinados.
Quase 600 faculdades e universidades tornaram obrigatória a vacinação contra COVID-19 para estudantes que terão aulas presenciais neste semestre. A maioria dessas escolas também exigiu a vacinação de professores e funcionários. Todas elas dizem que o objetivo é garantir um ambiente “seguro” nos campi. A Universidade de Notre Dame, por exemplo, declarou, em uma recente “Atualização de política”, que sua “prioridade mais alta” é “a saúde, a segurança e o bem-estar de todos os membros de sua comunidade”.
A maioria dessas escolas permite exceções por motivos médicos ou religiosos. Juntamente com esse grupo, a população de cada campus incluirá aqueles que rejeitam a vacinação por outras razões. Em cada campus haverá uma quantidade significativa de professores, funcionários e alunos não vacinados no reinício das aulas. O que acontecerá com eles?
Onde os não vacinados serão autorizados a permanecer no campus, eles estarão sujeitos a um regime de ônus discriminatórios. Esses protocolos podem incluir distanciamento social ou repetidos testes de fiscalização, às vezes, com custos consideráveis para o estudante. E certamente incluirão o uso de máscaras faciais em todos os espaços internos e, em determinadas circunstâncias, nos externos.
Atualmente, devido à variante delta, as exigências de uso de máscara facial para os vacinados são inconstantes. Como estão surgindo mais casos da doença entre os totalmente vacinados, a recomendação mais recente do CDC inclui o uso de máscara facial em ambientes internos mesmo para os vacinados, mas isto pode continuar mudando de acordo com a flutuação dos casos.
Muitos campi provavelmente sujeitarão os não vacinados a exigências rígidas de uso de máscara faciais, e diferentes das impostas aos vacinados. A Notre Dame, por exemplo, deixou opcional o uso da máscara facial em espaços internos para quem é vacinado. Mas “professores, funcionários e alunos não vacinados devem usá-la em ambientes internos, exceto quando estiverem em sala privativa”.
Há evidência científica relevante que apoie esse tratamento discrepante aos residentes e trabalhadores não vacinados de um campus? Certamente não, como explicaremos a seguir.
Não vacinados com imunidade natural à COVID
Para começo de conversa, muitos dos alunos, funcionários e professores não vacinados já tiveram COVID. Sua imunidade ao vírus e sua capacidade de transmiti-lo não são comprovadamente diferentes dos que se vacinaram. A evidência científica estabelece que a imunidade natural presente nos sobreviventes da COVID é, no mínimo, tão eficaz e durável quanto qualquer coisa que as vacinas forneçam.
Este recente estudo do Centro de Controle de Doenças, sobre uma variante gama surgida entre mineiros, por exemplo, mostrou que o índice de contaminação foi de 60% entre os totalmente vacinados e de 75% entre os não vacinados sem histórico de infecção. Comparativamente, houve zero caso entre pessoas anteriormente infectadas pela COVID.
Embora a eficácia da vacina aparentemente tenha diminuído com o tempo e devido ao surgimento de novas variantes, não observamos declínio da imunidade natural ao longo do tempo. Outro estudo recente do CDC, que abordou o surgimento de casos em Massachusetts (em julho), constatou que 74% dos casos de COVID ocorreram em pessoas totalmente vacinadas. Comparativamente, não há relatórios recentes sobre o surgimento de casos entre aqueles com imunidade natural.
Contudo, nenhum dos protocolos de exceção das faculdades, os quais examinamos, contempla exceções baseadas em infecção anterior. Ainda que um regime discriminatório para uso de máscara facial objetive evitar que sobreviventes não vacinados da COVID peguem a doença, tal regime é, literalmente, inútil – especialmente porque evidências crescentes, incluindo os estudos acima mencionados, sugerem que a duração da imunidade obtida com as vacinas é consideravelmente menor do que a da imunidade natural.
Embora a vacinação de pacientes recuperados da COVID possa produzir um aumento de anticorpos, não há evidência epidemiológica de que isto melhore resultados clínicos relevantes, como a reinfecção sintomática. Os dados também mostram que aqueles que têm essa imunidade natural não representam maior risco de transmissão do vírus (para outras pessoas) do que os indivíduos que foram vacinados e adquiriram infecções relevantes.
De qualquer maneira, vacinar pessoas recuperadas da COVID não acrescenta nada em termos de valor clínico. E, ainda, discriminar os não vacinados que se recuperaram da COVID, fazendo-os usar máscaras faciais, é inútil do ponto de vista científico.
Não vacinados sem imunidade natural
Entretanto, nem todas as pessoas não vacinadas nos campi serão naturalmente imunes. Pode-se rapidamente chegar à conclusão de que é justificável exigir que essas pessoas usem máscaras faciais, pois isso protegeria os não vacinados. Essa justificativa não se sustenta por dois motivos.
Um é a evidência científica de que máscaras faciais não evitam a transmissão comunitária de vírus respiratórios. Entre 2008 e 2020, 12 estudos randomizados consecutivos e controlados, direcionados ao uso comunitário de máscaras faciais (aqui, aqui e aqui) e realizados com aproximadamente 18.000 pessoas de todo o mundo, estabeleceram que essa intervenção não reduz a transmissão de vírus respiratório na comunidade, aí incluída a transmissão da COVID-19.
O segundo motivo é que o desejo de proteger da infecção o usuário de máscara facial em nada colabora para justificar a discriminação: enquanto a reinfecção dos naturalmente imunes é extremamente rara (Israel recentemente relatou que 53% dos novos casos ocorreram em pessoas vacinadas e 43% em pessoas não vacinadas, ao passo que apenas 1% dos casos ocorreu em indivíduos que já haviam se recuperado do coronavírus), tanto vacinados quanto não vacinados estão sujeitos à infecção por COVID.
A reinfecção dos naturalmente imunes, comparativamente, é muito mais rara do que a dos que foram vacinados. Outro estudo recente do Ministério da Saúde de Israel analisou um total de 835.792 israelenses que se recuperaram do vírus. As 72 ocorrências de reinfecção relatadas significaram 0,0086% das pessoas que já haviam sido infectadas pela COVID.
Em comparação, os israelenses que foram vacinados tiveram 6,72 vezes mais probabilidade de serem infectados após a vacina do que após a infecção natural, sendo que, na última onda, algo superior a 3.000 dos 5.193.499 (ou 0,0578%) israelenses vacinados se reinfectaram. Infelizmente, o surgimento de infecções entre os vacinados está se tornando cada vez mais comum, à medida que descobrimos que, depois de administradas, a eficácia das vacinas diminui sensivelmente com o tempo.
Além disso, as vacinas nunca prometeram imunidade à infecção. Tudo o que seus produtores disseram foi que elas impediriam que a maioria das pessoas infectadas desenvolvessem sintomas graves. E isto é tudo o que as evidências mostram que elas fazem. Conforme já mencionado, a imunidade natural parece oferecer proteção mais robusta e mais duradoura.
Lógicas equivocadas para obrigar os não vacinados ao uso de máscaras faciais
Evidentemente, pode-se dizer que os não vacinados correm um grande risco de desenvolver um caso sintomático grave de COVID. A maneira de proteger os não vacinados contra o risco de doenças graves relacionadas à COVID, contudo, não é fazendo-os usar máscara facial. O correto seria obrigar todos os demais ao uso de máscara facial para que os não vacinados não adoecessem pelos germes que, transportados pelo ar, são trazidos por outras pessoas – um ônus que as escolas de nível superior acertadamente não impõem.
Outra possível justificativa para as regras discriminatórias de uso de máscaras faciais nas faculdades é que elas protegem a maioria dos vacinados contra os riscos apresentados pela minoria não vacinada. Lembre-se, porém, que agora se sabe que os vacinados correm o risco de contrair o vírus de outras pessoas e de transmiti-lo para outros.
O diretor do CDC reconheceu recentemente, ao comentar sobre o crescente número de infecções entre os vacinados, que as pessoas vacinadas afetadas por infecções da variante delta carregam o vírus no nariz e na garganta tal e qual as pessoas não vacinadas, podendo disseminá-lo da mesma maneira. Com o aumento das ocorrências de infecção e o declínio da eficácia da vacina ao longo do tempo, indivíduos da maioria vacinada (que não usa máscara facial) podem significar um risco maior de infecção entre si do que a minoria de pessoas não vacinadas, a começar pelo fato de que o número de vacinados é muito maior nos campi. Assim, para garantir segurança e considerando a lógica de redução de risco, faria sentido exigir que muito mais pessoas usassem máscaras faciais.
A última justificativa possível para essas regras que impõem máscaras faciais aos não vacinados é, talvez, paradoxal: proteger os não vacinados uns dos outros, no campus. Se fosse verdade que as máscaras faciais impedem a transmissão da doença, obrigá-los a usá-las realmente diminuiria a incidência da infecção e, por sua vez, as graves consequências.
Mas, mesmo supondo que as máscaras faciais funcionem dessa maneira, isto não justifica as regras discriminatórias no campus. Lembre-se, não estamos falando de segregar os não vacinados, como se pudéssemos imaginá-los interagindo apenas entre si, com todos usando máscaras faciais. Ao contrário. As faculdades exigem máscaras faciais dos não vacinados precisamente para que possam seguir normalmente com suas atribuições, misturando-se à vontade com todos os demais no campus. Nessas circunstâncias, os não vacinados correm o risco de se infectar pela maioria de vacinados que, sem máscara e talvez infectados, os encontrem no campus.
Considere, por exemplo, o estudo do CDC sobre o surgimento de infecções em Massachusetts, em julho, quando 74% dos infectados tinham sido totalmente vacinados. Exigir que a minoria de frequentadores não vacinados do campus use máscaras faciais em tal situação faz muto menos diferença do que exigir que a maioria as use. Se proteger os não vacinados uns dos outros é a lógica, então, a maioria deveria ser obrigada a usar máscaras faciais também.
Por que não exigir máscaras faciais apenas para fins de segurança?
Evidentemente, alguém pode dizer que, de qualquer maneira, é bom fazer com que os não vacinados usem máscaras faciais. Quem sabe? A ciência está sempre “evoluindo”, dizem alguns. Então, vá em frente e exija isso. Por que não?
Esta resposta casual é incorreta por diversas considerações importantes. Ela ignora a verdade de que as regras atuais de uso de máscara facial são arbitrariamente discriminatórias, e isto está simplesmente errado. Além de tudo, as máscaras faciais são onerosas e algumas evidências sugerem que podem prejudicar as pessoas social e psicologicamente. Para muitos, o uso delas é irritante. Para outros, são clinicamente contraindicadas. Em geral, atrapalham a conversa e reduzem a qualidade das interações sociais.
Mais importante, os que usarem máscaras no campus, neste semestre, serão marcados com uma letra “A” vermelha, como se fossem pessoas que – de acordo com as implicações negativas de tudo que as faculdades alegam para a obrigatoriedade de máscaras faciais para eles – escolheram não tornar “altamente prioritárias a saúde, a segurança e o bem-estar de todos os membros daquela comunidade”. Os que usarem máscaras faciais, em outras palavras, se destacarão como impuros e perigosos – quando, de acordo com fatos científicos, certamente não são nada disso.
É claro que não sugerimos que as faculdades devam proibir o uso de máscaras faciais. Reconhecemos que muitas pessoas se sentem mais confortáveis ou seguras se as usarem. Sugerimos que as escolas digam a essas pessoas que são bem-vindas se quiserem usá-las, desde que também definam que o uso de máscaras faciais não é obrigatório.
Isto permite que vacinados e não vacinados, que ainda estão preocupados com a infecção, optem pelo uso de máscara facial. Ao tornar essa questão uma escolha pessoal, as faculdades poderão acomodar todos e, ao mesmo tempo, retirar dos protocolos o estigma injusto e a discriminação atualmente presentes no semestre escolar.
*Andrew Bostom, MD, MS, é professor associado de Medicina Familiar (pesquisa) da Warren Alpert Medical School of Brown University.
*Gerard V. Bradley, JD, é professor de direito na University of Notre Dame.
*Aaron Kheriaty, MD, é professor de psiquiatria da University of California na Irvine School of Medicine e diretor do Medical Ethics Program na UCI Health.
*Harvey A. Risch, MD, PhD, é professor de epidemiologia na Yale School of Public Health.
Traduzido por Telma Regina Matheus, para Vida Destra, 28/08/2021. Faça uma cotação e contrate meus trabalhos através do e-mail mtelmaregina@gmail.com ou Twitter @TRMatheus
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