A seca que persiste no Rio Grande do Sul continua limitando o potencial produtivo da soja no Estado e, caso as chuvas prometidas para fevereiro não se confirmem, o Brasil corre o risco de não conseguir atingir o recorde de colheita acima de 150 milhões de toneladas amplamente esperado pelo mercado para a safra 2022/23, conforme membros do setor ouvidos pela Reuters.
O governo federal estima produção de 152,88 milhões de toneladas do grão para esta temporada, alta de 21,8% após a quebra ocorrida justamente por estiagem no Sul no ano passado. Na perspectiva da estatal Conab, a safra gaúcha estaria em 18,98 milhões de toneladas, número acima do que preveem produtores e analistas.
No cenário mais pessimista, a Associação dos Produtores de Soja do Estado do Rio Grande de Sul (Aprosoja-RS) já trabalha com a possibilidade de uma quebra que resultaria em uma colheita em torno de 12,6 milhões de toneladas.
“Nós estimamos 40% de perda sobre o potencial inicial de 21 milhões de toneladas”, disse à Reuters o vice-presidente da entidade gaúcha, Décio Teixeira.
Ele lembrou que na temporada anterior a produção do Estado não chegou a 10 milhões de toneladas de soja.
“A diferença é que ano passado ficamos com mais de 60 dias sem chuva. Esse ano a chuva veio, mas de maneira muito esparsa e em doses homeopáticas”, afirmou.
“Estamos contando ainda com a chuva prometida”, acrescentou ao dizer que ainda há muita incerteza até o final da safra atual.
A soja que foi plantada mais cedo no Rio Grande do Sul é que a “não tem mais reversão”, disse ele, mas as demais lavouras que estão em desenvolvimento ainda podem se recuperar.
Do município de Carazinho (RS), o produtor rural e diretor da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) Paulo Roberto Vargas contou que nesta temporada há agricultores que vão colher bem e outros que terão resultados péssimos. No ciclo anterior, o desempenho foi majoritariamente negativo para todos.
“As melhores lavouras estão nas regiões mais para o nordeste do Estado e norte, e as piores são parte da região norte, em direção ao oeste, para onde só vai piorando”, disse ele.
Em sua região, que fica no planalto gaúcho, a produtividade do milho está entre 50 e 60 sacas por hectare, contra até 200 sacas/hectare em anos de safra cheia. Na soja, a média atual é de 40 sacas/hectare, versus 70 sacas em anos positivos.
A maior safra de soja já colhida no Brasil foi em 2021/22, com 139,4 milhões de toneladas, segundo dados da Conab.
MERCADO
Entre os especialistas as projeções ainda são diversas em relação ao tamanho da quebra no Rio Grande do Sul, mas já há quem descarte uma produção nacional acima a 150 milhões de toneladas, embora considerem o número de 12,6 milhões de toneladas da Aprosoja-RS para o Rio Grande do Sul baixa demais.
“Estamos em processo de revisão de estimativa. O RS certamente terá um corte importante nessa revisão, mas acredito que não tão grande a ponto de chegarmos ao número da Aprosoja-RS, não por enquanto, pelo menos”, disse a analista da AgRural Daniele Siqueira.
“Acredito que podemos ficar com a produção nacional em torno de 150 milhões de toneladas ou ligeiramente abaixo disso.”
O analista da Safras & Mercado Luiz Fernando Roque afirmou que ainda trabalha com uma expectativa mais parecida com a da Conab para a produção gaúcha de soja, mas “em se confirmando perdas maiores, é possível que tenhamos uma safra inferior a 150 milhões” no país.
O diretor da AgResource, Raphael Mandarino, disse que todos os cenários são possíveis, mas ressaltou que o incremento de produtividade nos demais Estados produtores pode compensar o Rio Grande do Sul, evitando a colheita de uma safra nacional abaixo de 150 milhões.
Já o sócio da Cogo, Carlos Cogo, trabalha com quebra de 35% para a produtividade do Rio Grande do Sul, caindo de 21,6 milhões potenciais para 14 milhões em 2022/23.
Em um melhor cenário entre os analistas ouvidos pela Reuters, o especialista da Céleres Enilson Nogueira disse que ainda projeta a safra nacional em 154 milhões de toneladas, com 17-18 milhões vindos dos produtores gaúchos.
*Esta notícia pode ser atualizada a qualquer momento
*Fontes: Reuters e Investing
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